segunda-feira, 11 de julho de 2011

Uma outra segunda-feia

Sim, não há dúvidas. Desde a calçada já havia reparado e você também que eles estão juntos. Tudo bem que o de nariz maior era um tanto quanto safado, mas hoje em dia que casal não passa por essa situação, não é mesmo? Ainda bem que hoje não era de Big Brother, ou seja, sem câmeras como é de costume quando fazemos esse trajeto.

E eu imaginei que hoje iria fazer o melhor estilo figurante do Max Gheringher, mas que nada. Aquela líder comunitária do Fantástico é dedicada. A que vi tinha que lutar com uma impressora matricial - isso me fez sentir na quarta série quando o colégio abandonou os mimeógrafos- e ainda por cima tinha dificuldade em retirar as palavras "primeiro", "segundo" e "terceiro" do texto. E olha que os dois advogados tinham dito a ela para fazê-lo. Enfim, coisas do Estado.

A galeria que leva o nome de shopping - se bem que surpreende pelo tamanho mesmo- tinha de fato muita coisa legal, incluindo a camisa colorida, o abajur anos 80 e o vendedor prateado. Tudo bem que sua saída de escape era individual, mas foi uma volta divertida, mesmo que andando por vários quarteirões, coisa que você não é muito chegado. Mas foi por uma boa causa.

E ai na lojinha você lidando com sua capacidade de sociabilidade e ao mesmo timidez e eu lidando com meu saturno de 1, pinta de reverendo como me disse alguém certa vez. Queria ser mais tranquilo como as meninas que entraram ali depois, mas sabe como é, quanto maior o desejo, maior a repressão.

Hei de concordar que se o vendedor fosse feio e/ou hetero tudo passaria batido. Não era o caso. E bem que reparei o nariz dele em nossa direção quando víamos os dvds. Ele estava doido querendo conferir quais titúlos escolheríamos. Sim, ele queria uma confirmação do nosso gosto, enquanto aquela menina ficava no computador vendo "As Mães de Chico Xavier". Não seria interessante se ela ao invés de estar ali estivesse numa sessão de mesa branca e deixasse a de mesa vermelha - tal como na parede da fachada do prédio adoravelmente vulgar- por nossa conta?

Tive dificuldade de entender, no início como funcionava aquele dispositivo. Até o vendedor tentou explica, mas a provável falta dele de intimidade em certas áreas pode ter deixado-o tímido ou mesmo ignorante naquele assunto. Não importa, a presença dele era desconcertante, a ponto de termos que apelar para chocolates (aliás como era chata aquela sistah falando tudo de forma mecãnica, né?) depois dessa experiência e você já devidamente equipado.

Enfim, foi difícil te dizer essas palavras para sintetizar o dia, mas sabe como são as nossas experiências, se fossem representadas na tela ou no palco seriam muito mais malucas.

domingo, 10 de julho de 2011

Sábados Animados

I)

Ele começa na sexta quase como um "shabat". Ela recebe uma ligação. É a senhoria e o contrato de aluguel termina no dia seguinte. Toma uma decisâo: estou indo para ai mais tarde. Não conhece sequer a inquilina e acha que ela não vai incomodá-la, mesmo que passando a madrugada arrumando caixas para um suposto novo inquilino.

Quebra de regras e Berlusconi, naquele momento é um anjo perto dela, a Porcina de Acari.

Como Judas toma sopa com aqueles que ela vai querer depois ver pelas costas. Se surpreende, mas a inquilina resolve dormir em outro lugar na mesma rua e entrega-lhe as chaves e duas notas de despesas extras. Isso segue sem reclamação, e temos uma noite com morango, "A Origem" e chantilly. Morango surpreendente que julgamos estragados, pela aparência do mercado onde fora vendido.

Dia seguinte, bem cedo a nossa Porcina está a 1000 por hora e importuna aqueles com quem ela teve a que seria sua "última ceia em Araruama". Exige, está pilhada e não quer lá muito papo. Aqueles cristãos resolvem dar a cara para bater porque no fundo a merda estava para acontecer. E aconteceu:

O futuro inquilino reclama dos interruptores retirados. Não há mais negócio. Sorte a dele que tudo fora de boca. Furiosa ela vai embora com o caminhão de mudança, gasto desnecessário e o incidente que alegrou a todos que se surpreenderam no dia anterior com o "estou indo dormir ai".

No dia seguinte descobre-se que não era futuro inquilino, mas futuro propietário. A merda era maior, não havia promessa de compra e venda. restou a proprietária: uma casa vazia, um negócio desfeito, o não voltar tão breve e muito, mais muito Mi Mi Mi!

II)

É aquele impacto de sempre de quem sai da roça, mesmo que semanalmente, para a capital. E aquele monte de gente, aumenta mais a beleza. Lugares outrora familiares continuam familiares com uma dose de maravilhoso estranhamento. Percebe-se melhor a beleza das coisas.

Quebra-se o protocolo, vai-se ao shopping e mais impactante: há compras. Talvez é a necessidade também de estar bonito, pois quem olha quer ser visto. E a frase de Dillah Dilluz, dita no remorso do amigo pelo gasto, pode-se ter uma melhor ideia: "beleza não é só uma dádiva divina, mas um direito que me assiste".

Volta para o setting inicial. Não gostamos de ônibus quadrados, mas resolvemos pegar aquele. O de rosto quadrado senta perto e pode demonstrar que nem tudo no mundo é quadrado. O corpo é feito de curvas assim como os interesses geológicos. O que quebra é o Efeito Garnier, mas o olhar e ser olhado vale a viagem.

Pausa, o amigo tem que cuidadar de si. É o direito que lhe assiste. Nessa espera com cerveja no bar na beira da calçada com aquele jogo horroroso, um reencontro. Um que era muito querido com alguém que se levantava suspeitas no meu relato de Gaydar danificado, morreram de vez ali.

Mais mais mais cervejas. O toque camarada na perna, o afastamento histérico. Depois o braço na cadeira e a retirada desconfiada. A volta do amigo e os papos amenos e mais uma vez teses são quebradas; a do não-quadrado do corpo e que, sim, é possível haver curvas em um corpo branco. O amigo nota a evolução dos fatos escondidos sob o cinza de uma bela tarde azul de sábado. Inverno carioca.

Na despedida ficamos a esperar o que acontecerá daqui para frente. Que barreiras ainda precisam cair. Por enquanto deixemos tudo nestes sábados animados.

O Retorno do Homem Parede


Sou um homem de vários livros incompletos. Um deles se chamaria "O Retorno..." no qual passageiros de um avião sobrevivem a um acidente e cada um deles volta para suas vidas comuns após um tempo terem sido dado como mortos. Não, eu não vi "lost" ou coisa do tipo. O que me me fez ter a ideia fixa nesse texto nunca escrito foi debochar das caricaturas que cada personagem representaria. Talvez eu pegasse alguns tipos que inventei e tem pequenas biografias na minha agenda de 1997, quando não existiam blogs perdidos como os vários que tenho.

Hoje, meio sem vontade de digitar pensei no "Retorno do Homem Parede". E agora penso: o que aconteceria na vida de um homem que nunca se dignou a perceber o que ele mesmo sente e ao mesmo tempo nunca deu conta do que as pessoas que o cerca sentia? Será que essas pessoas teriam relevância? A categoria "amigo" seria um mero enfeite para estar junto e não compartilhar uma experiência mais intensa?

Leio o perfil de alguém que gosta de extremos, do intenso. Sou do tipo que transita entre o se achar mediano - especialmente do ponto de vista moral - nulo ou por vezes original. Talvez meu tipo, a minha própria caricatura, seja a possibilidade de não andar somente nos extremos ou na mediana, mas me perder em todos os infinitos pontos de uma reta que não existe: a vida é curva e tem, segundo os físicos, 11 dimensões.

Nesses caminhos todos que não é reto me deparo com a parede. E essa personagem, esteja eu me inspirando na vida real ou não, me coloca em contato com a minha própria parede. Alguém muito querido me dá uma mensagem dupla "manda se foder" ou "deixa pra lá, o homem-parede tem seu tempo".

A melhor forma de quebrar com o Homem-Parede externo foi descobrir o que há dentro de mim. Abrir uma brecha para "que homem quero para mim" e isso foi fundamental. As vigas vão se enferrujando por dentro, porque a realidade é exposta ao ar, oxigena e corrói e assim as pilastras, os muros vão se derrubando. Descobri o caminho e não a resposta.

Diferente do texto que eu possa produzir a caricatura não existe o tempo todo e nem toda ação, personagens, cenários desfechos serão definidos por mim. O que há são possibilidade e consciente estou de que para elas seguirem, a minha decisão é necessária.

Descanse em paz, Homem-Parede.