quinta-feira, 7 de maio de 2015

Entulho

As coisas na internet vão mudando. Se há um pouco mais de 10 anos (vou colocar 15 porque usei o Napster) baixar músicas era uma novidade, hoje há serviços como os do Spotify que permitem ouvir música online.

Eis que estou usando o Ubuntu no notebook, um sistema operacional Linux, e nele, para poder instalar o dito programa exige uma certa ginástica. Daí peguei meu hd externo antigo, com músicas que tenho desde 2005 (presumo) e pus no notebook. Daí ao abrir o programa de reprodução de músicas, o rhythmbox, que tenho mais de 4000 músicas de 521 artistas. 

Devo ter ouvido todos. Alguns deles na base do "ouvi uma vez e acabou". E é bom eu lembrar de que não foi nem por não gostar da música, mas na avalanche de informações que chegam, algumas passam realmente batido.

Por outro lado existem álbuns que escuto sempre. Tanto de bandas e cantores que eu já escutava antes, como coisas que foram aparecendo ao longo desses 10 anos. Isso acontece quando um trabalho realmente me cativa.

Daí me lembro de uma entrevista do diretor de cinema e TV Fernando Meirelles que dizia o quanto tinha de arquivos digitais entulhados em sua produtora, diferente da época em que fazer cinema exigia um cuidado maior na gravação, pelo preço dos rolos dos filmes. 

Experiência parecida por exemplo com tirar foto com câmera com filme e a digital, que permite que se tire várias fotos de uma mesma cena.

É humanamente impossível poder ouvir todas as músicas com a mesma frequência, ver todas as fotos ou ler todos aqueles livros baixados para o Kindle. E isso não é um discurso contra a era digital. Eu realmente acho ótimo a facilidade- ainda que não para todos- que esses serviços trazem. Mas em meio a esse comportamento de querer mais e mais e mais achando que vamos dar conta de toda essa angústia de poder ter fotos de todos os passeios, músicas de trocentos artistas ou todos os livros, pode levar pra uma espécie de ansiedade desnecessária.

Não conseguirei ler todos os livros, ouvir todas as músicas, visitar todos os lugares e ter fotos deles, consumir todo tipo de comida e roupa e por aí vai. Acho que o que a visão ecológica traz em relação com o meio ambiente para nós tem muito a dizer também com o que temos para o nosso tempo livre, seja como forma de termos conhecimento ou distração. Se as coisas forem aproveitadas de uma forma mais tranquila e com a consciência dessa impossibilidade, tem-se resultados melhores.

Se não se pode consumir tudo, que pelo menos aproveitemos da melhor forma. Com as facilidades que hoje existem.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Respirar e revidar

Existem vezes em que alguém pode ser atacado em um aspecto extremamente íntimo e delicado. Ou não necessariamente sofrer um ataque, mas sentir as coisas dessa forma. E aí se apresentam algumas possibilidades:

1. Revidar imediatamente

2. Respirar

2.1 Respirar e assumir um comportamento ressentido: tempo mostrará quem tá certo, o que é da pessoa está guardado. Pode esperar, sua hora vai chegar.

2.2 Respirar e partir para uma conversa madura, um diálogo com a pessoa explicando todos os pontos.

2.3 Respirar e fazer algumas perguntas:

2.3.1 Vai fazer diferença?
2.3.2 Por que é necessário fazer isso?
2.3.3 O que se espera da relação em questão?

3. Nenhuma das anteriores

Enfim. A liquidificação tem seus momentos uó, como um grande esquema de auto-ajuda, quando na verdade, a melhor resposta é inexistente.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Dance, dance, dance!

Quando pensei no título desse texto, me veio à cabeça o "dance, dance, dance!" do hit "Strike it up" do Black Box. Interessante que me lembro de que no clipe aparecia uma cantora, quando na verdade a voz era da Martha Walsh. Parece que isso foi revelado rapidinho porque na época tinha estourado o escândalo do Milli Vanilli.

Naqueles anos, eu entrando na adolescência, eu comecei aos poucos construindo um gosto musical mais identitário, digamos assim. É diferente da infância quando os gostos parecem mais permeáveis, e eu era aquele tipo que detestava as músicas infantis, em sua maioria. Exceto, talvez, pelo K-7 que eu tinha da "Arca de Noé 2" da BMG/Ariola com as músicas do Vinícius em especial para a Globo.

Lembro-me de meu primo passando férias em casa, ouvindo vários tipos de música, de Sinéad O'Connor à Guns n'Roses que tocava no rádio, passando pelo Bon Jovi. E ele dançava no meio da sala do ap pequeno em que morávamos com uma tremenda flexibilidade. Uma amiga dizia que ele se parecia com uma "minhoca com dor de barriga".

Depois lembro de mim no minúsculo corredor da casa ouvindo cds, que era novidade. Geralmente aos sábados. Era o tempo para dançar de forma desengonçada e ao mesmo tempo cantar as músicas. E como eram em inglês a maioria, torcia para a letra vir no encarte ou apelar para a revista "Letras Traduzidas" da Bizz, que estamos falando de uma época sem internet.

Indo para 2015: hoje eu estava ouvindo o novo CD do grupo francês Jupiter. As músicas me agradaram demais. E cá estava eu, nu, dançando no meio do quarto. E me dei conta da experiência incrível que é isso e como escrevi num poema curto que fiz há uns 17 anos: "dance (...) libertando a emoção que te impede voar".

Incrível porque em 2015 meu espaço é outro, É maior, É privado. Tem espelhos e pude fazer isso sem temer o ridículo. Ao mesmo tempo comecei a reparar mais os meus movimentos, partes do corpo que há tempos não reparava. E percebi que há tempos não dançava assim no quarto.

Hoje faz exatamente um ano que meu pai faleceu. E daí me dei conta de que dançar é uma forma de celebração. E não há razões para esconder isso. Aliás lembro me do jeito debochado que meu pai dançava ao ouvir as músicas que eu colocava, especialmente pelo bate-estaca. E como pude reencontrar de certa forma com uma parte de mim forjada lá atrás e perceber que hoje posso dançar e/ou cantar tanto as músicas que ouvia quando criança (que gosto) como daquele rapaz que via o primo dançando e dali foi construindo o próprio gosto musical. Solto, nu, sem se preocupar com amarras ou vergonhas.

Enfim, descobri o "enlevo, leve" que me permite voar.