domingo, 18 de julho de 2010

Preciosa


Passada a época do Oscar e todos os comentários sobre o filme Preciosa, de Lee Daniels, eu finalmente pude vê-lo e poderia colocar várias reflexões sobre esse excelente filme. No entanto, tentarei ser breve e chamar a atenção para Mary, personagem de Mo'Nique, vencedora do Oscar deste ano por este papel.

A personagem poderia resvalar em duas caricaturas: uma focada no individual como uma mãe megera, louca, psicopata fazendo suas maldades tal como uma bruxa dos contos de fada. Outra apelaria por um viés completamente determinista, dizendo que a personagem é produto do meio e não passa de uma vítima daquele contexto.

Na verdade Mary pode funcionar nos dois contextos e ao mesmo tempo nenhum deles. Sim, ela é louca, faz coisas que consideramos abjetas, monstruosas. Não entrarei em detalhes para não fazer spoiling. Por outro lado tanto ela quanto a filha estão ali naquele contexto violento em que talvez certos códigos poderia soar como naturais, internalizados então pelo medo que tanto ela quanto a flha sofrem por serem vítimas de violência.

Quando digo que a personagem é nenhum deles isso fica marcado pelo diálogo no fim do filme entre Mary e a assistente social Mr Weiss - vivida por Mariah Carey em excelente desempenho - na qual ela aponta a sua necessidade de manter aquele homem e transfere seu ódio para a filha. A filha que em um momento é a sua "Preciosa", fruto daquela paixão entre ela e o namorado se torna objeto de ódio por parte da mãe quando a filha é desejada pelo pai, nessa estranha e realista tragédia, uma versão atual do mito grego de Édipo. Ali está uma mulher longe da ideia da "boa selvagem corrompida puramente pela sociedade". O que se tem é que, mesmo pobre, ela é uma mulher de desejos e nesses desejos se mostra também a sua perversão.

Bem, resta agora esperar por Selma- do mesmo diretor - com estreia prevista para o ano que vem que trata da questão dos direitos civis nos anos 60 nos EUA. Robert e Niro está cotado para o papel de George Wallace, figura controversa na história estadunidense que merece atenção e uma personagem que, talvez, muito ator gostaria de fazer.

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