domingo, 23 de dezembro de 2007

Carta aberta para o Natal 2007


Então tá, está chegando o fim do ano e com ele o Natal. Época de alguns telefonemas – hoje mais raros com esse troço chamado Internet- dos cartões, das mensagens automáticas no orkut que são um inferno – com o perdão da má palavra para a época – para computadores de memória mais baixa e conexão mais lenta. Também vemos as decorações nas ruas, algumas suntuosas, outras de extremo mau gosto, da propaganda massiva na televisão, das promoções em shopping, de tumulto no calor tropical da terra brasilis nos locais de comércio popular e tudo o mais. Época daquela mesmice da Globo: especial da Xuxa, do Roberto Carlos, filmes “inéditos” que já saíram em DVD há 10 anos, do maldito Show da Virada e tudo o mais...e claro, época em que algumas pessoas decidem doar algo para os mais necessitados.



Natal para mim, quando criança sempre foi época de expectativa, em especial pelos presentes que eu iria ganhar. Claro, que tem todo aquele lance da minha formação católica como os presépios e meu pai assistindo à Missa do Galo na TV e tudo o mais. Todavia, o que interessava mesmo eram os presentes. Gosto dessa honestidade infantil que se perde com a hipocrisia que adquirimos e chamamos de maturidade.



Mais velho, comecei a me irritar contra os revoltados do natal. Gente que xinga e critica a data pelo seu apelo consumista, ou aqueles que simplesmente não gostam do natal. Achava que era uma revolta sem sentido, coisa de gente mal amada e que não tinha mais o que fazer...Mas hoje, com quase 30 tenho a impressão de que sou mais um desses revoltados.

Não sei o que acontece, mas esses dias me peguei muito estressado com a propaganda massiva na televisão e nas lojas nas ruas. Antigamente só se falava na data em dezembro. Hoje no começo de novembro já começam as chamadas promoções e todo o setor produtivo em polvorosa querendo render mais dinheiro no fim do ano....e o aniversariante da data cada vez mais esquecido, assim como o amor entre as pessoas de uma forma geral. Aliás, não foi o aniversariante do suposto 25 de dezembro – ele na verdade deve ter nascido em outro dia, mas a Santa Madre Igreja escolheu essa data pra coibir e ao mesmo tempo manter a familiaridade da data com a Saturnália, rito da colheita entre os povos não-cristianizados da Europa. – ele que introduziu a idéia do amor não a uma entidade abstrata, mas às pessoas amando e se respeitando umas às outras, aqui mesmo nesse espaço de vida terrena, tão breve e perene quanto os presentes e seus embrulhos?

Gostaria de aproveitar o momento para desejar a todos um Feliz Natal, independentemente de credo ou nível de satisfação ou revolta com a data. Como bom neurótico obsessivo auto-diagnosticado que sou, tenho uma predileção enorme por ritos. Então que cada um, a sua maneira, e acreditando em sua força pessoal – não, isso não é propaganda do livro “O Segredo”, até porque não sou a Ana Maria Braga – faça o seu próprio rito, seja em casa com suas famílias, ou na presença de amigos ou simplesmente sozinhos, aproveitando a data para reflexão, transformação e, sobretudo, que nos tornemos mais amorosos. Tenho ainda a estranha mania de acreditar na esperança, ainda que o senso crítico – isso que chamo de revolta-- esteja aguçado. A vida humana é algo tão ridículo quando comparada com a idade do planeta e o tamanho desse planeta é algo tão ínfimo quando comparado com o resto do universo. Então que aproveitemos bastante, enquanto ainda estamos por aqui.