sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Uma lição valiosa de 2010

Temer aqueles que têm uma relação obsessiva com a verdade, sinceridade esquecendo e escamoteando o que há de contraditório em si mesmo. Qual o problema disso?

Quando o que está escondido resolve irromper, ele vem da pior forma possível. E detona por terra qualquer imagem anterior que a pessoa criou.

Ideias de fim de ano

Corra Lola "Depois do jogo é antes do jogo."

Rita Lee "Sempre que uma coisa vai, sempre outra coisa vem."

Tio Bombom: Rapaz, você com 32 anos deveria se casar. Para ter alguém para estar junto com você na sua velhice.


Sorte do tio que eu temo muito o Estatuto do Idoso.

Gastronomia para esse ano

Queria muito neste fim de ano um churrasquinho de gralha azul com pinhão, com sorvete de iogurte da rua do Catete, cervejinha de Santa Cruz e um queijo de Volta Redonda.

0 66º post

Só para dizer que o recorde do primeiro ano de Liquididificador foi quebrado.

2010 como pessoa solteira

O final de 2009 marcou 10 anos em que resolvi "cair na vida". É engraçado como criamos estes marcos, considerando que a sexualidade está presente desde o momento em que somos concebidos. E no quesito orientação sexual, eu a reconheço desde os meus 3 anos de idade. Coincidência ou não foi quando aprendi a falar melhor e aprendi a ler e escrever em letra de forma.


2010 foi uma gangorra emocional/sexual. Não me refiro a quantidade de parceiros, mas à qualidade deles. As "malucas" como diz meu amigo.

Comecei com um "pseudo-romance" como a própria criatura se referiu ao nosso relacionamento. Ela resolveu sumir no meu aniversário. Estranha, muito estranha.

Passei o meio do ano com uma figura casada encantadora. Diante da minha recusa de compromisso ela sumiu. Tempos depois descubro, com outra figura, que ela repetia o mesmo discurso, como um script simples as mesmas coisas. O livro com "gosto de você" na assinatura permanece com a realidade desmentindo a tal frase.

Também tem as pessoas amáveis. Na lagoa de Iguaba aconteceu o encontro. Não o suficente para uma paixão, mas alguém agradável com quem é legal estar junto.

Tem aquela que sempre faz cu doce e no fim das contas você diz: quem não quer mais você, sou eu.

O lugar mais quente do Rio criou outra figura, inteligente, interessante com semelhanças e mesmo nome e profissão do pseudo-romântico. No entanto esta surtou mais cedo e, meteu o pé. Eu pedi para sumir.

O fim de ano veio com o fim de uma situação idílica que se continuasse poderia, futuramente, tornar as coisas piores. E agora me volta um espírito do natal passado com uma possibilidade real muito fã de carnaval.

Como juntar tudo isso? Não sei. Mas 2010 foi capaz de fazê-lo.

Ele com "E" maiúsculo

Ele. Pode ser aquele típico "bofão". Barba, baixinho, parrudo, com barriga saliente. Cavanhaque meio "latin lover" talvez, um rosto realmente bonito, que vai além do mero fetiche com os trabalhadores da classe operária. O que quebra talvez com todo esse "perfil" é o hábito de ouvir aqueles dances de boate gay.

O cara come as empregadas. No entanto, ele eventualmente, sai com homens. O típico cara que diz "se não dou e não chupo, sou homem".

Todo ser tem seu paradoxo. O dele foi afirmar que a barba de um parceiro seu bem como o biotipo tinha algo de "macho". Pensou em outros tipos aparentemente estereotipados como a descrição inicial que fiz dele: policiais, seguranças, guarda-costas. Deve ser uma das suas sombras, o tipo de homem que naquilo que chamei de norte do desejo ele oculta.

Vamos colocá-lo como uma das loucuras do ano de 2010.

Sobre o "sul" do desejo

Agora fazendo aquela separação platônica que em tempos atuais tem se tornado demodê: corpo e espírito. No "norte" falei sobre aspectos físicos e agora, dado a uma série de coisas que aconteceram, pensarei no "sul", na parte mais baixa, aquela que deixamos de lado por várias vezes, mas podem irromper com uma força maior que muita violência física: as emoções.

Não me lembro se foi aqui no Liquididificador que mencionei um conto lindo do Mario Banedetti chamado "O Outro Eu", no qual um menino decide matar seu lado emocional, por não condizer com sua imagem masculina e, com isso ele se torna um ser invisível. De uma maneira mais bonita, Banedetti falou do que chamo neste texto de "sul" do desejo.

Vamos aos fatos: em uma viagem eu o conheci. Foi como um sonho, mas eu, pés no chão que tento ser, disse que a possibilidade de namoro a 1000km de distância era uma impossibilidade. No entanto nos perdemos, mesmo longe um do outro, a devaneios românticos, trocas de carta de amor, sms com "estou com saudades" e por ai vai. Sempre tivemos a consciência de que um dia poderíamos conhecer alguém, namorar e tal, mas esse sentimento não morreria. Esqueci-me de que no sul, o desejo não tem consciência.

Agora neste natal devido a uma série de exigências materiais dele tudo desmoronou. O "sul" do desejo mostrou a sua cara: ciúmes, tristeza, sensação de tempo perdido, necessidade de estar junto, vontade de bater, matar. Naquele momento pude entender todas as vilãs de melodramas e os assassinatos passionais do mundo real. De Medéia a Fera da Penha, tudo aquilo ficou claro como água.

Entendi todos os meus amigos que um dia se desesperaram e choraram por seres amados. No meu caso é preciso sentir a mesma coisa para que aquela dor seja mais clara para mim.

Fui vítima de do meu próprio desejo. Da necessidade de criar sonhos. Mas, repetindo o que disse sobre o "norte" do desejo, se não fossem os sonhos não teríamos sequer inventado a roda.

E é como a roda, que os ciclos vão e vem. Deixarei meu coração aberto, sem matar meu "outro eu" para o que está por vir em 2011.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sobre o "norte" do desejo


Comentei certo dia aqui que falaria sobre "corpo". Na verdade uma sucessão de acontecimentos me fizeram pensar "naquilo". Isso mesmo, sexo. O que dizem que tem muita gente que só pensa nisso, quando talvez seja ele algo nosso que mostra muito do nosso "todo". Que todo é esse que menciono?

Penso na frase de Lacan: "não existe relação sexual". Estranha mesmo, ela diz que a ideia de encontrar no sexo uma completude finita, capaz de resolver todas as suas faltas é ilusória. Não só apenas em relação ao ato sexual em sim, mas a uma série de outras coisas. Por exemplo, quando domingo vejo as cartas das pessoas pro Alberto Goldin, logo de saída elas falam que são bem sucedidas, tem bom emprego, estabilidade financeira e estão sofrendo. É como se o fato de aparentemente satisfazer todos os desejos do que a nossa sociedade exige pudesse livrar-nos da falta. Não existe desejo sem falta.

Tá, mas esse blablabla todo tem a ver com o que? E o lance que eu mencionaria sobre o corpo?

Bem, dia desses o meu querido Josh Junior postou lá no facebook dele uma foto do Fraçois Sagat. E falou que por mais "übber macho" que ele parecesse isso não o atrairia. Engraçado que Sagat preenche todos os requisitos do ponto de vista físico do que muitos desejariam, tanto como alguém para estar junto ou ao mesmo tempo ser como ele. E depois pensei nas pessoas que já conheci, especialmente homens, que estabelecem padrões para si mesmo sobre que tipo de pessoa deseja fisicamente para estar junto.

Lembrei-me de um amigo que o quanto sofreu em um relacionamento com uma pessoa que não tinha nada a ver com ele, mas que o relacionamento aconteceu por conta do tesão, pelo fato do rapaz com quem ele estava ser do tipo físico que ele gostava.

Bem, talvez estamos criamos categorias para dar uma espécie de "norte" ao nosso desejo, que não tem bússola na verdade. Ele se assemelha ao mar para os navegadores europeus antes do despertar da Idade Moderna, cheio de mistérios, mitos, possibilidade de aventura e, por que não, de encontro com a morte. Só que assim como o se verificou depois, o oceano não era plano e é dinâmico. O desejo se parece com ele nesse sentido.

O desejo, por mais que recusemos é dinâmico. Pensei no Sagat dos filmes pornôs e das fotos que alegram as fantasias sexuais de seus fãs. Interessante que nesse mesmo post que mencionei outro rapaz mencionou que ao vivo ele era uma pessoa sem graça, no sentido de que entrou na festa, ninguém deu confiança e depois foi embora. Não digo que o Sagat seja assim, mas pensei na forma como esse rapaz o viu.

Nessa busca por um "norte" colocamos nossos ideais, perfeitos. Só que existe uma coisa chamada realidade sempre pronta para quebrar os pedestais dos nossos santos particulares. Alguns o chamam de rotina, como acontece nos casamentos que no começo são perfeitos ideais românticos e depois acabam desgastados.

O que acontece que essa coisa chamada realidade, somada à falta, torna o desejo algo dinâmico, cheio de encontros e possibilidades das quais não podemos ter controle absoluto. Tal como a caravela no meio do Oceano que em busca de um continente conhecido (as Índias) acabam descobrindo algo completamente novo (as Américas). E tal como navegantes europeus destruídos por malária, escorbuto ou pela defesa de nativos à sua invasão, isso pode acontecer também com o desejo, por mais que o catequizemos.

Deve ser o ideal algo a ser condenado? Creio que não. Fiz um exame da minha própria consciência erótica e, apesar de nela habitar, do ponto de vista físico, uma variedade tamanha - o que fez um amigo chamar-me de onívoro- sei que tenho as minhas preferências físicas, os meus "nortes". O exercício mais difícil para todos nós é saber o quanto não estamos presos nesse norte sem saber que existem outras direções, ainda que o imã da bússola aponte sempre para ele. Ou ideal pode ser visto como o sol, fundamental para identificarmos as nossas posições, mas não necessariamente somos obrigados a ir na direção dele.

Essa "liquididificação" sobre isso tudo, confusa assim desse jeito, combina com o que foi minha vida afetiva/amorosa nesse ano ao lidar com pessoas que elegeram tantos ideais, especialmente acerca de si mesmas - há o desejo que investimos em nós mesmos - e no fim percebi que o que era "sólido", para eles, "se desmancha no ar", para parafrasear Marx. Se desmanchou para mim também porque não há relacionamento com o desejo de um só. Minha sorte talvez seja reconhecer que esse "ar" que desmancha as coisas é a realidade e, dada a especificidade do desejo, ele nunca é completamente satisfeito. Ainda bem porque se assim não fosse, sequer teríamos inventado a roda.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A praia

Talvez tenha sido 2010 o ano em que mais fui nesse recinto pouco acolhedor para quem tem um índice de massa corporal acima de 30. E não menciono só o fato de morar em um balneário e me tornar, como diz um certo cidadão de Baltimore, o Laguna Boy. No próprio Rio, onde nasci, me criei e trabalho, isso também tem acontecido.

Lá, nas Baixadas Litorâneas o clima é mais solitário. É aventurar-se na solidão de Araruama, no estado libidinal de Iguaba ou na pura estética de Arraial e Cabo Frio. Cair na futilidade de Búzios e achar graça nisso. E ainda tem a querida Barra de São João, cuja região tenho um forte carinho desde os meus 14 anos e graças ao Osmar tenho ido mais aquele lugar em dias frios, calmos e doidos, a uma maneira que só estando lá se pode interpretar.


E cá em São Sebastião a experiência tem sido digna de um clipe cubo-futurista. Mãos - fetiche que passei a ter depois de uns tempos pra cá- pernas, bunda, genitais, rostos em meio à aglomeração louca que as praias cariocas permitem. Isso acontece desde que me entendo por gente, o que chama a atenção são as ações que tem ocorrido a partir daí. Nada que tenha efeito prático, mas situações que já fazem valer o dia, mesmo quando se tem figuras pedindo dinheiro para pagar a cadeira e o guarda-sol na praia.

Saint Croix

Ai sou cobrado por ser um homem de muitas palavras. Mando a minha Vênus geminiana às favas e parto para a ação que me compete a um bom taurino. E isso me rende bons resultados, mesmo sendo questionado em minhas indecisões.

Então, como em um passe de mágica e dentro da proposta da modernidade alguns sms dizem "game over" para mim. Aliás, não diz. A outra parte, então se revela. Seu projeto de afirmação direta dos fatos se transforma em puro silêncio. Pobre são as almas que quando são pegas de calças curtas, não tenham, por mais que estudem, palavras - ainda que malandras - para dizerem algo. Ou ao menos o que realmente pensam. Então fica decretado que aos covardes, o silêncio.

Não seu guarda, faço a Ana Carolina

Hoje foi dia de dizer "Feliz Aniversário" para uma ex-namorada da adolescência. Agora entendo porque eu estava cantando muitas músicas do Intimidade da Zélia Duncan esta semana.

Texto Liquididificado

Para O.S.S.O

Há um candidato a deus, talvez um que ainda sonha em ser herói e tem cabelos prateados. Quer ser herói de seu desejo, mas o seu poder, as palavras, acabam por andar em linhas muito tortas e sempre cismam em cair em um mundo de neblina onde nada pode ser distinguido.

Bem, aí ele leva a sua missão para aquela sala escura, uma tela cheia de luzes e ali, ah, ali tudo parece estar certo. No entanto, a sua beleza e a cisma em não querer usar as palavras erradas acabam por fim fazendo que não se use palavra alguma. E ele se dilui, mesmo com os belos cabelos prateados em uma outra neblina que ele mesmo criou. Ele não sabia que para se tornar o deus de seus sonhos tem que saber imperfeito, porém reconhecendo os seus próprios desejos. Ele ainda está na primeira parte de sua jornada.

Então a missão é abortada. Vira uma espécie de limbo. Ele acusa de ter sido jogado lá, sem se dar conta, ou por não querer assumir os seus desejos- vamos ter isso em mente quando pensarmos neste candidato a deus ou a heroi - que aquele é um limbo que ele mesmo criou. Só que ai um deus que fazia parte de sua missão resolve dar-lhe uma segunda chance. O problema até agora é que ele pisa em ovos e palavras suaves se tornam verdadeiros monstros carregados de aberturas por caminhos tortos, que tem destino certo, mas que ele insiste, ainda em não chegar até o seu final. Prefere ainda ficar com as suas mesmas fraquezas.



Ps: Batizei-o de Liquididificado por ser um texto hermético, propositalmente.

Reta Final

Eu confesso que na reta final de 2010 eu queria fazer este o ano recorde em coisas liquididificadas. E isso tendo como concorrentes em termos de querer dizer coisas a esmo o twitter, o tumblr e o facebook. Parece que as redes sociais servem para dar vazão a essa minha paranoia - ainda tem acento esse troço? To com preguiça de ver no google ou usar o tradutor do mozila - quantitativa como requer a minha boa estrutura neurótica obsessiva.

Tinha pensado em uma série de reflexões sobre o corpo, a invasão do BOPE no Alemão ou até mesmo a tal bactéria californiana que sintetiza arsênio e teve gente achando que ela era extraterrestre. Tudo bem que sendo californiana não faz muita diferença (risos)

Bem, quando eu tiver paciência e saco os farei. Que venha 2011, já que o fato mais interessante e relevante foi mesmo a Halomonadaceae do lago Mono.