domingo, 15 de maio de 2016

Sobre a falta

No meu blog-coletânea chamado "alfabeto", eu coloco em um dos textos um trecho de uma real sessão de análise que eu tive há 16 anos. Fala sobre essa não expressão da falta, do desejo. E o último sonho que eu tive, mais uma vez volta nesse tema. O que você gosta?

Me peguei pensando neste sonho e nos elementos dele. Ainda não sei ainda a razão pela qual o supereu assume a forma de personagens femininas. A que vem de fora lança a pergunta, como a esfinge. Só que dessa vez a pergunta seria "decifra-te ou devora-te". O sonho, tão primeira pessoa assume ares da segunda, o "eu" se torna "tu", para quem se fala.

Para lidar com a dificuldade de assumir o desejo me pego perdido em diversas palavras. Elaboradas, arrumadas como requer a retidão das coisas. Interessante que neste sonho as minhas reivindicações, o que estava entalado, o que precisava ser dito, aparece quando eu vou me despindo da formalidade. E assim consigo pontuar e colocar exatamente aquilo que eu quero.

Ele aparece numa época em que meu namorado em tom de zoeira comigo sempre me chama de "rico" pelas posses e pelo meu vocabulário. E por vezes faço cara feia diante disso e talvez eu consiga entender a raiz disso: o medo de expressar o desejo.

Expressar o que se quer e gosta revela muito se si. Coloca em situação de vulnerabilidade. E a fantasia neurótica sempre vê esse desejo tão guardado ameaçado por algo externo. É como se a felicidade, o gozo, o prazer sentido naquele momento fosse passar e sendo assim como forma de evitar o sofrimento que possa vir no futuro, que tal extinguir a própria alegria?

Se apelas o tempo todo para as necessidades do "eu" sem levar em consideração o que está a minha volta é perigoso, por outro o não dizer pode se perder no ar. A identidade, o quem eu sou some, como na ignorada que a palestrante no sonho dá. No momento em que assumo outras palavras, mais naturais eu posso ser mais claro e livre da censura se aquilo que estou dizendo está certinho ou não. E ao mesmo tempo consigo reunir os desejos dos que estão a minha volta, ali naquela sala de aula simbolizada no sonho.

A resposta do sonho aparece no fim, naquela sala metáfora do próprio eu e vários de seus personagens. A autoridade original da professora é cedida para uma outra autoridade. O eu está em um discurso prolixo e, diante do abandono da escuta, se vê colocado de outra forma, falando de forma direta, sem rodeios e ao mesmo tempo altruísta.

Interpretando: era a mim mesmo que eu estava ajudando. Sem disfarces e fazendo valer essa a autoridade do sujeito que fala diante daquelas duas entidades que, sendo então desnecessárias, me fazem acordar.

Pensando na própria vida em relação ao imbrólio dos parágrafos anteriores: mais que dar atenção a ordens que não são realmente o meu desejo, é hora de assumí-lo sem medo de parecer incorreto, Mostrar que aquela pessoa que está ali no passado não comporta mais pro eu de hoje. O sujeito para quem se fala tornar-se quem fala, na primeira pessoa, no singular e no plural, já que quando sonho, vejo que sou muitos.