domingo, 2 de julho de 2017

Dear White People

Esse é um daqueles textos que levo tempo pra escrever, embora estivesse com a ideia dele já há algum tempo. Pensei em fazer, a princípio, uma resenha crítica sobre a série, mas acredito que essas observações do Murilo do "Muro Pequeno" já abrange muito que eu poderia pensar. Recomendo também, nesse sentido, o canal da Natália e Maristela, que tem muitos vídeos bons discutindo essas e outras questões.

O que me chamou a atenção foi a diversidade das personagens e as formas como cada um tem que lidar com o racismo. Nesse sentido, chamou a atenção de muitos comentaristas e de mim também a personagem Coco. A primeira vista ela parece ser uma negra querendo assimilar o que a branquitude tem, mas as questões são bem mais profundas. E fazendo uma relação com o que aconteceu com minha família, ela me deu bons insights.

A minha avó era uma mulher negra que se preocupava muito com a forma como a gente deveria se portar. Nada de falar alto, fazer bagunça, ter maus modos a mesa, pois ela achava que por sermos pretos, esses "maus modos" poderiam ser mau vistos. Por outro lado, ela tinha uma forma de se impor que era bem interessante.

Uma vez, meu primo foi na igreja em que ela congregava e não quis se sentar em um dos poucos espaços vazios que havia na igreja. Ela perguntou-lhe a razão e ele disse que o senhor que estava sentado perto do lugar vago era racista e não gostava de preto sentado do lado dele. Então ela disse "pois é ali é que você vai se sentar. E nos próximos domingos é do lado dele que você vai se sentar, só pelo desaforo". E assim ele foi fazendo e, acho que por conformismo ou pra não passar de recibo de racista no meio da congregação de forma tão explícita o homem não disse nada e ao que parece, depois daqueles dias, parou com essa palhaçada.

Muito amigos e conhecidos pretos me falam do quanto faltou (e falta) a eles referências familiares no enfrentamento ao racismo, uma vez que muitas vezes é negada a existência dele ou então rola o famoso "você tem que saber o seu lugar". No meu caso, minha família está anos luz de ser aquela super "desconstruída militante viva Dandara!" pois, estando numa sociedade em que o racismo é institucional, isso também vai se passar pelas relações pessoais. Mas assim como Coco, com o pouco que conseguimos meus avós foram, do jeito deles, se instrumentalizando para lidar com o racismo e isso foi passado pra minha mãe, que conseguiu ser uma pessoa mais atenta e com um entendimento melhor sobre questões raciais, que, por sua vez passou pra mim e pra minha irmã.

E mesmo com tudo isso, ainda há muito ainda em mim para ser questionado como forma de não só assumir e entender o meu papel como pessoa preta, mas também de que forma lutar e saber ocupar os espaços. De que maneira, na vida, devo sentar naquele lugar vazio, mas que o racismo- tanto o internalizado como o externo- tenta me impedir de sentar. Nesse sentido, penso que há muitas lições vindas tanto de Dona Conceição, bem como da análise do comportamento de Coco.

Ps: Super recomendo também esse podcast da moçada de "O Lado Negro da Força".