quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Vendendo saúde

Não sei se alguém que lê esse texto já escutou a expressão “fulano está vendendo saúde”. Essa metáfora popular era uma forma de dizer que uma pessoa está muito bem, com a saúde boa a ponto de ter tanta o suficiente para poder “vender”. Em geral essa frase é (ou era) usada quando quer tirar a suspeita de alguém sobre uma pessoa supostamente mal.

Percebi a ironia e o sentido desta frase quando, semanas atrás, uma amiga da família de anos vem apresentando aqueles produtos da “Living Forever”. Ela apresentava o produto tal como um evangélico pregando a Bíblia. Aliás, ela é evangélica. Além disso a Living é americana, pátria evangélica, pátria capitalista, cuja base religiosa é, não por um acaso, o protestantismo. Weber não me deixa mentir.

Pois é, o tal produto é feito à base de babosa. Mas claro, para o nome soar melhor, melhor dizer “Aloe Vera”. Aliás não é um só produto. São vários: pasta de dente, sabonete, suco e mais um calhamaço de coisas que me deixaram tonto em meio a explicação da moça. E o preço, obviamente, não é barato.

E claro que a moça dizia algo como: é um investimento na sua saúde. E eu pensava: “estaremos comprando saúde?”.

O Brasil criou o SUS, mas o sistema de saúde é caótico e mal atende a maioria da população. A achatada e falida classe média faz uma ginástica no orçamento e tenta na esperança vã de um serviço melhor, investir nos planos de saúde como forma de fugir do caos do SUS, embora muitas vezes é igualmente mal tratado e não conta com um serviço lá essas coisas. Isso quando não tem que lutar contra os aumentos abusivos e coisas do tipo. Enquanto os mais ricos continuam bem onde estão usufruindo dos melhores serviços, longe dessa confusão toda e podendo “vender saúde”.

Ou seja, para se ter saúde, precisa-se pagar...embora uma lembrança importante me diz que mesmo o serviço público é pago, com o dinheiro do povo de todas as classes. Incluindo as mais altas que, ironicamente, fogem para outros serviços sem reclamar com o governo o que é feito com seu dinheiro. A coisa só muda de figura com a questão da CPMF, feita para ter seus recursos investidos na saúde – embora não haja lei que obrigue o governo a dizer para que o recurso de um certo imposto tem que ir somente para uma área “x”- que está para ser prorrogada em meio a essa confusão no Congresso entre governo e a pseudo-oposição de araque que criou essa "contribuição provisória" que parece permanente.

No meio disso tudo é estranho o fato de termos que “comprar” ou o seu eufemismo de primeira hora “Investir” em saúde. E somos bombardeados por produtos duvidosos na TV, visitas quase missionárias em nossas casas endeusando a babosa e por uma excessiva propaganda enganosa em todos os meios que iguala estética, ausência total da dor e pênis eternamente ereto com saúde.

E em meio a isso tudo pergunto: onde estão os tempos em que as pessoas vendiam saúde sem precisar comprá-las?

domingo, 4 de novembro de 2007

Didi, auto-ajuda: balde e holofote

O filósofo austríaco Karl Popper comentava que, em ciência existia a teoria do balde e do holofote. por balde, tome-se como modelo o fato de julgar capaz de caber todo o conhecimento dentro de "um balde", como se em um único recipiente coubesse toda a verdade possível. Criticando esse modelo ele comentava sobre o fato da mente humana ser um holofote que ilumina de dentro para fora, ou seja, o conhecimento se ilumina em uma parte, onde a luz do holofote está direcionada, mas além daquilo há uma escuridão imensa sobre a qual desconhecemos.

E por que estou mencionando isso? Sei lá, mas deixe-me fazer a auto-ajuda.

De vez em quando na sua vida você foca, como o holofote, em um único ponto e esquecendo-se da escuridão que ilumina todo o resto. Um exemplo porco e simples: você está na "buatchi" e cisma com um carinha que nem te dá bola, mas, obsessivamente se foca nele, achando que ele é a única verdade para a sua felicidade noturna (balde) esquecendo-se do resto, que no ponto em que você não foca (holofote) pode ter alguém mais interessante e interessado em você.

Pensei nessas coisas hoje e elas me fizeram todo um sentido...melhor que "O Segredo", embora Popper não merecesse essa sacanagem tosca que faço com ele aqui nesse texto.

E para finalizar, mudando completamente de assunto, mas ainda no tema "buatchi", segue uma cena de "Sábado Alucinante" (1979), filme que comentei em um post passado e que acho que merece uma boa olhada.



Sáaaaaaaaaabado!

Ps: Quem observar bem sacou a pinta que a ursa DJ dá nesta cena.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Morte

Estava maturando a idéia do meu próximo post, sobre a morte, a partir do que eu vi em "O Diabo veste Prada". No entanto nesta madrugada de Todos os Santos recebo a trágica notícia de que uma tia muito querida morreu.

Não cabem teorias neste momento. Somente a dor diante do inevitável e da única certeza que temos diante da vida.

Tive que sair hoje de manhã com meu pai para resolver um assunto no Centro e a cidade me pareceu caótica, irritante, com as pessoas trombando umas nas outras, camelôs gritando, jovens oferecendo empréstimos e outros jovens oferecendo papéis do tipo "compro ouro" ou "conheça as termas gatinhas fogosas" enquanto passam nerds de escritório com cara de quem não vê a praia há séculos. E os meus passos lentos, diante do luto e do tempo abafadomais uma madrugada insone, irritavam a mim mesmo. Minha vontade era de que uma bomba caísse em pleno centro carioca naquele momento.

Deve ser um fenômeno de transferência....