sexta-feira, 20 de julho de 2012

Dos galhos em linha reta


De repente busca-se um ponto. Ou melhor, uma sucessão deles formando uma linha reta. O caminho é grande, mas fazendo tudo com planejamento, tudo pode sair certinho e levar exatamente ao ponto que se deseja. Como a viagem a um lugar mágico que nem sempre fora tão desejada, mas motivada pela possibilidade de um encontro vão se criando raízes.


Além das raízes vem os galhos que vão se afinando e ficando flexíveis. É a maneira melhor de poder crescer, resistir ao vento sem se quebrar. É seguir o devir sem encarar de frente a morte. E ao apoio encontra-se a ilusão no sorriso de um homem.


Só que o homem que sorri, tão aberto às emoções, como o jardineiro desse jardim, esquece-se de falar. Tem medo e baixa a cabeça.


Um curto-circuito e os galhos então deixam de seguir seu rumo. paralisa. Ou então procuram novas alternativas, novas rotas.


E no fim da tarde estas rotas se abrem. Mas ao invés de se olhar para elas ou saber exatamente onde quer chegar, que tal contemplar, ainda que por um instante curto, a beleza delas?


Nesse momento o jardineiro torna-se inútil, como sempre foi na construção dessa caminho perdido. O que conta agora é a beleza de sua própria natureza. A revelação dói, mas ao mesmo tempo, liberta...e é bela!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Dos ideais


Se é um tema recorrente na minha (psico)análise é a questão da idealização. Ela também apareceu forte em um caderno que escrevi sugerido por um amigo quando eu não estava muito bem há um tempo atrás.


No meu caso ela se relaciona com a minha própria ansiedade. De repente a crença em um Absoluto (e não me refiro a Deus somente) pode dar conta de tudo isso.


Só que junto com esse investimento (eros) vem também um desejo de destruição, em especial quando o ser idealizado não corresponde ao próprio ideal.


A dicotomia Deus e Diabo mostra isso. Nessa construção mitológica judaico-cristã, o mal é encarnado por um anjo "caído" que ao ser impedido de ser igual ao seu ideal, se opõe a ele.


Traduzindo em miúdos para o dia-a-dia, como pode isso funcionar?


Pensemos em alguém que eu ame muito. Junto com esse investimento amoroso vem uma carga forte de idealização sobre quem ela é. Só que, diante de sua humanidade e imperfeição, eu me voltaria contra ela justamente por perceber que ela está longe desse ideal.


Posso extrapolar isso para a relação pais e filhos entre tantas outras. Os lacanianos gostam muito de fazer a analogia disso com a castração, a percepção de que o ser é incompleto.


A questão da completude, desse ideal (de fazer o 1 com o a mamãe , como os lacanianos dizem) e da impossibilidade da relação sexual é bem interessante. Penso no rito da missa, no qual os fieis incorporam o corpo e o sangue de um ser que eles julgam perfeito. Uma união narcísica com um Absoluto capaz de aliviar de todas as nossas ansiedades e tensões.


E o que não seriam as guerras e a intolerância religiosa uma resposta de tanatos (pulsão de morte) a essa não realização de um desejo... questões, questões...


Saindo do escopo religioso e voltando ao campo amoroso mais uma vez. Por que há essa necessidade de enxergar no outro a possibilidade de se unir a esse absoluto e, uma vez que ele não atende a isso, afloram os desejos de destruição: acusações, brigas, ressentimentos entre outras coisas?


Um passo para sair desse esquema é assumir algumas coisas. Que esse outro ideal não está no outro, mas é uma criação de si mesmo. Uma criação narcísica. Uma invenção sua... nessas horas me lembro de filmes como O Clube da Luta e Os Outros que de alguma maneira fala dessas criações. 


Outro passo é admitir que por ser criação, invenção ela não dará conta de todas as suas frustrações. Ao mesmo tempo, ao invés de ver a idealização como algo obrigatoriamente negativo, penso na possibilidade criadora que ela pode representar. Como fez a doutora Nise da Silveira no Engenho de Dentro que estimulou os pacientes a representarem artisticamente a sua "loucura". 


E você, Odilon, como representa a sua loucura?

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Odisseia no abismo


Durante a faculdade havia uma matéria que a professora usava técnicas de teatro para trabalharmos corpo e discussões, fossem elas familiares ou políticas.


Dentre os vários exercícios tinha um clássico no qual eu tinha que jogar meu corpo para que a pessoa que fizesse dupla comigo pudesse segurá-lo.


Eu tinha medo de me jogar, acho que na verdade nunca me joguei. Achava me o mais pesado e impossível de ser sustentado depois.


Outra anedota daqueles tempos era o medo que eu tinha de me embriagar. Uma das desculpas era: se eu cair, não terá ninguém para me segurar depois. Sou pesado.


Talvez com sentimentos também ocorra a mesma coisa. O medo de se atirar e lá ninguém poder carregar.


Imagino uma nova versão de Ulisses: ele escuta o canto da sereia no abismo e depois se joga. Só que nenhuma delas se interessa a levá-lo para seu mundo e ele cai morto.


Meu Ulisses deixa de ser herói, fica mais parecido com meus sentimentos, em especial alguns que cultivo em relação a mim mesmo.


Me jogo e ao não me sentir acolhido, o chão do meu abismo se abre na forma de ressentimento...


De repente eu poderia pensar: por que não descer por mim mesmo? E se eu cair? Que eu me levante, terei sentido a queda sem ter que responsabilizar a, b, c ou d por isso. 


A grande lição para um coração ressentido pode ser essa: saber criar suas próprias asas. E ter em conta que  elas podem falhar.


Um passo para sair da torre de marfim...e também de humanamente responder ao "Odilon, por que você não se abre?" Abrirei minhas asas...se quiser, me acompanhe.

Para entender o último sonho


Quando os cacos se quebrarem, Odilon
repare bem na fenda que existem entre eles.


Lá no seu mundo de olhos fechados
toda pedra, mesmo quebrada, possui o seu valor.


Observe bem os ladrões que as desejam e se dividem
estão em algum canto de si conspirando contra você.


Nesse momento o sábio cansado que há em ti surge
desmascara, descobre disfarces e os expulsa.


E ele chegará para você, de uma condição diferente
e perguntará com certa estranheza e superioridade


"De onde vieste?
Não és tu de um estranho lugar?"


E com a graça que lhe cabe, diante de si mesmo
apenas diga:


Nada que é meu, me é estranho...

Atos falhos



Estou eu digitando dois sonhos no meu blog para isso quando comento dois "erros":


"menteando" , ao invés de "mentindo"


"corpo", ao invés de "copo"


E ainda teve boatos de que Freud estava na pior...










Velho, sonhos e ladrões. Tenho que dizer que era um encontro entre o meu eu, isso e o velho era o psicanalista dentro de mim...


Epa, não foram dois sonhos, era um só. Mas em dois tempos...Didi explica!