quinta-feira, 26 de abril de 2012

Dicró conta

Lá se foi Dicró, talvez um dos últimos a ter a irreverência, deboche e a leveza carioca, ainda que mesquitense.


No dia que o STF se pronunciou a favor das cotas raciais nas universidades e, em meio a posts meio intelectuais, meio de esquerda a favor e outros meio intelectuais, meio de direita insistindo na ideia de democracia racial e afins, uma anedota do mestre.


Estava Dicró indo para um show na Barra. Interpelado por um segurança se deparou com "Tá indo pra onde negão?". Ele; "To indo trabalhar!". A resposta "Se manda que você não vai vender nada aqui não, vaza".


A "confusão" do segurança é emblemática. Ela em si não explica tudo, mas é um sintoma de algo institucionalizado nestas terras: o racismo. O Brasil que deixa um dos últimos malandros e no qual fico não é, definitivamente, o mesmo apregoado cinicamente por Kamel, Magnoli e afins. Sorry, burguesia. Meritocracia é o cacete!

Trouxeste a chave?

Ai a pessoa chega para mim e diz "Mas Odilon, não tenho como opinar sobre isso porque não tenho conhecimento a respeito". Ao mesmo tem opiniões sobre o assunto, o tema surge em sua vida.


Penso no clássico "Desligue o computador e vá ler um livro". Dito isso, seria anacrônico para quem tem internet e pode ter acesso a diversas informações sobre o que, em tese, desejaria saber. Então o melhor a dizer jocosamente é "joga no google!";


Pensemos que a pessoa reclamante em questão se resigna com tal frase, afirme que seu pensamento é mais lento mesmo etc e tal. Perfeito...Mas o seu raciocínio se alimenta de outras informações de forma muito rápida. Só que tais informações são sempre sobre o mesmo tema, sobre a mesma coisa. A pergunta é: raciocínio lento ou medo de ir além?


A pergunta que Drummond nos faz ao nos chamar para penetrarmos no reino das palavras é perfeita. "Trouxeste a chave?" Será que a chave é usada só para abrir as portas da mesma casa, ou ir para outras casas? Que caminho seguir?


Ter as próprias referências e gostos é ótimo. Ir além não é deixá-los de lado. É permitir que o que está ao seu lado se transforme, se renove. Como um aluno meu que descobre outro sentido na propaganda da Giselle Bundchen de Maria Antonieta por ter conseguido ligar aquilo com o que aprendera sobre Revolução Francesa. Os seus dois mundos se permitiram alterar. 


Surpreenda-se ou será sempre aquele que repete sempre a mesma coisa, com um resmungo chato para sempre.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Um sentimento que assombra



Rubem Alves comenta que um instrumento fundamental para o aprendizado é o assombramento. Ao mesmo tempo o importante é ler as coisas pelo avesso. A fala do analisado mostra isso, mostra os lapsos, as falhas, os sonhos, o que escapa à razão e se manifesta no consultório e o psicanalista, em atenção flutuante, também faz (ou deveria fazer) essa escuta também pelo avesso. Ponto para eu pensar: o que me assombra? O que me vira do avesso?

Pensei nas emoções, em especial a Raiva. Ela me vira do avesso e ao mesmo tempo me assombra. Não o assombramento diante de algo novo e inesperado que extasia, mas algo antigo, presente em mim e que ao mesmo tempo se relaciona com outros sentimentos, como a tristeza e o medo.

Lembro-me de uma festa junina quando eu tinha cinco anos. Eu estava no pátio do colégio com aquela gravata amarrada com caixa de fósforos junto com meus pais e minha irmã. Um moleque mais velho passa e me diz qualquer coisa puxando a gravata. Eu me esquivo dele e o garoto vai embora. Isso foi o suficiente para uma severa repreensão materna "como você é bobo! como você deixa eles agirem com você desse jeito!". A violência é sim ensinada e mexe com a gente. Mexe e tem papel de um educador tirano que diz como eu tenho que lidar com uma emoção que é natural, como a raiva.

Será que é essa a mesma base da violência por motivos absurdos, porém ensinadas em nossa sociedade? É isso que motiva a "obrigação" de um cara do time A brigar com o do time B num estádio de futebol, só para citar como exemplo entre tantos outros. Bem, esse seria outro assunto. Agora em pauta estão sentimentos meus.

Uma reprimenda parecida levei aos 12 anos pelo fato de não ter sido "malandro" o suficiente pelo fato de eu ter me apresentado ao diretor como um dos garotos que resolveram sacanear o professor com desenhos e frases na lousa. Hoje é um fato histórico entre os meus colegas de colégio e damos muitas risadas, mesmo com o cagaço da sala da diretoria. Mas o que mais chama a minha atenção não foi a suspensão, foi esse esporro. Não considero-o como algo traumático ou algo do tipo, mas me faz pensar, me virar do avesso sobre como lidar com esses sentimentos.

Um dos textos do meu "alfabeto" é exatamente sobre essa condição que liga raiva e ego. Por um lado percebo que habita em mim um sentimento de repressão deste sentimento - já que é visto como assombroso- como risco de perder o amor do outro. Mantém a integridade (falsa) de um ego intacto e estável. Por outro causa um efeito "panela de pressão" que quando explode vem muita coisa junta.

O momento pediu que essa raiva aparecesse por uma causa externa. Mas por que será que tenho que ser tão implacável? Por que uso as palavras de forma a deprimir o outro? Sei que eu devo ter aprendido isso junto com as freiras do colégio que estudei que elas eram muito boas nisso.

Se há um objeto de amor porque então agir como o alienígena de um sonho antigo, com o qual eu mesmo eu iria me encontrar para desafiá-lo quando percebo que o chefe de uma invasão destruidora e desordenada era, nas palavras dele, eu mesmo?

Estes exercícios duplos de uma raiva dirigida ao outro como se quisesse de alguma forma garantir o ego é avassalador. E meu supereu me cobra agora outras contas por não seguir certos desejos que não assumi tê-los. Mas se não tê-los, como diria Vinícius em relação aos filhos, como sabê-los?

E assim vou me virando do avesso, tentando perceber se de fato sou o otário ou se isso é apenas uma crença equivocada na qual eu, adulto, posso perfeitamente analisá-la, pensá-la e decidir: não essa tese não é nada. Virando do avesso, nada há.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Um meio bem resolvido



Há cerca de 10 anos eu pensei em uma peça, um tanto baseada em um ex de um amigo meu, um tanto baseada na mudança de sentimentos que eu estava passando e outro tanto baseado num grande clichê entre os homossexuais. O nome era "Fora do Meio". Não entrarei em detalhes porque ainda um dia pretendo escrevê-la, mesmo há 10 anos maturando em minha cabeça.


Ontem me aparece mais um tipo desses. Em princípio, orgulhoso por não namorar ninguém há 10 anos. Até ai morreu Neves. Estou há quatro e nunca fui o tipo de pessoa de acreditar de que para estar feliz você precisa de um namorado, marido, esposa etc e tal. Usando outro clichê, o mais importante são os amigos, algo que o tal "tipo desses" também concordou.


Mas o moço não se limitou a dizer que estava bem com o fato de ser solteiro. Ele poderia ser um Gary Haynes não evangélico ou algo do tipo tamanha a sua propaganda. Natural defender os seus pontos de vista. O interessante é que o discurso esbarra na velha questão do Eu e o Outro. Vejamos.


Ela culpava o fato de "99% das pessoas do meio só quererem putaria" - eu já mencionei a palavra 'clichê' nesse texto? -e que para se livrar de tanta mentira, decepção e mágoa das pessoas preferia estar solteiro e com os amigos. Foi quando eu perguntei se esse tipo de gente só se encontraria em um relacionamento afetivo e a figura não me respondeu, limitou-se a me fazer perguntas. Aí a coisa ficou mais interessante.


Para a sua decepção e geração de uma série de "sei" duvidosos - vi ali que meu coração aprendeu a lição de cagar e andar se a pessoa acredita em você ou não, tal como um amigo me dissera há quase 20 anos -  disse-lhe que no meu "meio" havia várias pessoas e, consequentemente, relacionamentos. Dali a figura pediu para parar com "o jogo de gato e rato" - eu estava apenas mostrando a minha realidade, sequer emitindo opinião sobre nada ainda - e para o nosso Platão do paralelo 12ºS (ou do meridiano 38ºW fica a critério do leitor) o seu encadeamento de perguntas perdeu o sentido.


Este caso, assim como tantos outros mostra algo para além da simples relação eu e outro. Claro, há a ironia de alguém que, em princípio tão absoluto de si e certo de que sabia evitar o sofrimento, na verdade creditou aos outros, e não às suas próprias escolhas a vivência de seus próprios desejos. Fora do meio....até certo ponto, quando projeta nele as velhas desculpas para ser quem é e não admitir fielmente as suas próprias escolhas. Não entrarei no mérito se ser solteiro para ele é uma escolha real ou desculpa, não vem ao caso. O interessante mesmo é essa responsabilização do outro e não tomar para si as suas escolhas.


O ser humano de uma forma geral - não me excluo desse papel - tende a fazer isso quando algo lhe incomoda. Bem como criar meios para ter "segurança emocional": eu evito os outros, 99 por cento falsos, mentirosos e tarados e assim eu vivo bem, já que "não sou nada disso". Esse tipo de auto-santificação já evito, pois convivi com milhares de santos durante a minha formação católica e, arrumar mais um ou ser mais um está fora de cogitação.


Mas sim, segurança emocional, seguro de si. Engraçado como buscamos isso, mais uma maneira de evitarmos a dor quando emoções são sim instáveis, cambiantes, flutuantes. Ou indo para outro ponto, uma citação de Rubem Alves que diz que "as pessoas bem resolvidas estão mortas". No caso de ontem, alguém que mata o próprio desejo.






A ideia de "meio" é um tanto parecida com o modelo atômico de Dalton, uma bola de bilhar maciça. Se cria uma ideia compacta de como esse meio é e determina como todas as pessoas são. No caso de homossexuais isso se relaciona com a própria homofobia que carregamos conosco. Colocamos todos em uma mesma categoria, usamos adjetivos depreciativos para referir a todos eles e assim nos mantemos aparentemente seguros. Criar a ideia do meio e viver nessa relação de "ele é culpado" versus "eu fujo dele" é intimamente uma forma de dizer "eu fujo de mim, do que eu realmente desejo".


Eu penso na ideia da ideia caótica da nuvem de elétrons e tendo consciência que assim como os átomos e as suas partículas tudo é um modelo que criamos para lidarmos essa coisa estranha chamada universo, que é bem mais que o mundo e se revela uma realidade instável, caótica e por isso mesmo, muito viva.



Are you a scissor sister?

Temos Calvin Harris, que produziu uma daquelas musiquinhas meia boca da Rihanna, mas produziu também umas das minhas 10 melhores músicas pra dançar: Off & On da Róisin Murphy (eu desconsidero a da Sophie Ellis Baxtor, apesar de legalzinha e ter t ba mão de Harris) e tem um remix interessante para Hearts On Fire do maravilhoso "In Ghost Colours" do Cut Copy. Temos também o Boys Niose, do ótimo Power (2009). Bem, aqui temos as irmãs tribadistas num single legalzinho, mas que em nada se compara com qualquer faixa de seu primeiro álbum. Esperarei até maio para ver o que rola.





terça-feira, 10 de abril de 2012

O Tempo no deserto













I

O vento sopra em um deserto chamado Alma
e sussurra no ouvido um monte de conselhos
a ordem de olhar para a areia que faz brilho
e reflete a imagem inacabada do cansaço

Faz-se um pacto com o Sol
de que seu tempo, naquele dia é breve
faça e não se recuse ao teu papel de queima
para que não brigue com a Lua na outra parte do dia

À noite, com a luz-satélite
a imagem aparece, tímida
contando frustrações, revelvando sentimentos

E diz que não há ideia frustrada
o "cuide-se" se mantém e avisa
deixe o Sol fazer sua parte

II

Antes de entrar na teia de prazeres
a tenda no meio do deserto onde infelizes se encontram
tenta, ao menos um último contato
e nas mãos, tinha a areia de sua ampulheta

Por ela saberás que não há deuses a satisfazer caprichos
E que no deserto todas as vontades aumentam
castigam bravas em meio a um falso drama
a a viagem ainda persiste

Pega-se o caminho da tenda
lá, onde com o Sol ou Lua
o cuidado já é conhecido e sabido

E faça dela a tua morada
o teu tempo e o teu jeito
e não um reino de pequenos desprezos

III

Hora do reinício, o corpo ainda dorme
o tempo ainda é pouco
e o teto da tenda é frágil
a tempestade de areia se aproxima

De que adianta dizer que, no deserto
há areias de cores diferentes e que
a areia de tua cor é igual a todas as outras
se é você mesmo que as pinta e vende como original

Esqueça-se o mercador e os falsos produtos de tua boca
tua raiva quando a origem do que vende é descoberta
e que a alma infeliz dele não cabe neste deserto

Deixar que o Tempo reinicie por si mesmo
tentando consertar seus próprios estragos
fique na porta, escutando o vento, como música

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O bobo



Uma simples passada de vento. Uma mensagem falsa que obriga o bobo a fazer seu show. Ele quer plateia, ainda assim insistem para sua apresentação...

... antes da primeira piada a corte dorme agradecida pelo show que não aconteceu. Ser enganado, eis o papel do bobo na noite que se encerra entre ventos produzidos artificialmente. Fazer piada para súdito nenhum.

Que ri



Eras a Alice do teu próprio mundo, o Coelho Branco, o Chapeleiro Louco e nos momentos de crueldade, a própria Rainha de Copas. Num lance do destino, entre florestas de pimenta, bem longe do mato ao qual te acostumaste, encontras o Gato que Ri...


... e nessa estória ele não era você.


Permitiu-se ao riso e ao encanto. Ao cheiro de novas flores. O reencontro com velhos sentimentos e, como em tudo na vida um buraco se abriu.


Tentou subir por entre as paredes de pedra. De um jeito diferente, mas sendo aquela que era antes de perseguir o Coelho Branco. Conseguiste achar o cogumelo certo, evitou a lagarta com sabedoria e permitiu-se ao novo e ao velho, tudo ao mesmo tempo. Até mesmo conquistaste aquele que temia ser descoberto em uma noite de sexta nos fundos de um bar. Era o teu desaniversário.


Ao chegar na superfície o gato parou de rir. Ou melhor, decidiu rir em outro lugar. O mesmo de onde viera antes. Ali, Alice, era hora de acordar. Onde tu não és gigante nem diminuta. Lidar com essa aparente normalidade que é verdadeiro desafio, ainda que sonho seja um de teus nomes. Ainda bem.

domingo, 8 de abril de 2012

Grito circense


Lança-te no ar, que teu número é sem redes
ao invés do chão, a tua falta de sorte
encontra o vazio da partida
do Dono do Circo, que armou todo o show


O Dono procura por limpeza
sustentação da lona, o público da noite
e reclama do engolidor de espadas que fugiu pro sul
enquanto retira a rede que te protegeria de alguma forma


Lança te no vazio, sem oxigênio, sem queima
só pele e encontre de novo tuas emoções perdidas
e estabeleça um pacto com tempo e grite
"és tu que depende de mim como grande atração"


E ria, gargalhe, ainda que o teu som não seja ouvido
quando, diante da plateia perplexa
o dono procurar pelos olhos, por não ter conseguido enxergar


nem a si mesmo
nem a sua criação


assim nasce a tristeza do palhaço

sábado, 7 de abril de 2012

Um rei e seus espelhos

Uma menina me ensinou
Quase tudo que eu sei
Era quase escravidão
Mas ela me tratava como um rei
Ela fazia muitos planos
Eu só queria estar ali                     Legião Urbana/Ico Ouro Preto






I


Ela tem 11 anos e chega com um sorriso bobo. Parece que ri de tudo, ainda brinca de bonecas e chama a todos de "tio". Mas com o tempo ela já deixa bem claro que é atenta à tudo o que se passa por ali. E faz a mãe chorar ao ler poesias de outras pessoas.


II


O Rei tem um decreto: olhe-se no espelho. Achava que era a dica perfeita a ser dada ao Poeta que, sem palavras e ao mesmo tempo diante dessa impossibilidade, parte para o Exílio em algum canto afastado daquele reino.


III


O exílio é repleto de pensamentos e sentimentos, mas só é real quando ele se torna escrito. Essa necessidade dói mais que o calabouço do Rei, mas é libertador.


IV


Enquanto as palavras doem no Exílio, lá no Reino o chefe diverte-se com as palavras prontas que ele julga ser simples. Ele busca ser um rei humilde, mas esquece que, para quem nasceu e deseja ser rei, aquilo era impossível.


V


No Exílio a menina chega e diz ao Poeta: "Tio, já reparou que no espelho quando a gente levanta a nossa mão esquerda a imagem levanta a direita?"


V


O Rei voltou atrás na sua decisão, mas teme ser incompreendido pelo Povo. Na verdade ele sabe que ele e o Povo é um só, a diferença que sendo ele Rei, ele manda. Então, nesse estranho jogo de espelhos ele abdica da sua responsabilidade em nome da prudência e nada revela a seus súditos.


VI


Poetas são perigosos. É melhor julgar o caráter deles, pensou o Rei. É a única forma que ele tinha, naquele momento de manter decretos ilícitos longe das vistas do povo, manter suas leis simples e fáceis ditas por outrem e resistir a qualquer criação artística que fosse diferente. Dizia que os poetas eram membros de uma elite fracassada, incapaz de abrir mão de seus privilégios em nome de um mundo novo que ele mesmo programara pra si naquele reino.


VII


A menina, no seu sorriso de onze anos trás lápis e caderno e diz ao Poeta: "Tio, agora só depende de você. Ninguém está vendo mesmo. Mandar o Rei se foder é bom certas horas".


VIII


O Poeta já sabe uma resposta e diz à menina: "não preciso mandar, o Rei já está fodido e ele tem consciência disso. Outro dia declamei um soneto chamado 'Perigo' e ele disse que deveria experimentá-lo por seus próprios pés, ainda que isso pusesse seu reinado abaixo, que Poetas inventam e não respeitam, só sabem criar imagens e ilusões. Foi aqui que fui mandado para cá, segurando um espelho que se partiu no meio do caminho". A menina pergunta que caminho era aquele, ao que o Poeta disse que ela só conhecerá o caminho que ela mesma determinar. Não há leis, reis ou frases prontas que ditarão o rumo que as coisas tomam. Ela gargalha e diz "Tio você diz umas coisas muito engraçadas". E some.


IX


O plano do Rei é descoberto. A menina, no dia da sua menarca, resolve contar tudo o que sabia ao Povo. Ela com os mesmos risos de sempre dizia que se fazia de boba, mas já sabia cada passo em falso do Rei, pois ela já se permitira à poesia e a chorar com sua mãe. O povo então não o deseja nem para figura decorativa na Nova República. Abole suas leis, some e restaura o Antigo Regime de lá, mesmo sabendo que poderia ser ainda pior. Inconformado, resta ao Rei partir para o Exílio ainda firme na questão dos espelhos.


X


No Exílio o encontro. Diante de um espelho inteiro e bonito o Poeta pergunta: levante sua mão esquerda e me diga que mão a imagem levanta? O Rei fica estupefato, mas se recusa a admitir o que os olhos lhe mostram. O Poeta parte para onde fora a menina, porém maduro para outros ares. Para o Rei diz que na verdade não tem nem um "si mesmo" ou espelho, que aquilo era efeito da luz, e que ele estava livre para fazer um novo Reino sem se prender a nada.

Fim de semana passado



Estou devendo a mim mesmo e a meu amigo essa liquididificação desconexa, mas que não posso deixar passar em branco com o sol transitando pela casa 12 no presente momento.


Com ele praticamente em tournée acima do paralelo 22ºS pensei nos elementos dessa composição.








Cenários:


- Praia de ondas aparentemente tranquilas, porém traiçoeiras de onde tenho medo por conta de um caldo que levei lá há 5, 6 anos;


- Um cemitério apenas para decoração;


- Ruas cheias de latas de cerveja jogadas no chão;


- Um videokê onde também se apresenta banda ao vivo tocando músicas antigas do Barão vermelho e dO Rappa;


- Outra praia próxima a um cemitério bem escura onde todos se perdem. Anexo a ela, um estacionamento;


- Um calçadão que leva até a barra de um outro rio entre morros de pedras;


- Um restaurante com festa de crianças e um a festa retrô daquelas que tocam The Fevers;


- Uma chuvinha que vem e vai e não sabe se fica;


- A parte de frente de uma casa com piscina e alguns mosquitos;


Personagens:


Ei ei, vocês viram onde eu estava escondido hoje?




- Geninho: ele tem uma bicicleta, o corpo um tanto delgado, mas diz que é segurança. Fica em frente ao restaurante e volta e meia ele some entre o calçadão e a praia próxima ao cemitério. Há boatos de que alguém sofreu estupro, mas o que se sabe é da possibilidade de ter maconheiros e pegações, para onde essa personagem se dirige;


- Tonico Pereira, como ele mesmo, para falar sobre o rolo de Stepan Nercessian e Charles Waterfalls;


- Uma ursa pintosa de RayBan arrependida de não ter ficado mais tempo no banheiro fingindo que estava lavando as mãos e conferir quem saiu de lá. Ela encontra a amiga na calçada e fica de cochicho, no misto de fofoca e desejo. Breguérrimo o que digitei agora, mas é o suficiente para descrevê-la com verossimilhança.


- Um mix de petroleiro, professor de artes marciais, vendedor de quiosque e garoto de programa. Ele está perto de ondas traiçoeiras, loucas como a sua própria história. Seu cliente maior não aceita que ele receba cigarros de outros caras. O caso é que se ele vai com a cara da pessoa faz de graça, pois entre uma cerveja  e outra, diz que gosta mesmo da putaria, sem a desculpa do "não gosto de homem, só faço pelo dinheiro". É a nova Gabriela Leite das Baixadas Litorâneas;


- Um roqueiro careca pseudo-magro de barba, lindo somente para eu ficar observando. Em seu cenário aparentemente há um coroa grisalho bonitão junto com outro que gosta de pagar cerveja para um rapaz mas novo da mesma banda do careca;


- A amiga do Geninho, que parece dar uma de segurança e protege meninos maconheiros na praia em frente ao resturante;


- Um bonitinho que passeia com o cachorro de madrugada;


- Um cafuçu malhado e semi-gordo que se mostra na porta de uma casa, conversa com algumas meninas perto de outro bar e some em um beco escuro;


- Uma figura que anda pela praia como quem tivesse num concurso de Miss de algum subúrbio e some nas mesmas brumas que o "segurança" vai;


- O amigo do petroleiro-GP que assiste a Tron, o legado;


- Um gordinho com a namorada no restaurante mas fixa os olhos durante 1 minuto, parado, observando os gordinhos que adentram o recinto;


- O prefeito gostoso da cidade que conversa com a senhorinha vizinha da venda porque é ano de eleições;


- O barbeiro que antes era só um "parrudo com barriga" e que agora é um "parrudo com barrigão" e ainda assim está muito gostoso, despertando desejos para além de uma aparada no cavanhaque;


- O rapazola que escuta hip hop internacional e Racionais MC para passar o tempo no posto de gasolina do pequeno distrito. Ele não sabe, mas tem uma beleza digna de qualquer desses modelos que vemos em revistas. Ele tem uma tatuagem no braço com o nome "Andreia" ou "Andrea";


- Muitos caras bonitos passando de bicicleta, de vários tipos, cores e modelos;


- O camarada do supermercado, aliás, 2. um do açougue e outro no caixa, creio eu;


- O quarentão no mercado que finge buscar óleo, mas está de olho em outra coisa;


- O barbudo magro e sua companheira no ponto de ônibus fazendo questão de encontrar um vazio para Cabo Frio, uma verdadeira impossibilidade em um domingo à noite;


- Uma maluca da Vila Capri indecisa, que não sabe o que quer da vida. Aliás se você for a Araruama e querer um balancinho com alguém deste bairro, um conselho de amiga: fuja! Dê preferência ao Parque Hotel, que é a outra calçada que margeia a Amaral Peixoto;


- O bonitnho que desce do ônibus, olha para trás e, no estilo Geninho, some perto do Extra;


-A doida que avisa a todos da cidade que meu amigo, de ascendência judaica, é muçulmano;


-Os entregadores de bebidas escandalizados quando escutam "o cara chupou os dois no ES";


- O músico que toca "Cidade Maravilhosa" para avisar: gente é hora de ir embora.