quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Equilíbrios

"Deletar, não! Não quero ser tão radical." Luane Dias

Há exatamente um ano, o Evandro aproveitou que eu passaria a última semana de férias do meio do ano fora de Araruama e me sugeriu: desligue o facebook por uma semana pelo menos e você verá o resultado. Foi uma experiência ótima, apesar de sempre aparecerem as mensagens desesperadas querendo reafirmar o sentido de urgência. Sobre isso a Eliane Brum tem um texto ótimo falando a respeito.

O caso aqui é que agora me bateu aquele senso de Luane Dias ("deletar o facebook não, não quero ser tão radical!") e pensar justamente num clichezão que é clichê por justamente ser ideal: um ponto de equilíbrio entre a existência dentro e fora da internet. Tudo bem que essa divisão para mim não é radical, mas quero pensar exatamente sobre pontos específicos em que essa distinção será necessária.

A última viagem para Curitiba me fez ver bem essas coisas. Pude curtir bem o passeio sem estar conectado 24 horas por dia e tudo o mais, ainda em que em certos momentos eu possa ter compartilhado uma foto aqui ou outra acolá em uma rede. Se eu me sentisse culpado em relação a isso e preconizasse "ah não posso fazer isso de jeito nenhum", aí sim estaria esquisito pois estaria postulando a mim mesmo uma proibição para algo que no fundo não me seria saudável.

Penso por exemplo nas ilusões de Escher do passeio que fiz com Matias e em como o tempo naquela cidade vive mudando. Pude sentir isso e depois ter um ótimo chá. O passeio que refiz 18 anos depois me faz reconectar com o menino que vivia numa época em que o máximo em fotografia era torcer pro filme de 12 poses não queimar (o de 36 era mais caro). Aliás me bateu uma emoção quando vi a mesma farmácia na esquina em frente ao Jardim Botânico na qual comprei o filme quando cheguei em Curitiba em 1994. Ao mesmo tempo é engraçado conviver com mensagens do tipo "onde está você?", como se houvesse uma cobrança para estar a postos. Eliane não está errada.

A pergunta clássica do mesmo Evandro: E como você se sente com isso, Odilon? Ele mesmo notou uma certa intranquilidade minha no regresso. Era como se tudo estivesse misturado ali: a vontade de rever as pessoas, fazer os passeios do jeito que eu quero, contar as novidades, carregar uma mala pesada e tudo isso pra ser vivido no "real" enquanto as "cobranças" do virtual estão ali. É angustiante, pesado até o momento em que paro, penso e digo, como aquele mene do cachorrinho "Qual a necessidade disso?".

O ponto de equilíbrio está justamente em seguí-lo, ainda que ele não esteja em seu perfeito ideal. Explicando melhor e sendo menos abstrato: se estou curtindo o resto de férias na presença de amigos do jeito que eu quero que eu continue fazendo exatamente isso a despeito de qualquer cobrança que possa surgir. Na verdade essas cobranças não são dos outros, mas internamente minhas. E é justo com elas que eu tenho que lidar de uma maneira mais tranquila.

Assim sendo, nessa busca da tranquilidade esse é o caminho necessário para mim conseguir uma melhor tranquilidade e qualidade de vida. Os equilíbrios são ideais? São...Mas que ao menos eu tenha o direito de perseguir o meu equilíbrio ilusório da maneira mais interessante e livre para mim, sem cobranças que possam encher a paciência.

Ps: A escolha de Luane para ilustrar esse texto e aquela foto desta celebridade nascida no virtual com esses óculos espelhados e mostrando em parte os seus olhos não foi à toa.