segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Adesivado


Adesivos! Adesivos! Tome seu caminho pela trilha figurinha-autocolante. Reluzentes todas elas. Que no final da estrada, a casa de espelhos, toda transparente, está tomada por completo por adesivos. Nem macacão de piloto de F-1 conseguiu tamanha proeza.

Mas fique certo de que a palavra são "stickers". E não leve um dicionário. Neste caminho eles não são de bom tom e há de provar pra este universo de que toda palavra estranha é dita com todos os efes e erres. Ainda que elas não signifiquem nada.

A loucura tem algo assim, não é mesmo?

Toque na casa de adesivos. Está mole. Não há mais espelhos, ainda que muitos deles em tinta fluorescente diga "si-mesmo"...Mas no apagar da luz, a tinta fosforecente, mostra outra coisa. Mostra nada.

E nada há dentro da casa. E adesivos se desfazem no ar.

Ali não há casas. Há. São todos com passos de tartaruga. Carregam suas casas também. Suas identidades. Seus adesivos. Para que todos vejam. Mas só os que forem de figurinha repetida. Fora da repetição tudo é um grande mar de tédio e bocejo.

Então era melhor dormir, para ver a realidade. Longe dos campos forjados, adesivados.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Olhar de si

Os existencialistas, a reboque de Nietzsche recusavam a ideia de um "si mesmo", em nome da mudança. Não me lembro do nome do pré-socrático (Parmênides?) que fala do conhecimento como um fluxo que muda, tal como um rio.

Lacan vem com o seu estágio do espelho em que para a emergência do "eu" é paradoxalmente necessário o olhar do Outro. O Outro do inconsciente internalizado em nós mesmos, mostrando onde somos onde não pensamos.

Nas redes sociais, fotos da academia, da viagem, marcações no foursquare, stickers do get glue, instagram e ganham mais significado que o exercício, a viagem, os lugares, os filmes vistos ou a comida saboreada. O prazer é puramente escopofílico. E o olhar do outro aprova esses espelhos tão turvos, já que o real, é indizível.

Enquanto isso, nos esquecemos do que aconselha Riobaldo em Grande Sertão Veredas, que o segredo da viagem é o caminho, e não o seu final. Mas ele era homem do sertão, de grandes distâncias...bem longe desses 2013 sem compartilhamento de ideias em si e só exposições narcisistas na nossa eterna busca de aprovação do olhar dos outros.