sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

1/366 : Catar feijão


O ano de 2016 começa com a minha rotina completamente alterada. E as minhas ziquiziras místicas me dizendo que há uma energia no ar. Pudera: antes do ano terminar tenho febre, cansaço e dor no corpo e não é dengue. Minha mãe tem quase o mesmo e o "dia de ano" é passado em boa parte dentro de uma unidade hospitalar.

Por outro lado esse estado tem feito ver muitas coisas. Eu me lembro desse poema do João Cabral de Melo Neto:

"Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.


Em princípio esse poema é metalinguístico, já que o fazer poesia era preocupação em algumas obras dele. Por outro lado, estar de cama faz perceber, pacientemente, como se dão alguns movimentos das pessoas. E o mais importante, de mim mesmo. Ver o que em mim é leve e oco, palha e eco.