segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Panela

"...mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulaçao produz a paciência" Rom 5,3

Teu amor, nosso amor, meu amor, amor de ninguém, amor que não era amor ou amor de verdade posto com tudo que tinha de bom e ruim. E na paciência me vem o conselho: o que me fez gostar de ti?

Sentimentos vieram como fogo, mas mandaste colocar uma pedra. Sou como tu e achei cômodo sem me dar conta de que sou fogo e terra. Sou como pedra.
Tudo é aquecido, até a pedra. E se tapa tudo depois o quem sai como explosão.

Tu pela pouca inteligência não saberias que éramos como panela de pressão. Eu sabia e me omiti por cinismo.

Na dança da agua quente e salgada busco as emoções. O fogo não é permanente. Nem mesmo o do sol. Nem eu mesmo, se é que isso existe.

Me desfaço em pedaços como o feijão espalhado pelo azulejo da cozinha. É mais que chegada a hora do almoço e fazer outro prato. Os dias são quentes e quero algo gelado como a tua expressão que odeia o choro de outro.

Farei isso com a paciência que me cabe. O que fiz, já se estabeleceu. Serei outro. Um novo eu mesmo essencial que não existe.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Apego

Deve ser essa a primeira vez que estou blogando pelo celular. Detalhe: ele nao é smart phone nem tem teclado qwerty. Por isso vou precisar de paciência para minha prolixidade e apelar pro t9.

Passado o momento metalinguístico vou colocar algo que estou há tempos pra postar.

Com os últimos acontecimentos nas Serras Fluminenses observei o fato de algumas pessoas terem morrido por quererem ficar em suas caras a despeito do perigo. Muitos acham que é coisa de pobre ignorante. Outros de rico apegado a bens materiais. Será que é por ai?

Quando ajudei o Osmar em sua monografia, reli e pensei sobre a teoria do apego. Ela coloca o apego a alguém ou algo como tao basico como comer, beber ou respirar. Ela contraria ideias comportamentais ou da psicanálise que coloca o afeto como algo subordinado a essas outras necessidades vitais.

No caso de desastres como o da serra, incêndios ou outras tragédias me fazem pensar sobre esta noção de apego que humanamente investimos nas coisas, pessoas e no fundo em nós mesmos como forma de evitar o desamparo.

Nesse sentido será que o cara que deu a vida por uma casa ou carro e nao admite perdê-los é diferente de alguém que nao larga um vício ou tem algum comportamento obsessivo? E os que não desapegam das pessoas amadas mesmo quando a relação já faliu? Claro que não posso fazer uma comparação simplista diante da tragédia. Até porque é o mesmo sentimento que faz um pai ou mãe voltar para casa e tentar tirar um filho que corre o risco de morrer com o desabamento. O apego vai se diferenciar de acordo com o que nós julgamos como vitais em nossa existência. Variáveis psicológicas, sociais e culturais devem ser consideradas. Só acredito que o apego- algo que me parece tão basico para vivermos-não pode ser desmerecido.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Sobre a D.I.V.A

Depois de estar sem computador em casa, ainda mais nos tempos atuais que internet é tão obrigatória quanto ter luz, gás e água achei que o Departamento de Investigação da Vida Alheia seria completamente desativado e que o clima de introspecção nas Baixadas Litorâneas me reduziria consideravelmente o material desta organização que tem filiais espalhadas em qualquer lugar do mundo onde tenham seres humanos.

O que ocorre, no entanto, é que sempre tem o maldito (ou bendito) orgasmograma, o famoso quem pegou quem, como na Quadrilha de Drummond. Por ele fiquei sabendo semana passada que uma figurinha desconhecida minha que se vendia de um jeito - muito caro por sinal - na verdade era outra coisa, bem diferente do que ela se propunha. E quando confrontada com a informação, ela, que jura que não liga para essas coisas, tomou Doril. Ela teve o azar de cruzar as minhas linhas do orgasmograma.

O silêncio dela me lembra muito, nesse sentido, o xingamento da personagem do post hermético anterior. É foda quando você é desnudado. Sempre aparecerá aquele menino irreverente a dizer "Gente, o rei está pelado!".

Todos nós caímos, até Jack, o cara.

Da janela lateral

Existem desejos que ele, naquela noite não quis admitir. No entanto havia no ar aquele falso esquecimento que deixa luzes acesas e a janela a vista de todos. Ele, apenas mais um naquela multidão de quadrados lado a lado de repente mereceu atenção. Não por quem ele era - as janelas confirmavam seu anonimato-, mas pelo que ele fazia.

Ela, mais esperta já tinha chegado a esse conclusão há muito tempo e, simplesmente não ligava.

Terminado o ato ele se dá conta de sua passividade. Ele que por uns breves minutos era quem estava literalmente por cima ainda que com a maior parte do corpo vestida (o que ele esconde?) de repente se viu ali, flácido, vulnerável ao olhar do outro. Esteve o tempo todo sem o menor controle e estava realmente solto quando se achava no controle da situação. O que acontece é que ele escamoteou o próprio desejo de ser, de alguma forma, o alvo do desejo e não só o que deseja aquela mulher que simplesmente não ligava. Desejo de um anônimo perdido em outra janela igual a dele.

Tão forte era isso que no fim apelou para um xingamento impessoal, a tentativa inútil de que era ele o dono do jogo. Tarde demais. Ainda que o olhar do outro o tornasse alvo de algo especial que ele, ao recobrar a consciência custou em admitir. Não, ninguém perdeu nada ali. Quem se perdeu mesmo, foi ele.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Praia esquizoide


Olá, meu caro, tudo bem com você

Hoje estive na praia e foi uma pena que você não estava com a gente. Garanto que você iria se divertir muito por lá, dada uma série de fatos realmente interessantes.

Você já me conhece há tempos e sabe dessa minha necessidade doida de sempre consultar as diversas teorias para refletir sobre fatos que eu deveria, a exemplo de Caeiro, sentir. Parece que estou buscando uma essência das coisas, mas não estou. Eu gosto do diálogo e da possibilidade de confrontar idéias. Evitá-las é tão covarde quanto estabelecer uma essência eterna para todas as coisas. Enfim, esse é o meu jeito.

Hoje pensei nos "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade". Nele, Freud menciona a clássica ideia do par exibicionismo e voyerismo. Em época de começar BBB começam a aparecer trocentos especialistas para falar da "modernidade" do tema (o texto do velho Zig é de 1905) ao apontar a sociedade de espetáculo que vivemos ou vem aqueles que pasteurizam tudo e resolver fazer um essencialismo biológico de quinta categoria negando ao desejo humano os seus aspectos sócio-culutais e até mesmo os psicológicos pelo imperativo da reprodução.

Passada a papagaiada cult o fato é que hoje parecia um típico dia de sábado e atípico para o que estávamos vendo durante a semana, eu e meu amigo. Ficamos por horas a espera de achar um ponto estratégico em meio a uma tarde de sábado cheia na praia. Foi então que avistamos um coroa que era uma cruza de Silvio Santos com Manolo Otero há 30 anos que estava com uma canga com desenho da bandeira brasileira e uma sunga combinando com ela. E perto dali dois rapazes gringos muito bonitos pediram, depois da nossa luta em fincar a barraca e achar sombra naquele que pareceu o ponto mais vazio da praia, para vigiar seus pertences enquanto ia na água. E um pouco mais próximo da beira, uma figura de boné com uma garrafa vazia de H2OH! na mão conseguia, como bom voyeur, ter olhos para os três momentos: os rapazes, eu e meu amigo e Silvio Otero com o amigo, amante, sei lá o que dele.

A água hoje estava melhor que ontem, mas as ondas não estavam de brincadeira. A minha sunga está em petição de miséria. E quem fica na beira acumula mais areia no calção, então parecia que eu estava todo cagado com aquela sunga velha, esticada e sem elasticidade, comprada nos tempos em que eu estava mais gordo. Não que eu seja magro, mas acredite em mim, eu estava maiorzinho.

Foi meu amigo que chamou-me a atenção para o lance da areia e daí, após refletimos, decidi que vou pegar a dica do chileno parecido com o Joey Fantone e comprar em uma loja em minha cidade uma sunga nova. Resolvi quebrar o protocolo de me secar de pé e sentei para diminuir a sensação de vergonha.

Eis que a praia começa a esvaziar mais e então aparecem novas pessoas. Esse movimento é engraçado, parecem as ondas que trazem oferendas da semana passada de volta para areia, enquanto é capaz de levar para si areia e, muitas vezes, pessoas. Por isso os salva-vidas estavam de plantão na beira do mar e apitando para quem resolvesse pegar jacaré em um ponto mais distante.

Saquei a câmera e comecei a fazer fotos, meu vício maior. E do nada aparecem dois rapazes e uma moça com a camisa de alguma ONG fazendo a limpeza da areia. Em princípio achei que eles iriam para outros pontos da praia, mas para a nossa surpresa eles resolveram ficar ali.

Falei aquela papagaiada freudiana do desejo de observar. Deve estar ligado a minha estrutura neurótica sempre vivendo na ambivalência da dúvida e da certeza. Olhar é o nosso meio de acesso a conhecer. E ao mesmo tempo que eles ficavam só de sunga, o nosso conhecimento e supresa aumentavam.

Aquele loiro, ah aquele loiro. Sempre eles! Não tirou a mão do pau em nenhum tempo que estávamos ali. Sabia que estávamos gostando e ele se exibia. Era um jogo que mexeu com esse lado ativo do voyeur com o passivo do exibicionista. Quando os nossos olhares se encontravam - ele tinha olhos verdes belíssimos - eu ficava tímido.

Outro dia escrevi um texto falando do norte do desejo e seus ideais. Ali não era nenhum bolsão gay e talvez por isso as investidas do olhar se tornam mais interessantes. Ao mesmo tempo era de se estranhar de que alguém que não aparentava ser um pay-per-view sexual com um belo corpo fazer tudo aquilo. Sabe como é cabeça de gordo e neurótico, ele precisa da dúvida para saber se é alvo do desejo de alguém.

O que eu tinha me esquecido, meu caro, é que a sexualidade tem a sua fase de auto-erotismo quando ainda não entendemos o corpo como um "todo". Naquele jogo de olhar e ser olhado havia por uns breves instantes a presença marcante da mão sobre aquela sunga e só. Sabe aquele lance que te disse da gestalt sobre figura e fundo? As mão frenéticas eram a figura.

Claro, teve momentos de observar o todo, o belo rosto e o corpo malhadinho sem exageros. Um sorriso meio sonso, além do amigo moreno dele de bunda pequena e vermelha e aquela moça cuja presença no cenário até agora eu não consigo entender além de ajudar no recolhimento do lixo. E olha que nem ela, e nem a família que chegou depois, inibia os movimentos do loiro.

Falando em gestalt aquele ponto ficou mais "pink" depois que chegaram três figuras que resolveram ficar ali perto. Havia um careca magro lindo com barba por fazer e lábios grossos. Esse é um dos vários tipos que o meu desejo eclético pistoleiro serial killer adora. Formou-se ali, naquele lugar aparentemente vazio, uma gestalt rosa. Lei da proximidade. E essa lei me deixava ainda mais doido quando o tal careca olhava para nossa direção entremeado pelas investidas do loiro.

Engraçado como esses jogos sexuais ficam fixos nesses pontos. O coração bate mais forte, há uma adrenalina e no fundo é mais um dos grandes teatros que todos nós participamos. No caso de nós homossexuais, o silêncio é uma tônica forte. Muitas vezes por não termos a liberdade da cantada direta - apesar de que muitas vezes ela possa vir a acontecer sim. Ou então, o maldito norte do desejo em seu aspecto aprisionador, impede que tipos diferentes se dialoguem. É um conflito que a diferença de corpos pode trazer e então ela prefere a "metafísica de não pensar em nada".

Não sei até que ponto faz sentido tudo isso que estou mencionando pois está tudo fresco - com trocadilho, por favor - na minha cabeça. Talvez seja hora de um bom descanso disfarçado, a exemplo do loiro, e se submeter ao próprio prazer. E deixar a roda da vida continuar com seu trabalho.

No mais, por hoje é isso.

Um beijo grande,

.O

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Até Jack, o cara, caiu! Parte 2

Vendo a entrevista do Neil Tennant ele fala sobre a música:

NT: "Jack the Lad" is about being an individual, daring to do what you want to do. The song refers to Lawrence of Arabia, Oscar Wilde, and Kim Philby. It's also about the application of the idea of individuality to masculinity and not worrying too much about falling down. When you're a Jack the Lad type, you can be the fool, too.

Três personagens originais em suas vidas e que em um dado momento, caíram. Lawrence estuprado pelos turcos, Philby teve que pedir arrego na URSS quando descobriram que ele era contra espião para os russos e Oscar Wilde preso e condenado.

E por mais original que possamos ser, um dia, como o Jack, caímos, nos ferramos. Deve ser esse o grande medo que nos ronda. Não estou fora disso, por isso me identifiquei com Jack, de alguma forma.

Até Jack, o cara, caiu!

Um video e a tradução da letra antes dos meus comentários




Jack, the lad - Pet Shop Boys

Lawrence no deserto
Como ele estava para saber?
Sob tanta pressão
dos homens de volta pra casa

Brincando com fogo, você deve estar louco
Você é apenas Jack, o cara
Brincando com armas, você deve ser mau
ou esconde alguma coisa, Jack?

Dizendo mentiras em público
Quebrando regras em casa
Debaixo dos lençóis
para outros papéis

Diga essas mentiras, você deve ser mau
Você é apenas Jack, o cara?
Festejando com as panteras toda noite
você deve ter cuidado, jack.

Não deixe eles tentarem contê-lo
Está é a sua única religião
Não deixe eles tentarem detê-lo
Você não é o único bobo

Todos nós caímos
Até Jack, o cara
Todos nós caímos
Até Jack, o cara vai cair

Philby no deserto
procurando por um telefone
esperando na calçada
por um telefonema de casa

Brincando com fogo, você deve estar louco
Você é apenas Jack, o cara?
Vire as costas para os amigos que você teve
Eles devem ter te machucado, Jack

Não deixe eles tentarem contê-lo
Está é a sua única religião
Não deixe eles tentarem detê-lo
Você não é o único bobo

Todos nós caímos
Até Jack, o cara
Todos nós caímos
Até Jack, o cara vai cair

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

BBB 11 - Primeiros Sintomas


Eis que havia na banca de jornal uma edição do "Expresso" dizendo que uma de suas gatas é a transexual do BBB 11.

Dois caras estavam lá dentro zoando. Um deles, o mais bonito, dizia que era um "desperdício". Ele achou desperdício a operação de transgenitalização da moça?

Engraçado que se eu escutasse essa conversa na adolescência, onde temos mais medo da homofobia que não distingue transexual do homossexual masculino, a tal conversa seria motivo de vergonha. Hoje eu comecei a rir da situação e, claro, da ignorância alheia.

Eis que Osmar ao sair da sua compra clássica de cigarros repara em um detalhe interessante. Após os comentários os caras começaram a reparar uma revista de armas.

Me lembrei de Lacan e a sua ideia de véu e de envelope. No véu o perverso fetichista, que não admite a castração, usa uma forma de "cobrí-la" daí o nome de véu. Pra ficar simples, pensemos em um camarada que tem fixação nos pés da parceira. Ou na revista dos nossos amigos desta tarde após constatarem o desperdício e assim garantir as suas próprias masculinidades.

Para essa situação eu prefiro a explicação de Freud que diria: ahan, Cláudia senta lá!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Todos nós nos sentimos melhor na escuridão

Olá meu caro,

Recebi a sua carta ontem à noite e confesso que quando a li as risadas foram inevitáveis. É impressionante como certas coisas que a gente debocha por ai acabam se concretizando na realidade de uma maneira até previsível, mas que quando nos acontece é inesperada.

Sempre damos boas risadas quando há caras atrás de outros e colocam "heterossexual" em sua orientação. Tem também os clássicos bissexuais, em que o gênero de seu objeto de desejo é tão flexível que os caras só vivem correndo atrás de homem. Tudo bem que tem todo aquele tratado psicológico dizendo que não se pode ter categorias estanques para a sexualidade e tudo o mais. Só que o problema é que a psicologia esquece da cultura e de um dado muito importante: a escuridão. É nela como você sempre procurou me mostrar que as coisas se revelam. E o que tem acontecido com você é um caso interessante.

Veja bem, você conhece um cara, um típico - se é que se pode usar essa palavra sem correr o risco de parecer essencialista e preconceituoso - representante da classe trabalhadora do Brasil varonil. E de repente ele pode nos "explicar" ou pelo menos de ser mais próximo daquilo do que se chama de curioso.

A figura sai da posição passiva de São Sebastião, daquele típico cara que só se deixa ser chupado como forma de garantir a sua masculinidade. Isso não é uma simples questão de desejo, tem cultura, valores sociais nisso. Aliás não sei porque o cara que se deixa chupar e não chupa se glorifica tanto de ser ativo se a posição que ele se encontra é tão vulnerável.

Agora rola uma certa interação contigo. Ele conversa antes ou depois do ato consumado. Permite até a masturbação mútua. E ainda te faz elogios quando ele te vê em plena luz do dia e projetando toda a sorte de personagens masculinas que povoam o nosso imaginário em você. E veja que rola até uma certa dose de ciúme e curiosidade por parte dele sobre o que tu andas fazendo com outros. E agora nas conversas nem de mulher ele fala mais, justo elas que mesmo no discurso poderia ser a garantia dele de conexão com o mundo heterossexual.

Você sabe que um de meus grupos favoritos tem uma música que se inicia com "os segredos da atração sexual". O nome dela é "We all feel better in the dark". É isso, no escuro, quando não há olhos dos demais a controlar e nem câmeras espalhadas no ambiente, nos sentimos melhor. Acho que parte do medo de escuro que temos deve ser o encontro com esse inesperado do desejo. E é o olhar que ele tanto deseja em plena escuridão, seja ela física ou dos fatos. Lembra-se de que ele reparou quando outro cara olhava para você. O reconhecimento de um terceiro deve ter mostrado o quanto você pode e deve ser desejado.

Sei que minha resposta parece confusa nesse ponto, mas não é muito diferente das atitudes dessa figura. Devo estar captando o ritmo dele conduzir as coisas. O que vai sair daí eu ainda eu não sei. mas a lição valiosa de que no escuro as coisas se revelam, essa ficará, independentemente do que possa acontecer por ai. Deve ser por isso que no fundo chego a conclusão existencialista de que as definições são impossíveis. Elas estão lá no escuro, mudas, junto com os preconceitos, amarras do desejo, formas de nomear as coisas, câmeras e tantas outras coisas que poderiam quebrar com a sua diversão de sempre.

Me despeço por aqui na esperança de que você tenha compreendido o que eu disse e que a situação toda prossiga em seu mistério a te revelar coisas novas no futuro. Se serão boas ou ruins, deixe isso por conta do tempo. Viva!

Um beijo,

.O

Para momentos B.U.A.D.A

Segue aqui um texto no melhor estilo "mensagem" da Ana Maria Braga pela manhã.


Sabe que existe alguém que você deve amar. Não se deu conta disso, mas ele ou ela está ali o tempo todo. Nos momentos difíceis, nos fáceis também.

Sim, ela tem uma extrema necessidade de dependência. Por mais que você não faça o gênero "eu não estou aqui para ser babá de marmanjo ou de mulher feita", não adianta que essa pessoa vai depender sim de ti e você dará toda atenção a ela.

Afetivamente ela é inconstante, mas uma coisa é certa. Esta pessoa está sempre em sintonia com o seu humor. Uma coisa é certa, ela nunca vai te dar um fora. É mais provável você, em um momento extremo da vida, pedir isso a ela.

De fato esta pessoa tem momentos que rumina pensamento e se perde em discussões intermináveis. O pior de tudo é que há grande dificuldade de você se desvencilhar dela quando esses momentos acontecem. E você vai descobrir que toda discussão de relação com ela será fundamental, necessária. Tem vezes que você vai achar que isso será uma perda de tempo desnecessária. Básico, toda relação é assim. Mas nenhuma "dr" será mais importante na sua vida do que a que você terá com essa pessoa. Esqueça namoro, casamento, relações de trabalho, filhos seja lá o que for. Essa discussão será a mais importante de todas.

O sexo com ela é perfeito e sem ela você não consegue ter sexo com os outros. Obrigatoriamente ela está contigo toda vez que você está com seu parceiro ou parceira. E você não enxerga nisso o menor sinal de promiscuidade. É engraçado que é a relação monogâmica entre você e essa pessoa que é considerada indesejável para alguns grupos mais conservadores. Sem falar que todo seu encontro com ela faz de você, de certa maneira, um ou uma bissexual, no mínimo.

Esta pessoa sim merece todo o seu amor, devoção. Claro que toda devoção desmedida pode levar à loucura e com essa pessoa não é diferente. Mas se você quer realmente amar outra pessoa, primeiro tem que passar pelo amor desta de quem te digo.

É possível haver separação, divórcio sim. No entanto isso custaria-lhe a vida. Há a possibilidade de viuvez, mas esse momento não será sentido por você. Garanto-lhe que não haverá sofrimento da sua parte quando isso acontecer.

E é fácil encontrá-la e reconhecê-la. Ao terminar de ler esse texto, procure um espelho. É ela a pessoa que tanto você procura.

Sobre a posse

Certas desilusões amorosas são capazes de trazer a questão: o que me causa a tristeza. É a perda do ser amado? É a sensação de não ser mais desejado pelo outro? É por que não o possuo mais? É difícil colocar em respostas simples algo que é tão subjetivo e ao mesmo tempo compartilhado por muitos: a dor do amor perdido. No entanto, analisando um de meus sonhos eu tive bons insights sobre isso.

O blog dos meus sonhos é muito bissexto. Tem sonhos até interessantes - daqueles que tenho a coragem de publicar, obviamente - que eu anoto o esboço em um papel e depois o perco. O último tinha dados interessantes: um vinho de boa qualidade em uma garrafa de plástico vagabunda, uma ex participante de BBB exibicionista querendo roubá-lo e não querendo deixá-lo para ser entregue em um orfanato.

Tem relações amorosas talvez que deixamos envelhecer como o vinho. Mesmo distante eles vão se enriquecendo, ganhando mais qualidade. O que ocorre é que o vinho é algo que nos causa torpor, por melhor que ele seja. Passamos a entrar em uma fantasia relaxante. E tenho que lembrar que bebida alcoólicaé a única droga que consumi até hoje, então a presença dela no sonho justifica essa necessidade da fantasia, do escapismo.

Muitas pessoas devem ter ouvindo a famosa frase de que não se julga nada pela embalagem. Por outro lado muitas vezes é bom fazer a inversão disso. Como no conto de Poe, a Carta Roubada, onde o comprometedor objeto do título está no lugar mais óbvio da casa do ministro enquanto detetives se perdem em técnicas sofisticadas de tentar encontrar a carta em algum canto escondido. Nesse sonho a embalagem de plástico talvez mostre que a qualidade das coisas nem é tão boa assim.

O plástico permite também outras associações. Uma garrafa dele é mais fácil de ser levada. Daí a idéia que trago no título desse post sobre a posse. Possuir a garrafa de vinho - o ser amado - da maneira mais fácil possível e manipuladora sendo ela feita de plástico reflete bem essa necessidade estranha da posse que há no meu afeto. E o plástico é resistente, não quebra e leva anos para se decompor. Essa resistência em não abandonar a fantasia fica evidente.

A exibicionista querendo roubar o que há de precioso pode mostrar o óbvio que não quero aceitar. Além disso ela pode simbolizar a necessidade de ser livre, de estar em novos ares ainda que roubando algo que me é tão precioso. O roubo dela é uma maneira de dizer: acorda, Alice!

O orfanato é uma necessidade infantil de ser amado. Crianças órfãs representam a carência escondida atrás de um posto de gasolina que poderia representar muito bem o meu lado explosivo, apaixonado, enérgico. A mesma energia que uso depois para acusar a ladra. Tudo bem que ela representa também, até pelo lugar que ela nasceu, a figura amada/idealizada de outrora. Encontrei uma maneira de realizar meu desejo de puní-la por roubar algo que é meu. Se eu antes estava com a Márcia e agora com ela, é que ela me roubou a tranquilidade e minha fantasia, ela me trouxe para o mundo real onde há desilusões amorosas. E isso o meu querido supereu não permitiu, obviamente. Até porque os louros para abater a minha própria carência afetiva - o orfanato- não deveria, em tese, ser desse espírito livre, mas do meu próprio ego. Ela mexeu num ninho de maribondos chamado posse.

Engraçado como uma mesma personagem pode representar eu mesmo, a outra pessoa e ao mesmo tempo o meu desejo sem controle, exibicionista, fútil e frívolo, como eles são.

O que me resta agora, passada a batalha da posse é fazer como no sonho e buscar o meu próprio caminho. Há adolescentes na rua namorando que necessitam do meu cuidado. Isso quer dizer que há um desejo de estar com alguém de uma maneira mais madura que a carência do orfanato sujeito ao charlatanismo do desejo que se engana por si só e se deixa enganar por outros. E esse cuidado implica responsabilidade, essa que só eu mesmo tenho a devida posse. A posse sobre mim mesmo.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Liquididificando o lusco-fusco

Sim, é horrível estar em pleno verão carioca com aquele clima de mormaço, chuvinha chata e rala que enche o saco e que nos acovarda dentro de casa. Saídas? No máximo para pegar aquele remédio e um pé de alface crespa, porque a americana não tinha. Americana só a gringa no caixa que deve ter pago a viagem dela em trocentras prestações e o brasileiro ao seu lado tinha que converter todos os valores para ela de real para dólares, o que ela fez deixar abandonado a bandeja de abacaxis cortados e desistir da caixinha de fruta-do-conde. Nunca imaginei que o valor em moeda brasileira assustaria alguém do chamado primeiro mundo um dia. Itamar, FHC e Lula, um beijo pra vocês três. Que a Vana não cague no maiô da enconomia.

Tudo bem, não há de reclamar. Hoje teve estrogonofe e seu medo das crianças estarem por perto da comida. É algo tenso, eu sei. Assim como a água da rua que molha teus chinelos ou a sua tentativa frustrada de não deixar a guimba de cigarro queimar o lixo do depósito da COMLURB o que te fez meter a mão em papéis sujos e te fez sentir como se tivesse brincado de Tio Patinhas no aterro sanitário de Gramacho. Tudo bem, peça ao nosso man-fetish de um filme alternativo que nunca rodamos para abrir a porta de serviço assim lavemos os pés e deixe as mãos para o x-14 lá em cima, para remover o cigarro e o chorume que não existe entre teus dedos.

O besteirol que passa na tv e a internet nos distraem. Mas o calor desse dia criam um clima kafkaniano no quarto a ponto que se não saírmos, nós, os Samsas do Posto 5, nos sentiremos pior do que qualquer inseto. A visão das areias hão de salvar o dia.

Atravessemos e tornemos isso uma visão em caleidoscópio com visões listradas, azul esverdeado, vermelho e aquele branco quase transparente que faz o coração bater mais rápido e esquecermos das dormências dos pés. Ali naquele ponto branco quase transparente corpos cavernosos e esponjosos fazem o trabalho de fluxo sanguíneo. O mesmo fluxo que dispara adrenalina e alegra.

Nesse caleidoscópio o vermelho está com duas mulheres deitado sobre a canga. O azul esverdeado corre contente com a criança e a transparência, ah a transparência. Como é difícil identificar tua voz. Só teu jeito te denuncia ainda que carregues o nome de uma mulher em seu ombro e não sei o que isso significa. No ano que passou estive com alguém que fazia o mesmo nas costas. Não importa, transparência, coisa que o Brasil precisa, alegra nesta tarde sem cor entre as pernas que se abrem no quiosque em forma de deck.

Hora de voltar, de cruzar de novo em tom azul esverdeado e ver as cores na esquina. Uma figura esperta há de chegar e colocar uma roupa que valorize seus atributos, mesmo tendo errado na cor do xampu. Quem será que vem para o seu encontro. Olhar no celular e olhos fixos no horizonte da rua que em 10 minutos um sorriso desperta e matamos, juntos, a charada do encontro. Aliás, uma bela charada.

Por isso pode-se dizer que essa meia hora foi, simplesmente, recompensadora.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ainda sobre astrologia

Lua em capricórnio na casa 5, coisa difícil de entender às vezes. Ai basta dar voz ao monstro interior que a gente carrega e como sentimos as coisas e pronto, há uma boa explicação: Odilon, galgue postos mais altos, se divirta com outros e quando você estiver por cima, ria da desgraça alheia de quem não foi legal com você.

Hermes

O novo ano astrológico será regido por Mercúrio. Entre tantas coisas ele rege a troca de ideias e está relacionado a aspectos racionais e lógicos.

Então estou que de março de 2011 a março de 2012 se a razão vai prevalecer ou se terei surpresas esperadas (isso mesmo, não é erro semântico não) da ordem do irracional.

domingo, 2 de janeiro de 2011

A terceira noite

Então fica combinado que teremos vários desencontros e ausências de sinais de vida. Essa noite tem cara de tédio, com uma chuva que em nada se parece com o verão. Melhor descermos e irmos até lá, hoje é de graça e aqui o tédio pode nos devorar.

Passemos, há um grupo de caras iguais na rua. Todos são carecas. Todos são gostosos. Todos usam camisetas. Qual o filme que vimos ontem? "A Onda", do professor que fala de autocracia e fala para seus alunos que mesmo o colégio não adotando uniformes formais, aquelas jovens já usam uniformes pela maneira que se vestem. Qual o nome disso? Sei lá, tem gente que chama de "sistema". Calma, que o sistema hoje vai dar mais o ar de sua graça.

Há aspectos positivos de marte e urano no salão, isso depois da saudação costumeira ao jornalista da casa, aquele que dá notícia de tudo e é mais eficiente que qualquer rede social. No entanto, os aspectos positivos partem e resta do lado de fora aquela senhora com a taça de vinho e o cigarro.

Ela afirma que há possibilidades para a gente, mas aquele lugar tem um sistema fixo e determinado que impede certas inserções nossas. Pode ser que haja uma exceção a regra, mas hoje não há saco para buscar exceções, porque na verdade nós mesmos já a somos, de certa forma.

Há uma sistah de uniforme interessante a meus olhos e que atrapalham os seus ao ver aquele cara que parece irmão daquele famoso personagem de série de TV. Ele é loiro, narigudo, tem olhos claros e a cada momento senta em um lugar diferente. Antes disso há aquele que se parece com seu pai que olha, olha e olha e não diz nada. Só que ele é amigo daquele coroa que estava com aquele gaúcho - foi tu que descobristes isso, guri! - que mostra para a gente o quanto a vida é tirana certas vezes. Ou pior, ele mostra como o sistema funciona e como nosso desejo está excluído dele.

Conversemos mais com a dona do lado de fora. Observemos os que entram e saem: o amigo da sstah de vermelho, aquela velha que já conhecemos de algum lugar, a gorda que lembra Maricotinha entre tantas outras figuras. E sistah, c'mon. Stop dancing in front of my friend. Ele que assistir o seriado, o que vai acontecer ali.

E o que acontece? Ele, o narigudo se esconde em uma das poltronas do canto quando achamos que ele já partira. Fume mais um cigarro, converse com ela, que adora ir naquela boate para ver os caras dançando de pau duro. Ela tem cinquenta anos, e foi no ano passado que, ao voltarmos da sessão de tarot com cinquentenárias animadas, dizemos que 50 é o novo 30. E termine isso, há uma surpresa passando bem na nossa frente enquanto subimos as escadas.

Passam aqueles dois. Um é "mais ou menos" tem a barriga projetada para a frente e a cara não parece boa. O outro parece um espírito de um natal passado seu, só que ele não teve tempo, mesmo com a ceia, para engordar daquele jeito. Fique tranquilo que é só um susto, assim como seu pé na poça d'água pegajosa. A gente, não por sermos do contra, mas a favor do nosso clima tropical saímos de chinelo que nos levam longe.

Dessa vez nos levam ao andar daqueles dois em labirinto. Veja, primeiros eles iriam para o salão, mas ao nos ver, desistem. Seguem atravessando a transversal. Depois atravessam a principal e voltam pelo outro lado como se fosse um "l". É tão louco o movimento que aquelas criaturas fazem que só de escrever, cansa. Quem não cansa é a criatura mais bonita que tal como a mulher de Ló insiste em olhar para trás em meio a alguns sorrisos. Essas almas, meu caro, querem muita reza.

Até que elas atravessam vagarosamente para o outro lado da outra avenida principal junto à praia e, timidamente e no meio da chuva que começa a cair de novo vão em direção oposta. Resta nos ver o solitário no poste antes de seguir para Rio das Pedras desenvolvendo um ponto de interesse geológico. E deixa aquele branquinho magro passar pro outro lado da rua e se divertir com a bebida que carrega para as rochas na outra ponta. A nossa noite já teve o estoque de coisas estranhas, mas que deixo aqui para serem registradas e nos perdemos, daqui a alguns anos, pelas nossas memórias traídas indagando "mas o que foi que aconteceu mesmo?". Nada, só foi a terceira noite de dois mil e onze.