segunda-feira, 28 de maio de 2007

Lapa, não!

Pessoas aglomeram-se em fila para compra de ingressos do show de Chico Buarque no Circo Voador, no centro do Rio de Janeiro


1) Gosto do Chico;
2) O último àlbum dele é chato;
3) Dá pra ir a pé até o local da foto;
4) Na minha infância ele dava show do "Forró Forrado" do Catete...e com programa na "Grobo".

Mas esse mico eu não pago.

Pronto, falei!

sábado, 26 de maio de 2007

Raiva

De acordo com o Dicionário Michaelis, os significados da palavra rancor são:



rancor

1. • sm (lat rancore) Ódio inveterado, oculto, profundo.
2. Grande aversão não manifestada; antipatia.
3. Ressentimento.
4. Ira secreta, malquerer.




Sou um homem rancoroso. Aliás, MUITO rancoroso. Talvez seja essa uma das mais importantes percepções da minha vida (quase) adulta. Tenho a incrível capacidade de guardar raiva quando algúem me faz alguma coisa que considero ruim. Tudo isso talvez em nome de uma aparência do bom-mocismo, do compreensivo, do cara legal. Máscara essa que pode ser a minha ruína também. "E para que sustentar essa máscara?", perguntava a minha analista.

Hoje mesmo um rapaz que mal conheço teve uma atitude extremamente arrogante para cima de mim. Claro que por mais que nós tentemos esconder a raiva ou o desapontamento ela aparece de alguma forma. O rapaz em questão teve a inteligência de sacar isso pela minha resposta e automaticamente me pediu desculpas. A partir daí começou todo uma discussão sobre o tema que motiva agora esse texto. Todavia nem sempre eu deveria contar com o bom senso de meus interlocutores e afinal, para que serve a raiva?

Outro dia um outro Alguém - esse Alguém com A maiúsculo mesmo, porque merece - teve uma atitude igualmente arrogante comigo e justificou a sua resposta por ter agido assim: "se sou arrogante até com minha irmã que eu amo muito por que eu não seria com você?". Minha vontade não dita talvez fosse dizer: foda-se a sua relação com sua irmã, isso é problema seu e dela. Claro que isso não ficou barato e daí veio o meu lado mais ameaçador que disse: se vier com arrogância pro meu lado vai ter revide. E eu me conheço bem, quando estou a fim de revidar a coisa fica feia, exatamente por não saber medir o teor da raiva, justamente ela que fica ali guardadinha. Talvez ela seja uma das coisas que meus olhos distantes escondem.

Talvez por isso eu goste tanto dos enredos que envolvem o "duplo": o Horla de Guy de Maupassant, "O Médico e o Monstro" de Stevenson, "O espelho" de Machado de Assis. Isso vale também para as telenovelas como "Mulheres de Areia" da Ivani Ribeiro ou das gêmeas Paula e Taís da novela atual do Gilberto Braga. Até mesmo a trasheira de "A Usurpadora" tinha algo bacana em função disso, mesmo que feito de uma forma muito caricata.

Será que a educação católica foi tão absorvida por mim para pensar/agir desta forma?

E dentre os tantos pares de opostos que surgem em nossas vidas existe o da Assertividade e o da Agressividade, ambos regidos por este sentimento chamado raiva. Se bem que assertividade envolve outras questões, como a da própria motivação em si..enfim. O fato é que a forma como a raiva pode-se manifestar pode-se dar de formas diferentes, sem no entanto precisar camuflá-las como eu faço.

Por outro lado existem pessoas partidárias do "eu não sou grosseiro, eu sou sincero". Eu tenho uma raiva profunda por esse tipo de afirmação, pois ela parece uma garantia travestida de sinceridade, para você ser estúpido com quem quer que seja, mesmo por razões completamente injustificáveis. Aliás, algumas pessoas que passaram pela minha vida e que são apreciadoras desse tipo de filosofia já se mostraram com comportamentos bem diferentes do que prega este credo. Ou seja, depois de se manifestarem de tal forma aparentemente sincera comigo e questionadas por mim por ter agido assim, preferiram ficar mudas. Me pergunto, cadê a sinceridade? É a velha diferença que nós psicólogos insistimos entre atitude (o seu posicionamento perante uma coisa) e comportamento (o que você faz de fato), atualizada para um contexto em que o próprio ego vale mais, desde que não seja questionada. Talvez seja ai- pelo questionamento - que a minha raiva encontra um caminho.

Uma raiva guarda talvez junte duas coisas..o prazer e a morte. A morte por ser um processo autodestrutivo. Prazer pelo fato de evitar a dor, o conflito real de ter que lidar com determinada situação, justamente porque ela causará desagrado.

Nesse ponto penso nas imagens de Vênus (o feminino, a sedução, a manipulação por vezes) e Marte ( masculino, raiva, guerra). Ou no par de opostos que norteia a nós todos: o pênis, órgão visível, que mete, que "machuca", que auto-afirma o masculino e que ao mesmo tempo é extremamente vulnerável, o viagra não me deixa mentir e a vagina, secreta, escondida, a que é "metida" e que por outro lado pode esconder uma força tamanha e sem falar no temor da castração e o misterio envolvido com ela. E quando menciono essas duas representações creio que elas está presente em todos nós, independentemente de sexo ou mesmo orientação sexual, como muitos podem supor. Pensei no meu rancor como forma de lidar exatamente com essa raiva escondida em nome da manipulação e da sedução que ostentam a minha máscara pessoal...aquela do "para que" indagada pela analista. Neuróticos-obsessivos têm uma necessidade patológica de ter o controle de tudo...talvez até da própria raiva. Mais ou menos como aquele resto de suco ou de água que deixamos na garrafa da geladeira para dizer que não dei conta de tudo, que não terminei com tudo, não fui um malfeitor que não pensou nos outros e que só viu a si mesmo.

"Vênus e Marte" ( Boticelli)

Saindo da viagem mitológica e pensando no assunto. Muitas vezes apelo para o tempo- senhor da razão- para deixar que as coisas se acertem. Já deu certo algumas vezes. Em outras o tempo avisa pra mim que não vai deixar espaço pro meu comodismo e que, sim, terei que lidar com aquele fato de frente, encarar os fatos sem escamotear o que sente. E isso dói.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Tudo é número

Ontem eu abro o jornal e vejo as dietas, ou melhor, as medidas dos médicos da moda especializados em dieta. Seus hábitos, seus defeitos..e claro, tudo devidamente convertido em números: idade, altura, peso, cintura, porcentagem de gordura no corpo...aquele amontoado de dados que, para quem é gordo, é um desespero completo. Foi a hora de lembrar da máxima atribuída a Pitágoras que diz "tudo é número".

Tudo é convertido em número desde o dia que algum pastor perdido no Crescente Fértil - eu acho - resolveu usar as tais pedrinhas para contar ovelhas e daí a palavra: cálculo. Era a necessidade de sobrevivência do homem aprendendo a poucos passos a se fixar na terra... e para facilitar, um sistema decimal, graças ao fato de termos dez dedos nas mãos.

Dizem que a escrita é a passagem da pré-história para a história. Eu incluiria, talvez, o termo, linguagem. Números são linguagem e desde então são tão onipresentes quanto as palavras. Número de dias para criar o mundo, número de apóstolos, número da besta, o ano da Diáspora, o ano da Hégira, os Sete Pecados Capitais, o número de sacramentos - 7 no catolicismo, 2 no protestantismo- a vela de sete dias, "trago a pessoa amada em 3 dias" (adaptado aos tempos modernos da compensação do cheque).

Números, senhas de banco, cartão de crédito, identidade, CPF, "digite sua senha, senhor! ...o sistema caiu." Números e mais números por todos os lados. Nem mesmo a psicanálise ficou longe disso, pois via Lacan, estabeleceu-se um código binário 1 e 0. A impossibilidade de dois se tornarem um, como no mito do Banquete platônico (quem ignora isso recomendo ver Hedwig and the Angry inch) e por isso "a relação sexual não existe".

E inevitavelmente estão eles ai de novo, os números, alimentando a neurose nossa de cada dia. Dos números dos jornais, das medidas, o número de calorias, a porcentagem de carboidratos - na boca de gente que sequer se lembra da existência da tabela periódica, outro amontoado de números - as medidas, a cintura, o busto, a milimetragem de silicone. E para não deixar o texto tão sexista, o número fundamental da existência masculina - hetero e exacerbada na homo - o tamanho do pau- aquele camarada que de vez em quando cai, tal como o sistema da caixa no mercado - e seus substitutos: o preço do carro, o preço do óculos da marca tal, da blusa x, do casaco y. Blusas e casacos pude colocar em forma algébrica, por variáveis, mas os seus preços jamais. Tem que ser precisos e redondos.

...e assim caminha a humanidade! Talvez para o 0...o 0 uterino, o 0 nada de antes da criação, o 0 da morte. Enquanto isso não ocorre, vivamos na incerteza do infinito, um oito deitado matematicamente representado.

domingo, 13 de maio de 2007

Ovelhas no paraíso, os bons no inferno

Como pôde? Dona Benta no Brasil e eu não atualizei isso aqui. Não seja por isso, vou corrigir essa falta agora mesmo.

No meio de tudo isso a Dona Rede Globo fazendo o possível e o impossível para levantar a imagem de um papa totalmente sem carisma. Ter posições contrárias ao aborto, uso da camisinha, união civil de pessoas do mesmo sexo, isso faz parte do script do Vaticano. Quem espera algo diferente com um novo Papa pode acreditar em cegonha e em Papai Noel. Claro que o estresse com o Papa é que essa criatura não se restringe a dar suas orientações para os fiéis da sua Igreja, mas tenta se meter nas políticas públicas dos países, tentando recuperar o prestígio que ela tem perdido não agora, mas há quinhentos anos, desde o dia em que se descobriu que a Terra - leia-se, a Igreja- não era o centro do universo.

E hoje dona Fátima Bernardes no JN enfatizando que os católicos que viram um protesto em Aparcida "anti-Bento XVI" responderam de forma pacífica. Neste ponto me lembro da música do Cake que diz "Sheeps go to heaven, goods go to hell".

O mais engraçado disso foi o encontro do Papa no Ibirapuera. Minha amiga dizendo "aquilo lá era o encontro da juventude nazista"...e eu arrematei "nada, era aquecimento pra parada Gay". Era hilário ver os seminaristas dando pulinhos altamente pintosos e claro, um tipo clássico pra quem é católico praticante e sabe que existe " a biba-grupo jovem"... ou são magrelas pintosas ou aqueles toiços "tímidos"...clássico! Ah, minha amiga identificou umas sapas, mas o meu gaydar pra sapa é algo assim, digamos, precário.

No mais uma "bola dentro" do Luis Inácio ao falar pra Sua Santidade que o estado é laico. Ai, chega de noite, eu vendo o programa da Lúcia Leme na TVE aparece um padre dizendo que o estado laico não significa ser inimigo da religião e que o poder público poderia suprir o ensino religioso uma vez que os colégios confessionais, que são de livre escolha do pai ou da mãe que coloca a criança no colégio, em geral são caros. Nunca vi tanto cinismo junto. Os colégios católicos estão no top dos ranking em termos de qualidade de ensino e, claro, cobram uma nota preta dos seus "fiéis". Agora já que a Igreja se diz a favor da caridade, porque deveria ser o estado a fazer algo que é da obrigação dela? Estado não é instituição de caridade.

Isso sem falar na posição favorável do Papa na excomunhão de parlamentares pró-aborto. Isso na semana em que os salários deles foram rejustados escandalosamente. Isso não cabe excomunhão? Imagina!

E nesta semana uma sogra que matou a nora em Queimados, cidade da Baixada Fluminense, foi absolvida do crime. A alegação do advogado foi bíblica e os jurados - 5 dos 7 eram evangélicos - absolveram a criminosa sob a alegação de que a morta era uma mulher "destruídora de lares" e que a morte dela foi algo bom para a "moral e os bons costumes". Até o filho da ré ficou inconformado com a decisão que caberá recurso e a promotoria vai recorrer. Na verdade isso serve para pensarmos que, enquanto damos muita atenção pros xiliques da Dona Benta, nos esquecemos das coisas que acontecem em locais bem mais próximos que o Vaticano com decisões muito mais absurdas.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Sobre o amor e a fé

Aniversário do feriadão tem alguns lances engraçados e, ao mesmo tempo, a abundância de dias livres dá uma forte dose de preguiça. Em função disso optei por uma comemoração simples, a de sempre, o bolo da minha mãe, a presença de alguns primos e o inevitavel "parabéns pra você". De qualquer forma eu gosto de comemorar até porque é uma forma de marcar o ritual.

Pensei em fazer algo no sábado mas desisti na última hora. Algo me disse que era para ser assim e assim foi. Preferi ir domingo nas "toiças" com a Fabiana e o Bruno e foi bem divertido, pela companhia deles. Está certo que em plena véspera de feriado o evento terminou lá pela uma da manhã e a música tava um saco. Mas a presença deles e de um povo maluco de Sampa no fim da festa foi fundamental para garantir boas risadas. Aliás é interessante passar esse "pós" aniversário com uma das minhas amigas (se não a mais) antigas e com um amigo novo que foi uma das benesses, um dos meus motivos de agradecimento de 2006. Isso em um dia que tinha começado por um certo baixo astral em função da morte do meu melhor professor de história no Pedro II.

E não falo isso como aquelas homenagens póstumas clichezentas que santificam o morto. Até porque ele sempre foi querido pelos alunos, os mesmos que lotaram em número de 300 o cemitério do Caju na última quarta-feira.

Fiquei me lembrando de coisas engraçadas que ele dizia como por exemplo, chegar na cadeira do dentista que o ouvia aos prantos "pelo amor de Exu, o senhor não pode arrancar o meu dente." Até que um dia quando perguntaram sobre a religião dele ele dizia ser agnóstico. Aliás foi a primeira vez que ouvi essa palavra na minha vida.

E ontem na missa de sétimo dia foi inevitável pensar nisso...uma missa para alguém com tal postura diante de Deus. Talvez é uma forma de reconforto para família, um ritual, tal como o aniversário.

Durante a homilia o padre falava de que assim como a fé o amor era algo difícil...pensei na semelhança entre os dois. Amor, assim como a fé, é narcísico. Assim como a fé, muitas vezes deixamos por conta do outro. Amor-próprio não depende da fé em si mesmo? E cada um, ou cada grupo não apresenta a sua própria versão para os dois? E os dois não são manipuláveis de acordo com os caprichos humanos? E mais ainda, não são duas invenções criadas por uma coisa fundamental que é o nosso desemparo...desamparo neste universo e necessidade de se ligar a um ser maior ou a uma idéia maior (para as fés sem deuses). O desamparo do útero e a necessidade de se ligar ao outro....tesão, paixão. amor e todas essas coisas.

Enfim, dois rituais, um de vida, outro de morte, as duas grandes questões nossas passando pelo começo desse meu ano novo. Que isso me gere frutos tão bons quanto a minha família, os amigos que estiveram comigo, o professor que tive e tantas outras coisas.