quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Diálogos

- Então amiga , passados 20 anos, fulano de tal não mudou nada, né? Tá com a mesma cara.
- Nada. Ele agora é "ex-viado". Casou com mulher, tem dois filhos e é crente fundamentalista homofóbico!!!
- Mas ainda deve falar "pobrema", né não? (#grammarnazi #preconceitolingustico)
- Ih menino, deve ser daqueles que fazem banheirão na Central e sai correndo ofegante porque fez o balancinho na pressa.
- Pois é. Esse assunto a senhora entende bem, né?

terça-feira, 15 de julho de 2014

Falasser

No ótimo "Diário de um analisando em Paris", vem esse texto:

"Glossário do analisando

"Parlêtre – termo inventado por Lacan a partir de parler (falar) + être (ser) para designar o homem como ser falante; deve ser entendido não somente como o homem é aquele que fala, mas o homem é aquele que é falado, isto é, aquele que é estruturado pela fala; em português: “falasser”."

Diário de um analisando em Paris, p. 187

E eu viajando mais ainda na maionese da associação livre, "falasser" soa como "falácia", a possibilidade de nos enganarmos como sujeitos falantes e falados ou ainda "falecer", o que é a condição final de todos os seres, ainda que o inconsciente se julgue imortal. Ou nas palavras do Sigmund:

"De fato, é impossível imaginar nossa própria morte e, sempre que tentamos fazê-lo, podemos perceber que ainda estamos presentes como espectadores. Por isso, a escola psicanalítica pôde aventurar-se a afirmar que no fundo ninguém crê em sua própria morte, ou, dizendo a mesma coisa de outra maneira, que no inconsciente cada um de nós está convencido de sua própria imortalidade
E que engano maior que a imortalidade.

sábado, 15 de março de 2014

No alto (e embaixo também)



I.

O urubu é um bicho feio. No entanto acho o voo dele uma das coisas mais belas de se ver. Adoro perceber quando eles aproveitam a corrente de ar para voar, sem bater as asas e planar. Vai ao sabor do vento, mas sem perder o momento certo de achar os animais mortos.

A vida do urubu não é diferente das outras. Depende da morte de algo.

II.

Sonho com planícies e montanhas. As primeiras me dão uma ideia de vastidão, dos olhos que se perdem em meio a luz do infinito, O horizonte que não tem fim. Me traz uma ideia de visão que se perde, mas com os pés seguros no chão.

Com as montanhas, que na minha adolescência era o meu ideal de lugar, tudo é mais fechado. Os caminhos são mais desafiadores. É cheio de meandros, por vezes é apertado. E num caminho uma pedra pode rolar e levar direto ao chão. Nela não há segurança.

Mas no alto dela a visão é ainda maior e mais impactante que aquela que tenho na praia.

III.

Ás vezes me prendo a certas coisas. A certas emoções ou ao represamento delas. E me acho seguro, como na planície e fecho os olhos para o horizonte. É nele também que posso subir as árduas montanhas. O mais importante não é chegar no cume, mas o caminho por onde se passa. O cume pode ser visto como um bônus, depois de tantas maravilhas, ainda que seja o norte dessa caminhada.

Ou às vezes fazer como os urubus e planar com o vento. E para dar vida a uma emoção, há algo que também precisa morrer.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Cruzeiro - Dia 2


Neste dia estávamos em alto mar, na véspera da chegada em Ilhéus. E a ótima sensação de ter dormido pela primeira vez em um navio. Sensação essa que, guardadas as devidas proporções, me lembrou o balanço da rede.

Ao rever os meus relatos, talvez seja o dia com menor número de acontecimentos. Isso quantitativamente.

Neste dia havia muita gente na hora do almoço, até que eu e Oz tivemos a sorte de encontrar um casal que resolveu dividir a mesa deles conosco. Carla e o Marido (nesse dia tenho que me referir a ele assim).

Eles vieram de Porto Alegre e assim como nós tinham comprados as passagens pela internet. Falamos muito de praias e ela citava uma praia em que ela tinha casa em algum ponto do litoral gaúcho. Enfim, eles eram beeeeeeeem diferentes do casal do jantar da noite anterior. E uma pergunta ficava no ar: por que diabos um gaúcho estava usando uma camisa do Fluminense?

Resposta no dia 3

Além disso foi o dia que o cover do meu amigo puxou papo com a gente no bar e daí descobrimos que ele era policial no Rio. Sua família, também de policiais, era da minha região. Engraçado que ele estava no bar e bebia vagarosamente, enquanto meu amigo fumava. E a tia do policial se divertindo em algum ponto do navio, porque não a vimos.

E falando em bar, foi nesse dia que eu descobri o rum "Captain Morgan". Além de ser uma delícia, passei no Free Shop e comprei uma garrafa #classemediacachaceiranaosofre E decidi que só vou abrir a garrafa no dia 27 de abril, meu aniversário.

Esse foi o dia em que só me ferrei naquelas máquinas caça-niqueis do cassino. O que me restou por um momento foi beber um drink chamado Tornado, enquanto o pessoal do pagode ruim do embarque tentava se enturmar com mineiros atleticanos...aliás era época da final do Mundial Interclubes.

E a noite foi feita na base do "tráfico" de Dramin. Eu explico: meu amigo encontrou na parte externa do navio um rapaz vomitando (para o mar). Foi aí que ele (o amigo) ofereceu dramin para o rapaz. Aliás eu e ele para nos prevenirmos, tomávamos um dramin ao acordar e outro antes da janta. E no meu caso o combo Dramin/Engov.

A moça do inglês perfeito*

Esses dias estava discutindo com o meu namorado sobre as manifestações anti-Copa do Mundo e eu, antes de tudo, questionei o que está sendo criticado e como essa crítica é feita. Daí ele me lembra deste vídeo, da menina que tem "um inglês perfeito":



Meu pé atrás sempre diz: sinto cheiro de coxinha frita no ar. Mas para não cair na clássica falácia ad hominem, resolvi prestar a atenção no vídeo e ver quais argumentos fazem sentido e quais não fazem.

Onde o vídeo acerta?

- Na crítica às várias remoções que estão sendo feitas em nome de obras que são feitas para a Copa do Mundo. E cabe lembrar que estas atingem, justamente, a população mais pobre;

- Colocar grandes eventos como uma panaceia que vai trazer, obrigatoriamente, melhorias para a população, especialmente no comércio e na infra-estrutura de transportes;

- Questionar sim se estes gastos estão de acordo com o que o evento pede e como o dinheiro público, pelos impostos, está sendo investido e que contrapartida, de fato, isso trará.

-Críticas feitas ao modo como as UPPs estão sendo implantadas e a forma como isso funciona como uma "maquiagem".

Dito isso, vamos aos equívocos deste vídeo:

- Ela parte de uma experiência pessoal ao dizer que toda vez que alguém a identifica como brasileira, a pessoa diz que vai para a Copa do Mundo. É válido você expressar suas experiências individuais, desde que elas sejam, colocadas como tais e não usar esse conjunto universo para a generalização de um tema muito mais amplo;

- Ela entrevista um número pequeno de pessoas para repetir aqueles clichês sobre o Brasil com a clássica e capciosa pergunta: "qual é a primeira coisa que vem a sua cabeça quando pensa sobre o Brasil?". A não ser que ela esteja fazendo algum teste psicológico projetivo, este tipo de pergunta (e o tamanho da amostra) são insuficientes para uma pesquisa mais séria sobre o tema. Talvez fosse o caso dela poder usar dados de pesquisas nas diversas áreas (da mais empresarial às Ciências Sociais) que pudessem dar mais estofo ao que ela diz;

- Na afirmação do custo da Copa, segundo ela, mais de 30 bilhões de dólares há vários problemas. O primeiro deles, é citar de onde ela tira esses dados. Isso é fundamental, pois as informações são variadas: os governistas falam em um custo bem menor do que esse enquanto oposicionistas colocam os valores em torno do que foi dito por ela. Exemplos destas disparidades podem ser vistos aqui e aqui. Nesse sentido o site do Globo Esporte, da famigerada Rede Globo (que tem interesses na Copa, mas é tida por governistas como membro do "Partido da Imprensa Golpista-PIG") apresenta relato parecido com o dela, mas cita a fonte e faz o favor de especificar, baseado nos dados do Tribunal de Contas da União, o total gasto, de onde vem cada quantia e onde isso será gasto. O portal da transparência também apresenta esses dados;

- O velho equívoco do "com esse dinheiro poderia se investir em educação e saúde". O problema no Brasil é fazer esses equações: educação= escola (prédio), saúde = hospitais e segurança = polícia. É uma visão reducionista e ao mesmo tempo demagógica. Investimentos nestas áreas devem ser feitos constantemente pelo Estado (não importa a sua orientação política) e a análise desses temas é bem mais ampla. Afinal, como se paga os salários dos profissionais das escolas, polícia e hospitais e, lembrando, que nem só de escola, delegacia e hospitais vivem a educação, segurança e saúde, respectivamente;

- A questão do "pagamos impostos para isso.." É a típica demonização do Estado, mas que é uma análise pobre a partir do momento em que não problematiza a forma como esse dinheiro é gasto e quais as relações desse mesmo estado com o grande capital. Em nenhum momento, do vídeo, tirando a FIFA, ela cita os interesses das multinacionais e de grandes empresas brasileiras em um evento como esse;

- O velho moralismo de imputar a violência às favelas - que sim, tem de fato problemas seríssimos nesse sentido - e de imputar ao trio "samba, festa e dança" o uso de drogas. Parece até aquele vídeo da Rachel Sheherazade sobre o carnaval. A impressão que se tem é que o uso de drogas só se dá quando se dança, tem festa e no samba.  Esse tipo de visão as respeito das drogas é extremamente problemática, preconceituosa e é preciso pensar de forma mais abrangente sobre o uso de drogas. E ela se esquece de que o tráfico de drogas não são exclusividade das "gangs". Tem muito playboy vendendo droga que não sabe sequer segurar um fuzil.

Enfim, poderia até traçar mais pontos, mas coloco aqui como eu vejo (e sim, posso ter meus equívocos) em relação a tudo que está sendo dito sobre a Copa do Mundo.

É fundamental fiscalizar e entender sim como o dinheiro público está sendo gasto. Não importa se são 10 bilhões de dólares ou apenas 1 real. Faz parte da democracia ter transparência nos gastos públicos. E isso não diz respeito apenas à Copa do Mundo, mas a qualquer investimento, seja na construção de um estádio ou no calçamento da sua rua feito pela Prefeitura de sua cidade.

Se há famílias sendo removidas, sim, isso tem que ser criticado, questionado. Bem como acontece com a remoção de comunidades quilombolas e indígenas Brasil a fora, muitas delas feitas em nome do desenvolvimento (vide o caso Belo Monte) e de que isso trará benefícios. Esse mesmo discurso sempre foi usado ao longo do século passado, desde a chegada de Vargas ao poder até a ditadura civil-militar e suas grandes obras.

As obras de mobilidade urbana são obrigação quando pensamos a situação que se encontra nas cidades. Vamos lembras que o Brasil começou o século XX como uma grande fazendão atendendo ao modelo agro-exportador e terminou esse mesmo século com a grande maioria das pessoas vivendo nas cidades. E isso feito sem o menor investimento em infra-estrutura, não apenas na mobilidade urbana, mas nos serviços que atendem às pessoas, como saúde e educação. Então a crítica à forma como isso (não) é feita é válida em qualquer momento, com Copa do Mundo ou não.

Tenho muito medo dessas falsas dicotomias que opõem "fazer grandes eventos" versus "deixar população na miséri". Considero-a falsa, porque vamos imaginar que dê a "loka" na FIFA e ela cancela tudo. Será que isso automaticamente trará benefícios imediatos para a população? É um tipo de relação causa e efeito que não faz sentido.

Devem ser feitas sim diversas críticas às formas de como o evento está sendo preparado. A FIFA e sua série de imposições que, mais do que "ferir a soberania", mostra como são espúrias as relações do governo com essa entidade e lembrar que elas não agem sozinhas, mas que temos trocentas empresas ligadas ao grande capital (seja o nacional ou o estrangeiro) com diversos interesses na realização deste evento. Também é preciso questionar se, de fato, esse evento trará benefícios para o país ou se isso resultará em prejuízo. Sim, pensar nesses pontos é absurdamente válido. Assim como a construção de grandes estádios que no futuro ficarão vazios, revelando-se grandes "elefantes brancos".

O que não vale é achar que dizer "não vou a Copa"  para os gringos é uma forma de protesto. Na verdade só revela o nosso velho complexo de vira-latas, como diria Nelson Rodrigues, ao não apontar os pontos de maneira mais profunda.

*o título é uma ironia, porque se sabe que o que se considera como pronúncia "ideal" ou "perfeita" está ligada a forma como os grupos dominantes de uma sociedade fala. A linguagem não é somente comunicação, mas revela também como usamos e nos deixamos usar pelo poder.





sábado, 15 de fevereiro de 2014

Otimismo

Por vezes sou dado a uma visão pessimista do futuro. Mas certos insights me permitem ver outras coisas em mim mesmo, como, por exemplo, o quanto posso ser otimista e com fé na Utopia.

Na minha Utopia ao invés de vigiarmos os corpos das outras pessoas, fazemos um uso melhor e menos neurótico deles....

(ou no popular)

A gente para de fuxicar os paus, cus e bucetas dos outros e usamos os nossos. Simples assim :)

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Ainda sobre a garrafa

Aquele momento em que paro uma suposta sequência de posts por conta de um insight.

Hoje conversava com um amigo sobre um rapaz que, diante da desilusão amorosa, começou a esculhambar o mundo: "as pessoas são canalhas, o 'meio' não presta, todos querem se aproveitar de mim" e, em um dado momento a fala foi dirigida para si "estou com nojo de mim, eu faço escolhas erradas sempre!"

Daí começamos a pensar em nossas histórias amorosas e de uma fala que esse meu amigo me disse há tempos sobre o quanto é importante, mesmo que dado relacionamento tenha um significado importante, há um momento de "esvaziar os bolsos" e entender que não dá mais pra manter a nossa cabeça obsessiva naquela relação que já se foi.

Lembrei-me da metáfora da garrafa na geladeira, que já usei em diversos textos meus. A água dentro dela já está quase no fim, mas daí você não bebe toda e deixa um restinho ridículo de água (que não encheria nem 1/10 de um copo) dentro dela para ter a sensação de que ainda há algo ali, que a garrafa não se esvaziou por completo.

Sempre parei nesse ponto, do horror ao vazio e ao fato de não encararmos a falta. Mas hoje pude ir mais além um pouco nesse pensamento.

Como assim?

Quando a água na garrafa está prestes a acabar, temos algumas possibilidades: tomar também aquele resto que sobrou, jogar o resto fora, encher a garrafa com mais água ou, ainda, deixá-la vazia na pia e decidir depois se a enche ou se vai dar a tarefa para outra pessoa.

Se o resto fica, todas essas possibilidades que falei ficam sob responsabilidade de uma outra pessoa. Estou cogitando neste exemplo caso de haver mais pessoas na casa e que aquele que deixou o resto não vai mais mexer na garrafa.

E por vezes é isso que fazemos com os nossos restos: deixamos para que outros tomem decisões sobre ele, para que ele sim se confronte com a falta que não é dele, mas sim nossa. Não é mais ou menos isso que fazemos quando, muitas vezes, estamos acusando o mundo pelos nossos fracassos amorosos?

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Cruzeiro - Dia 1

Tivemos que acordar relativamente cedo, mas almoçamos rapidamente mais cedo para chegar a tempo. Já a fila me parecia um grande ensaio antropológico da classe média. Enorme, sob aquela Perimetral prestes a ser derrubada em uma horrorosa Zona Portuária. E tome tempo de espera.

Daí após algumas horas chega a vez de ser atendido e uma guria entrega um formulário para meu amigo. Nele você preenche os dados e o número do cartão de crédito para ser usado em seu cartão dentro do navio. E perguntei pelo meu formulário e daí ela disse que era “apenas 1 por cabine”.
Inconformados, mais tarde, enquanto esperávamos a nossa vez – nossa senha era a de número 13- procuramos por uma outra moça do atendimento que disse que a tal guria estava equivocada. E depois de ver um bolo de formulários pude preencher os meus dados individualmente. Sem falar na ironia que a outra fez em relação a tal guria: “ah, coisa de gente iniciante, sabe como é”.

Enquanto isso uma galera tocava um pagode muito ruim, fora de ritmo total. Como diria Dona Reginalda, que sabia tudo de samba, parece com o samba daquela galera que acha que sabe lidar com o pandeiro e no fim tem que comprar uma cerveja pra dividir com 10, porque não faturam muito.

E eu com aquele senso de observação já consegui mentalizar alguns personagens: “Posto 2”, que era um loiro gordo-parrudo grandão, a “ursa” (porque era o mais bonito dentro desse “padrão”) que em todo lugar para onde íamos ela estava presente, o “Cramus” que era um cara bem parecido com um amigo que tem esse apelido, e claro, a “Marte-Urano”, termo que merece aqui uma explicação:

(No meu mapa natal eu tenho uma quadratura entre esses dois planetas. Marte, o planeta da vontade e do desejo – incluindo o sexual- se encontra em Leão na 12ª casa em quadratura com Urano, planeta que mostra onde você é mais criativo e contestador, em Escorpião na 3ª casa, o que, segundo a Astrologia, mostra um conflito entre desejo e transgressão, o que meu amigo identifica no meu tesão em homens mais velhos fora do ‘padrão’ hahaha. A coisa generalizou e hoje em dia todo coroa recebe essa alcunha: “Marte-Urano”. Enfim, as minhas amizades são sempre com dialeto próprio)

Enfim, a tal Marte-Urano ficava o tempo todo me olhando e coçando as partes, até o momento que se juntou a ele um grupo de mulheres, uma delas parecendo a sua mãe e aí foi o fim da brincadeira L
Então a nossa vez chegou e, no momento em que avistava os guichês, eu vi que a tal guria do “formulário único” estava lá no guichê. Foi quando eu disse a meu amigo “A gente vai ser atendido por ela e ela vai fazer merda”. E como numa versão trevosa de “O Segredo”, a tal lei da atração funcionou: fomos atendidos pela guria e ela entregou para gente dois cartões de outros passageiros. E mais um drama da classe média para trocar os cartões e corrermos para achar a entrada para a fila do navio e que TODOS os funcionários deram a indicação errada. Parecia que eu estava dentro de um filme que misturava Kafka com Além da Imaginação e uma siticom dessas da Fernanda Young/Alexandre Machado.

Enfim, a fila andou rápido e pude ver o navio, que para mim era um colosso e, para meu amigo, mais acostumado a cruzeiros dizia “ah Di, não é nada, há ainda maiores que esse”.

E finalmente entramos e já gostando da equipe. Na entrada havia um careca que era uma versão mais gorda do ator pornô Eddie Diaz e um brancão americano de cabelos negros e olhos azuis que mexiam com a imaginação. Enfim, não poderia deixar esse registro de lado ;)

Foi o tempo de entrarmos no navio, conhecer o camareiro – que parecia colombiano, muito atencioso – partir para a janta (e encarar o galerão e sorte de encontramos lugares para nós ficarmos de boa). Aliás esse momento foi ótimo, porque me lembro de meu pai dizendo o quanto era gostoso estar em um navio fazendo a refeição olhando para o mar.

E então o navio partiu e pela primeira vez na vida pude ver a Baía da Guanabara em sua entrada de uma forma mais próxima e boa parte do litoral fluminense. Era bem interessante como ao longe a gente se dá conta de como o litoral fluminense que vai da Guanabara até o Cabo Frio é relativamente pequeno e eu poderia vê-lo todo. Pensei que essa era exatamente a parte onde viviam os Tamoio, já que após o Cabo Frio era domínio dos Goitacá, meus ancestrais. Inclusive foi legal quando uma moça de Saquarema (cidade vizinha de Araruama) reconheceu a iluminação verde ao longe que era da Igreja Nossa Senhora de Nazaré.
Então chegou a hora do jantar à la carte, nós éramos do segundo turno. Para nosso azar tivemos que dividir a mesa com um casal de meia idade muito chato. No caso o marido que determinava tudo o que a mulher tinha que comer. Após fazerem a oração, comemos num certo silêncio e nem o vinho ajudou a me animar. Então chega o cheesecake de morango do meu amigo q e mulher olha com o ar de “eu queria, mas não posso porque meu marido exigiu que eu pegasse outra coisa”. Enfim, decidimos que a partir daquele dia não jantaríamos mais ali e sim no buffet self-service.


No fim da noite, antes de ir dormir, fiquei feliz por saber que havia bebida na promoção. Vodca Absolut por 18 dólares, mas não era ela que me interessaria mais ali. O lance foi aproveitar o balanço do navio e dormir confortavelmente.

Cruzeiro - Prólogo

Foi tenso quando meu amigo chegou pra mim e disse: “Didi, tenho uma proposta ‘indecente’ pra fazer pra ti. Vamos fazer um cruzeiro?”. E então após “n” argumentos (a bebida liberada foi um fortíssimo) eu tomei a decidi e parti do Rio de Janeiro-RJ em direção a Salvador-BA.
Um corre-corre para arrumar malas e remanejar as aulas dos meus alunos se formou, mas no frigir dos ovos foi tudo tranquilo. Agora, nas próximas postagens segue um resumo das minhas impressões durante aqueles 7 dias no mês de dezembro.


E também para parar de protelar o envio de textos para esse blog.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Eu Maior

Na semana que passou eu vi no Youtube o documentário "Eu Maior" (2013), com roteiro de Fernando Schultz e dirigido por ele e Paulo Schultz.

O objetivo do vídeo é falar sobre questões ligadas à vida e à felicidade e, em tese, sob diferentes perspectivas. Percebi ali um "tripé" interessante que reunia artistas, religiosos/espiritualistas e filósofos/cientistas e, ao lado disso, um esportista, a ex-Senadora Marina Silva, a presidente da associação LGBT de São Paulo, Greta Silveira e a liderança comunitária Vanete Almeida.

Eu gosto demais desses temas e gostei de vários depoimentos. Tinha entrevistados que gosto muito como o Cortella e o Rubem Alves. E gostei muito de pontos abordados pela Moja Coen, as histórias de Vanete e Greta e o depoimento do palhaço Márcio Libar.

O que realmente senti falta e daí minha zica com esse tipo de filme que discute esses temas é que ele coloca basicamente o tema da felicidade e da vida vinculado a um viés classe média/alta com aquele epaté orientalista que agrada certas pessoas desse segmento.

Explicando melhor: se quero fazer um filme com depoimentos daqueles que lidam com a espiritualidade e sendo esse filme feito no Brasil, onde estavam os representantes do candomblé, umbanda, e, por que não, de alguma corrente evangélica (o Pastor Godim seria uma pessoa ótima pro filme, por exemplo). O catolicismo, bem ou mal, tinha Leonardo Boff.

Com isso fica a impressão de que a discussão sobre quem somos é coisa de gente branca de classe média do Leblon que ama algo da filosofia oriental (devidamente mastigado ao gosto do freguês) e restringe muito o que se poderia ter um panorama mais amplo. As falas de Vanete, por exemplo, poderiam chamar a atenção para algo bem maior do que o reme-reme ao qual estamos habituados a ver quando esses temas são discutidos e não se resumir apenas a uma "participação especial"