sábado, 15 de março de 2014

No alto (e embaixo também)



I.

O urubu é um bicho feio. No entanto acho o voo dele uma das coisas mais belas de se ver. Adoro perceber quando eles aproveitam a corrente de ar para voar, sem bater as asas e planar. Vai ao sabor do vento, mas sem perder o momento certo de achar os animais mortos.

A vida do urubu não é diferente das outras. Depende da morte de algo.

II.

Sonho com planícies e montanhas. As primeiras me dão uma ideia de vastidão, dos olhos que se perdem em meio a luz do infinito, O horizonte que não tem fim. Me traz uma ideia de visão que se perde, mas com os pés seguros no chão.

Com as montanhas, que na minha adolescência era o meu ideal de lugar, tudo é mais fechado. Os caminhos são mais desafiadores. É cheio de meandros, por vezes é apertado. E num caminho uma pedra pode rolar e levar direto ao chão. Nela não há segurança.

Mas no alto dela a visão é ainda maior e mais impactante que aquela que tenho na praia.

III.

Ás vezes me prendo a certas coisas. A certas emoções ou ao represamento delas. E me acho seguro, como na planície e fecho os olhos para o horizonte. É nele também que posso subir as árduas montanhas. O mais importante não é chegar no cume, mas o caminho por onde se passa. O cume pode ser visto como um bônus, depois de tantas maravilhas, ainda que seja o norte dessa caminhada.

Ou às vezes fazer como os urubus e planar com o vento. E para dar vida a uma emoção, há algo que também precisa morrer.