quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Direito ao silêncio

Segue aqui um texto que acabei de ler do Frei Betto, que vale a pena confeir.

Direito ao silêncio

Frei Betto

Há demasiados ruídos à nossa volta. O coração sobressalta, os nervos afloram, a mente atordoa-se. É o televisor ligado quase o tempo todo, o fluxo incessante de imagens sugando-nos num carrossel de flashes.

O rádio em monólogo inclemente, a música rítmica desprovida de melodia, o som alojado nos orifícios auditivos, o telefone trinando supostas urgências, o celular a invadir todos os espaços, suas musiquetas de chamada destoando em teatros, cinemas, templos, cerimônias e eventos, seus usuários nele dependurados pelas orelhas, publicitando em voz alta conversas privadas.

De todos os lados sobem ruídos: da construção civil vizinha, do latido dos cães, dos carros na rua e das aeronaves que cortam o espaço, das motos estridentes, do anunciante desaforado em seu carro de som, do apito fabril disciplinando horários.

Tantos ruídos causam tamanho prejuízo à saúde humana que o Exército usamericano criou, em sua sanha assassina, um arsenal de “projéteis sonoros”, capazes de produzir som de 140 decibéis. Bastam 45 para impedir o sono. O rumor do tráfego na esquina de uma avenida central atinge 70 decibéis. Aos 85 produz-se uma lesão auditiva. Elevado para 120, o som provoca dor aguda nos ouvidos. Imagine-se, pois, o que significa essa tecnologia de tortura a 140 decibéis!

Nosso silêncio não é quebrado apenas por ruídos auditivos. Agridem-nos também os visuais. Assim como o silêncio da zona rural ou de uma igreja nos impregna de paz, levei um choque ao visitar, anos atrás, Praga antes da queda do Muro de Berlim. Não havia outdoors. A cidade não se escondia atrás de anúncios. A poluição visual era zero, permitindo contemplar a beleza barroca da terra de Kafka.

Nas cidades brasileiras, subjugadas pelo império do mercado, somos vorazmente engolidos pela proliferação de propagandas, exceto a capital paulista, agora em fase de despoluição visual por iniciativa da prefeitura.

Sem silêncio, ficamos vulneráveis, expostos à voracidade do mercado, a subjetividade esgarçada, a epiderme eriçada em potencial violência. Contra esse estado de coisas, o professor Stuart Sim, da Universidade de Sunderland, na Inglaterra, acaba de lançar Manifesto pelo silêncio, contra a poluição do ruído. O autor enfatiza que a cacofonia de sons que nos envolve ameaça a saúde, provoca agressividade, hipertensão, estresse, problemas cardíacos.

Todos os grandes bens infinitos da humanidade – arte, literatura, música, filosofia, tradições religiosas – exigiram, como matéria-prima, o silêncio. Sem ele perdemos a nossa capacidade de raciocinar, ouvir a voz interior, aprofundar a vida espiritual, amar além do jogo erótico meramente epidérmico.

Quando um casal de noivos me procura, interessado em preparar-se para o matrimônio, costumo indagar se os dois são capazes de ficar juntos uma hora, em silêncio, sem que um se sinta incomodado. Caso contrário, duvido que estejam em condições de uma saudável vida a dois, pois o respeito ao silêncio do outro é um dos atributos da confiança amorosa.

Assisti ao filme O grande silêncio, do diretor alemão P. Gröning, que nos convida a penetrar a vida de uma comunidade cartuxa nos Alpes franceses. Nenhuma palavra no decorrer de três horas de filme, exceto o canto gregoriano das liturgias monásticas e o bater do sino. Um convite à mais desafiadora viagem: ao mais profundo de si mesmo.

Quem ousa, sabe que lá se desdobra um Outro que, por sua vez, espelha nossa verdadeira identidade. Viagem que tem como veículo privilegiado a meditação. Na fase inicial, é tão árduo quanto escalar montanha para quem não esta acostumado ao alpinismo. Porém, em certo momento, é como se u’a mão invisível nos elevasse, tornando a subida suave e agradável.

Só então se descobre que, no imponderável do Mistério, não se sobe, se desce, mergulha-se em si mesmo para vir à tona, do outro lado de nosso ser, naquele Outro silenciosamente presente em nossas vidas e na tecitura do Universo. Aqui a palavra se cala e o silêncio se faz epifania.

domingo, 28 de outubro de 2007

Grilo na Cuca

Estava eu lendo esta notícia sobre a banda Hot Chip (famosa quem?) quando decidi baixar o disco deles. Ok, bem feitinho, mas nada emocionante. Mais do mesmo. Tão mais do mesmo que na hora em que eu ouvia a banda pró-São Paulo estava passando o cult movie disco brasileiro "Sábado Alucinante" de Cláudio Cunha mais conhecido por pornochanchadas ou pelo pornozão explícito "Oh Rebuceteiro!" do que por esse filme, uma versão mais descontraída e cinematográfica de Dancin Days. Enfim, no momento tocava uma música: "grilo na cuca"...curioso, fui no google e achei não só o nome da música e o cantor (Dudu França - Grilo na Cuca), como essa pérola aqui:



Enfim, muito mais interessante...e que se foda o Hot Chip e suas preferências....até porque banda que toca em Tim Festival, salvo raras exceções, serão esquecidas daqui a 6 meses.

Ah, o Dudu hoje é cantor evangélico, mas canta músicas do Frank Sinatra.

Influenza

Só para registrar:

Estou gripado

E isso é um saco!

terça-feira, 16 de outubro de 2007

É preciso idolatrar a dúvida

Contradição...dialética. Presente em várias formas do pensar..presente em nós mesmos. Somo os seres da não coerência e buscamos ela, mesmo em tempos em que a mesma parece distante. Sem falar em certas posturas coerentes que buscam combater outras posturas também coerentes, caindo no mesmo erro dogmático que elas...eu prefiro me permitir à contradição, já que a coerência, na verdade, não existe. É uma busca de tolos neuróticos que buscam em si uma espécie de certeza quase divina.

Falando em divino, talvez por isso me permita à coerência de ser católico, ir à missa quando quero, usar camisinha transando com alguém do mesmo sexo....incoerente, deixe-me sê-lo.

Para Cazuza, seu partido era um coração partido e as ilusões foram todas perdidas. Gosto de Wilde quando afirma nas palavras de Lorde Henry em "O retrato de Dorian Gray" o comentário "a fidelidade é para a vida emocional o mesmo que a coerência para a vida intelectual: mera admissão de fracasso".

Talvez a minha última noitada e uma frase longínqua martelando na minha cabeça ( "você se parece com nada e não lembra porra nenhuma") foi uma forma de revitalizar isso...longe de padrões, gostos específicos e fechados, encerrados como uma ridícula prisão de sei mesmo, incluindo aí a forma de se vestir e, pior, acreditar piamente que é uma pessoa "independente". Sou um homem de orgulhos bestas, admito, mas pelo menos o que mais gosto é saber que eles são, sobretudo, meus e me permito às minhas dúvidas "e tudo e tal".

Termino com versos do mestre Murilo Mendes, a despeito de certos leitores não apreciarem poesias:



Eu vim
Murilo Mendes

Eu não nasci no começo desse século.
Eu nasci no plano do eterno.
Eu nasci de mil vidas superpostas.
Nasci de mil ternuras desdobradas.
Eu vim para conhecer o mal e o bem.
E para separar o mal e o bem.
Eu vim para amar e ser desamado.
Eu vim para ignorar os grandes e consolidar os pequenos.
Eu não vim construir a minha riqueza.
Não vim construir a minha própria riqueza.
Mas não vim para destruir a riqueza dos outros.
Eu vim para reprimir o choro formidável.
Esse choro formidável que as gerações anteriores me transmitiram.
Eu vim para experimentar a dúvida e a contradição.
E aprendi que é preciso idolatrar a dúvida.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

It always comes as a surprise

Estou pensando nessa parte da música do PSB:

"You smile and I am rubbing my eyes at the dream come true..."

Por que inventaram a diferença de classes, a barata e a saudade?

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Muito franco

Se existe uma coisa que sempre comentei na extina "colcha de retalhos" e nesse blog é que uma coisa que me aborrece bastante é o tipo de pessoa "muito franca". Não falo da honestidade, da conversa amiga olho no olho, coisa que aliás faz muita falta hoje em dia.

Me refiro ao tipo de gente que se acha "muito franca" quando na realidade são muito grosseiras, mal educadas e se você fala algo a respeito delas na "mesma franqueza", ela, como diria dona Marta, sobre nos cascos e se irritam com facilidade. Tenho alguns amigos que, infelizmente, apresentam esse tipo de comportamento do qual eu tenho nojo.

Enfim, no meio dessa franqueza toda, vale uma lida no blog que dedico a minha querida mãe - sem ela saber é claro - no qual há uma interessante conseqüência de tanta "franqueza".

Ps: Você sabe que o mundo tá uma merda quando um post de homem com bunda de fora me dá menos IBOPE que os meus desabafos emocionais.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Nu com a mão no bolso!

Pois é, eu também vi o último capítulo de "Paraíso Tropical", aquele que considero para qualquer estudante de edição de video uma verdadeira aula. Aula de COMO NÃO DEVE SER EDITADO UM CAPÍTULO feito nas coxas. E tome perseguição interminável: Olavo e Jader por um lado, Bebel por outro, volta pro apartemento, revelações de novela mexicana, tiros e por ai vai incluindo a obviedade do assassino, coisa que Gilberto Braga tem apostado desde "Celebridade" quando Laura, a vilã-mor, era a assassina. Então desta vez não foi difícil descobrir.

A única coisa que valeu a pena de fato, aliás, foram duas: a Bebel no Congresso e o show de canastrice do Dênis Carvalho mostrando que o nosso parlamento é uma zona pior que qualquer puteiro cheio de canastrões - usando termo da Rita Lee, quando ela se refere aos políticos em geral. É um tal de "excelencia" pra lá, que muito me lembra o francês "madame" que era algo originalmente "chique" e virou sinônimo de cafetina. Excelência vai virar sinônimo de canastrão e corrupto. Isso sem mencionar a alusão direta à Mônica Veloso. Se bem que, vendo o que esta senhora tem feito para aparecer na mídia, posso dizer que tem muita menina no calçadão da Prado Junior mais digna do que ela. E que me chamem de fascista, não me incomodarei com isso.

A segunda foi a Marion correndo em pleno Posto 5 fugindo do Rappa. Apesar da inverossimilhança, a cena foi engraçada. Agora o troféu nada a ver dessa novela fica mesmo pela dublê de socialite falida- e como foi bem lembrado pelo extinto blog Papel Pobre, ex-mulher do Fabio Junior- Guilhermina Guinle vestida de gari da COMLURB depois de uma cena de agressão a empregada completamente esdrúxula. E comparado com o restante do elenco, acho que ela foi a única bola fora.

Outra coisa: como pôde o eterno bocó Daniel Dantas voltar para a eterna maluca histérica de novelas Beth Goulart - em excelente desempenho? E a chata nojenta da Dinorá não merecia ficar sozinha também? A Dona Iracema da Daisy Lucidi pelo menos era uma chata divertida.

Enfim, em meio a tantas incoerências fica aqui a Didica do dia para recordarmos:



Pois é, tem a Doris Giesse - a moça que fez a linha Ariclê recentemente - uma carteira de cigarros e claro, Vinicius Manne. Alguns leitores desse blog com certeza devem ter sido afetados pelo final dessa abertura. E para os mais curiosos , duas coisas: o moço que não é mais tão moço está em Eterna Magia (coitado) e também tem perfil no orkut. Pronto, falei!

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Liberdade

Essa palavra, como boa parte dos substantivos abstratos são complicados de definir. Nesses momentos queria ser como Alberto Caeiro ou como a letra de "Enjoy the Silence do Depeche, pois ambos têm a mesma opinião sobre as palavras "They can only do harm..." diz o hit, "há bastante metafísica em não pensar em nada", diria o heteronõmio de Fernando Pessoa. Já é alta madrugada e sob efeito da endorfina, maravilhoso componente químico natural, estou relaxado e - usando palavras do ex - netunizado.

Sendo assim, liberdade, nesse instante da minha vida pode ser:

- Escolher a camisa que eu quero sem me preocupar com o formato dela;

- Não ter que ver a televisão mudar de canal desesperadamente contra minha vontade;

- Não ter pensamentos obsessivos em situações sexuais mal resolvidas do natal passado;

- Poder transar sem script;

- Ver certos lamentos e não ligar porque conheço minimamente quem os faz e sei o quão egoísta é quem lamenta e está pagando pelo que fez. E não ser obrigado a ouví-las;

- Se dar conta de que a única mudança de humor com a qual sou obrigado a lidar fora do eixo profissional são as minhas...e não encho ninguém com elas;

- Tomar chá de sumiço do msn...oh coisa boa!

- Não me preocupar com a quantidade de posts neste blog;

- Começar a ler um livro, parar no meio, pegar outro e voltar a ler o anterior quando me der na telha;

- Ler aquele livro antigo da faculdade porque estou a fim e não por obrigação de um estudo que não me agrade;

- Ir ao cinema com um amigo inteligente, falar besteiras e voltar para casa;

- Almoçar com um grupo novo de pessoas e ouvir coisas novas e interessantes delas;

- Não ter que ouvir falar de Playstation por alguém com mais de 25 anos;

- Passear com um amigo de longa data pela Lagoa dando muita risada mesmo com o tempo chuvoso;

- Mostrar e ensinar para meus primos de 9 e 10 anos de idade como canta aquela música da Emília que está no blog do Marko;

- Tirar foto daquele prédio que acho lindo, ver que ela ficou horrível e voltar lá e tentar de novo.

Acho que no fundo acabei falando de felicidade, não de liberdade...que seja!