domingo, 29 de março de 2015

Sobre anjos e espelhos

No Reino dos Espelhos há um novo desafio. O Homem dos Vidros e o Homem das Molduras tinham um novo desafio do Rei: um novo tipo de espelho com uma bela moldura para a nova decoração de um dos palácios.

Parece que neste palácio em especial pessoas passavam por ali. Estavam na maioria das vezes nuas, passando por espelhos rachados, com fissuras. Alguns deles turvos. 

Depois da chegada da estátua de um anjo para a porta principal o Rei dos Espelhos achou que aqueles espelhos e aquelas pessoas não combinavam com o que ele queria para o palácio. Decretou então que ninguém poderia se exibir sem roupas na frente daqueles espelhos. Exceção feita a pouquíssimos escolhidos, que poderiam fazer isso em aposentos especiais sem, no entanto, compartilhar estes espelhos com outras pessoas.

Recebido o desafio, o Homem dos Vidros caprichou. Recuperou aqueles espelhos, só que dessa vez sem rachaduras e sujeiras ou algo do tipo. E ainda assim era o mesmo espelho. Fez tudo com afinco, pois estava disputando com o Homem das Molduras quem receberia o maior pagamento por parte do Rei.

E a tal estátua de anjo? Bem, parece que nos primeiros dias, antes da lua mudar de fase, ela ficou bela na frente do palácio para todos verem. Era uma mostra que o Rei queria em demonstrar o seu bom gosto, que era por vezes criticado por alguns de seus súditos. Só que após a mudança de fase, a estátua voou para a parte de trás do palácio, justamente onde era sempre pichada e maltratada por pessoas que queria deixar sua marca ali. Não adiantava colocar na parte de frente de volta porque à noite ela voltava.

No dia combinado o Homem dos Vidros mostrou seu trabalho. Além da restauração, seu espelho tinha uma capacidade especial de não mostrar mais a parte genital de ninguém, para o caso de alguém vencer a guarda do palácio e cismar em se exibir sem roupas. O Rei aprovou, mas ao que parece, ele deu maior pagamento ao Homem das Molduras, por estar mais encantado com o trabalho deste. Quando perguntado, ele respondeu: 

- Um espelho nunca pode ficar separado de uma moldura, e estas em especial estão lindas". 
- Mas Majestade, esse material da moldura é sabidamente ordinário. O trabalho feito no vidro do espelho é infinitamente superior- um dos Conselheiros o advertia.
- Não importa. O que importa é que quero uma moldura. Vidro, todos eles têm.

E enquanto o Homem dos Espelhos caminhava resignado em busca de trabalho em outros reinos, ele via indo também na mesma direção a estátua que voava. Dizem que ela gostou daquele período divertido, de parecer importante, mas gostava mais do lugar de onde partira antes.


segunda-feira, 23 de março de 2015

Metalinguagem

Prolixo e confuso do jeito que sou, sempre tenho um texto para falar do blog em si. E do quanto eu poderia escrever mais, e blá blá blá.

Sinto falta de publicar mais aqui. Ano passado, 2014, foram apenas 10 postagens. Coloquei como desculpe a morte do meu pai, no começo de maio daquele ano, para dar um tempo e não escrever mais. Como se isso impedisse de pensar ou até mesmo ter a vontade de escrever.

Eu tenho um caderno com anotações básicas sobre temas que eu poderia pensar melhor a respeito e colocar aqui. Deixei em algum canto e não sei onde ele está agora. De qualquer forma, por incrível que pareça, o que mais tenho falta em escrever é mais que ter as ideias em si, mas na forma como eu posso organizá-las. Meu desejo em ter poder de síntese e bom encadeamento das ideias ainda continua.

Só que de repente sou da escola Freud-Breton da associação livre, do texto solto. Mentira! Posso até ter alguns assim, não sei se já os publiquei alguma vez - ah, me lembrei, já fiz isso sim-, mas no fundo desejo colocar mais coisas por aqui.

O título deste blog também reflete bem esse meu jeito de ser, de ter várias ideias ao mesmo tempo na cabeça. O mais engraçado é que nem sempre me mostro disposto a mostrá-las. E há quem repare nisso.

Por exemplo: lembro-me de uma vez que fui me encontrar com um cara que conheci no site azul. Daí nos vimos e tal e por algum motivo eu só o observava e não dizia muita coisa. Ele me disse que eu tinha cara de ter muitas ideias ao mesmo tempo, pela maneira com que eu o olhava e pela forma de eu falar. Eu dei uma risada, mas até hoje não entendi a razão da presença dele ter me provocado um certo desconforto. E olha que ele era um cara bonito, bom papo e tudo o mais, disse-me o mesmo. Mas como diz a minha queria amiga Biulah: faltou elã.

Espero encontrar de novo esse elã para ser devidamente liquididificado. Eu gosto disso, escrever, desde os meus 3 anos, com as letras de forma na parede de casa, para desespero dos meus pais.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Amanhã

Amanhã o dia vai nascer lindo. A luz do leste vai vir pela janelinha do banheiro e vai direto na parede, toda azul. E nela não terei a menor lembrança do guarda roupas que o escondia. Prateleiras, imagens, fotos...decoração. Uma sensação de que algo ali, naquela luz tem a minha marca.

E amanhã andarei em torno do pedaço da laguna que é quase outra laguna, onde ela quase se fecha. E então pegarei nos próximos dias a minha barriga e vejo que ela diminuirá. E nos outros meses nadarei até onde puder e terei tônus, e terei beleza e terei a vontade de ter prazer ao ver meu corpo nu na fotografia que ainda não tirei.

A nudez de amanhã será no mar. Ou em algum lugar de água doce, algo que tem a ver mais com Oxum. E então me sentirei mais livre, mais próximo do que eu acho natural, ainda que pense que natural não exista. Será natural, Do meu jeito, porém natural.

Terei uma cama grande onde passarei horas e horas com ele. Não existirá pressa, nem vergonha nem a vontade de sair correndo depois de gozar para poder se limpar. Nada disso terá sentido, apenas eu e ele finalmente tendo mais intimidade. Sem desculpas de prazos ou correrias. Sem pensar nas tarefas que precisam ser entregues amanhã.

Quando escreverei mais, Postarei os textos que não escrevi ainda. Onde vou emitir toda opinião. E ainda escreverei um livro, que será aclamado. Que me poderá permitir ser um tanto blasé e escolher para que audiência eu vou falar...

E quando tudo isso cansar, amanhã eu verei mais estrelas do que as que vi ontem e as que não vi hoje.

Amanhã, amanhã, amanhã...