domingo, 26 de junho de 2011

Da homenagem


O post de Osmar no Facebook mas a indicaçao do Gustavo também làa me moveram a escrever esse texto a partir de umas boas reflexoes que tive nesta caminhada de meio da tarde de domingo. Eu no pacato condominio burgues e a Parada Gay rolando solta em Sao Paulo. Alias o texto é esse aqui

http://rash-sp.blogspot.com/2011/06/nem-tas-nem-kassab-revolucao.html

Por mais que o texto pareça coisa de militantes imaginarios revoltados ou coisa do tipo ele aponta para uma questao interessante que ha tempo tenho pensado: a inclusao (ou suposta inclusao) do homossexual atraves do capital.

Pensando nas coisas ate o feudalismo, a sociedade ocidental se baseava basicamente na divisao entre os que trabalhavam duro (os servos) e os nobres. No meio do caminho surge uma nova classe, a burguesia, que "ressucita" o dinheiro, as cidades ate as coisas culminarem na Revoluçao Francesa, marco para a tomada do poder por essa classe. Faço esse retrospecto historico para lembrar que esta classe trouxe ao mundo a ideia de que com trabalho arduo e dinheiro, pode-se tomar o poder, antes destinado a somente uma minoria "escolhida por Deus".

Esse reflexo aparece na nossa sociedade, heredeira e continuadora desses ideais em que diversos grupos sociais reivindicam seus direitos a partir da ideia da igualdade, outra bandeira que vem desde os tempos da revoluçao que citei. E ao que parece é comum o argumento de que "gays consomem, gays gastam mais, gays tem mais dinheiro" como forma nossa de conseguirmos a nova versao do titulo de nobreza no seculo XXI: a cidadania.

Em materia para a Revista O Globo hoje, a entrevista com Carlos Tufvesson ressaltam esses mesmos argumentos em relaçao ao turismo gay.

Um paralelo pode ser feito com a questao racial-social nesse singelo exemplo que me vem a mente: Ivete Sangalo e Ronaldo Fenomeno - ricos evidentemente- tentaram comprar uma casa no Jardim Pernambuco, enclave no Leblon, zona sul carioca. Ao que parece houve uma recusa dos moradores venderem suas casas para esses senhores, uma vez que nao sao "pessoas de classe" apesar do dinheiro que possuem. No caso de Ronaldo ainda teve o adendo "imagine ele com aquele povo do suburbio fazendo pagode aqui".

Este exemplo mostra que ainda temos resquicios da Idade Media nas relaçoes sociais e que o dinheiro nao é o redentor, ao que parece. Cidadania, igualdade deve ser vista em um contexto global que ofereça direito a todos. E vou repetir o cliche, ja que as coisas nao parecem claras: independentemente de classe, etnia, genero, orientaçao sexual, religiao etc e tal.

Partido dessa premissa e que Osmar comenta no facebook é mesmo absurdo que a Associaçao da Parada resolva homenagear o sr Marcelo Tas. Ele que capitaneia uma serie de paspalhoes que dao exepediente as vezes como humoristas nas horas vagas que igualam a grosseria pura e simples ao humor "politicamente incorreto". Momento de me lembrar da fala de Flora de "a Favorita" que disse ao Dodi: "ironia é para gente engraçada e inteligente, e voce nao é nenhum dos dois".

Na falta de ironia sobram declaraçoes racistas, sexistas e tantas outras na trupe do Tas, que ao que parece andou ofendendo os baianos no ultimo carnaval. Podem me chamar de tio chato que quer dar uma de correto e se acha imune de preconceitos. Nao se trata disso: eles querem ser o artista e eu sou a plateia a ver o show pifio desses camaradas.

E nesse show ruim acho péssima a ideia da Associaçao que deve ter escolhido Tas nao somente pela sua atitude - sim corajosa- com sua filha no proprio programa que apresenta. Se voce està em um movimento social tem que ter em mente que como movimento ele se conecta com varios outras questoes da sociedade. E vale lembrar, o que seria do movimento gay se nao existisse o feminismo, o primeiro a questionar os valores patriarcais?

Nao quero e nem estou fazendo militancia barata. Mas cabe lembrar que a mera escolha deste senhor me parece uma forma também de agradar ao tiozinho que acha um horror ser gay "mas o meu filho é honesto e pior se ele fosse ladrao ou fumasse maconha", como se a homossexualidade fosse dos males, o menor e nao uma orientaçao digna de respeito e direitos.

sábado, 18 de junho de 2011

Ai que calor!


Eu bem que poderia fazer trocentos mil comentèarios sobre Miss Tacuarembo, musical uruguaio de 2010 dirigido e escrito por Martin Sastre - que faz uma ponta logo no começo do filme como o cara que seleciona participantes do reality show "Tudo por um Sonho"- baseado no romance de Dani Umpi. A trama é simples digna das tramas da teledramaturgia latino-americana: uma moça resolve sair da sua pequena Tacuarembo, no interior do Uruguai em direçao a Buenos Aires com o sonho de ser uma cantora famosa. O hilario é que ela trabalha em um parque tematico catolico chamado Cristo Park onde da expediente como uma parte dos 10 mandamentos ou Maria Madalena. Some a isso lembranças da sua infancia e personagens que por mais caricatos que poderiam parecer é o que faz a trama ser bem interessante.

Sastre acerta em cheio ao costurar referencias dos anos 80 e 90 no filme. Ele coloca com maestria sem embolar Flashdance, Madonna, EMF, o perfume de vidro-bolinha da avon e dialogos que fazem referencia aos Tupamaros, grupo de guerrilha de esquerda uruguaio, pais que assim como o nosso passou pelo processo de redemocratizaçao nos anos 80.

As musicas sao uma beleza de ouvir, assim como a dança a coreografia e o melhor de tudo: o filme é um chiste perfeito a elementos do catolicismo. Esqueçam filmes de pseudo-revoltados a fim de chocar a sociedade judaico-crista ocidental. A zoaçao é leve, divertida e isso permite ao filme dar otimas alfinetadas que talvez outro genero nao permitisse: Jesus é sexy, dança e da pinta. Santo Expedito parece um modelo e Sao Sebastiao aparece em um dos numeros de dança e musica como uma maluca pintosa.

A dicotomia personagens vonzinhos X viloes é feita de uma forma que nao parece chata e que os remete, justamente, às telenovelas. E graças ao filme fiquei conhecendo a musica do "passarinho quer dançar com rabicho a balançar" na versao em espanhol que provavelmente foi hit na "Banda oriental" nos anos 80. Enfim, um filme que vale a pena ser visto mesmo por aqueles pouco habituados a musicais, como eu. E como bom catolico "menino da freira" eu me diverti muito e gargalhei com as referencias.

ps: o teclado hoje carece de acentuaçao

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O que carregamos nos bolsos?

"Parte de nossa neurose é o desejo onipotente de ter os nossos bolsos cheios de verdades e certezas".

Essa é a frase de Rubem Alves lá no meu Facebbok. Usualmente as pessoas gostam de colocar frases assim como forma de criticar as outras. A primeira vista, no meu caso, é como se eu fosse o não-neurótico sem certezas no bolsos que colheu a frase por achar que eu poderia criticar aqueles que são assim. Ledo engano, essa frase foi escolhida por pura identificação.

Vejo aqui minha tia acompanhando o culto do pastor lançando não certezas para fazer sua cabeça, mas certezas com as quais ela se identifica. É como aquela que vai na cartomante - Machado de Assis mostra isso com maestria- para ouvir exatamente aquilo que quer ouvir.

Interessante que esse desejo é onipotente. Gosto dessa frase. Me lembrei de Deus, o ser onipotente que tem todas as certezas do mundo porque Ele o criou. Penso que as certezas que carregamos nos bolsos, nos olhos e repetimos com a língua é uma maneira de sermos o centro de tudo, de sermos o próprio mundo. Por isso quiseram queimar Galuleu quando ele resolveu contrariar que o nosso mundo não era o centro das coisas. Tudo isso em nome de certezas que queimaram, mataram e torturaram.

Será que as certezas servem para só sustentar nosso desamparo? Ou terá nela uma desculpa para exercemos nossos atos mais perversos com chancela de "normalidade"? Em outras palavras, certezas para podermos ser cruéis com os outros.

A vida tem sempre me mostrado o meu próprio desejo obsessivo. De certa forma é isso que ele quer, a possibilidade de ter um conforto aparente e a justificativa para ser cruel. Por isso sempre digo que é bom conversar com o monstro que habita dentro de mim, falar diretamente com ele ao invés de escondê-lo. É bom tirá-lo de dentro do bolso e mostrar que ele não pode absolutamente nada diante da realidade.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Da escuridão

Olá,

Ontem você estava enjoado e talvez por isso me sacou uma pergunta: "Quando você começou a namorar, você se julgou inexperiente?".

Nunca tinha parado para pensar nisso.A vida não tem manualde instruções nesta área. Alguns tentam, sejam nos livros religiosos, psicoterapias da moda, auto-ajuda ou qualquer outra coisas dessas, mas para mim não vi nenhum significado nessas coisas justamente por não ver que para me relacionar eu precisaria de um currículo e uma carta de referências. Inexperientes somos quase sempre.

O meu começo é engraçado, porque foi ter um relacionamento para não ter. Quando se está com alguém que é sem graça, feio e sem humor interessante o que eu queria mesmo era a escuridão. Sabe a cor negra que absorve todas as cores e nada reflete? Era por ai. Estava com alguém que adorava cores bizarras e coloridas mas construímos uma relação para nada refletir: a minha sexualidade, identidade e minha auto-estima.

As cores do arco-íris, mais vivas e que representam melhor nossa sexualidade do que as faixas de cor marrom daquele universo que conhecemos, foram surgindo pouco a pouco. E a saída foi a relação amorosa um uma de suas formas - mesmo conhecendo seu sábio conselho de que o amor é um só - a amizade. Ao descobrir com quem compartilhar minhas ideias, desejos, alegrias, momentos felizes e tristes (sim isso está parecendo enredo de música cafona ou mensagem da Ana Maria Braga no PowerPoint com imagens dos Alpes suíços) para que pouco a pouco minha identidade fosse construída e, na reflexão, abandonar essa forma de escuridão.

Se a palavra experiência te serve de algo,tome-a como vida e vivencie. Não se esconda em relações idealizadas com alguém que,além não te dar bola, só serve para no fundo esconder a sua necessidade de se manter na escuridão. Um mal resolvido para te manter em uma não-resolução perdida no "ainda gosto dele", boznzilnho só se fode, inúmeros textos prolixos a ele dedicado e tantas outras ilusões escuras.

Permita-se obrilho na intensidade que deseja e, antes de pensar se terás ou não inexperiência,você vivenciará aexperiência.