domingo, 10 de julho de 2011

O Retorno do Homem Parede


Sou um homem de vários livros incompletos. Um deles se chamaria "O Retorno..." no qual passageiros de um avião sobrevivem a um acidente e cada um deles volta para suas vidas comuns após um tempo terem sido dado como mortos. Não, eu não vi "lost" ou coisa do tipo. O que me me fez ter a ideia fixa nesse texto nunca escrito foi debochar das caricaturas que cada personagem representaria. Talvez eu pegasse alguns tipos que inventei e tem pequenas biografias na minha agenda de 1997, quando não existiam blogs perdidos como os vários que tenho.

Hoje, meio sem vontade de digitar pensei no "Retorno do Homem Parede". E agora penso: o que aconteceria na vida de um homem que nunca se dignou a perceber o que ele mesmo sente e ao mesmo tempo nunca deu conta do que as pessoas que o cerca sentia? Será que essas pessoas teriam relevância? A categoria "amigo" seria um mero enfeite para estar junto e não compartilhar uma experiência mais intensa?

Leio o perfil de alguém que gosta de extremos, do intenso. Sou do tipo que transita entre o se achar mediano - especialmente do ponto de vista moral - nulo ou por vezes original. Talvez meu tipo, a minha própria caricatura, seja a possibilidade de não andar somente nos extremos ou na mediana, mas me perder em todos os infinitos pontos de uma reta que não existe: a vida é curva e tem, segundo os físicos, 11 dimensões.

Nesses caminhos todos que não é reto me deparo com a parede. E essa personagem, esteja eu me inspirando na vida real ou não, me coloca em contato com a minha própria parede. Alguém muito querido me dá uma mensagem dupla "manda se foder" ou "deixa pra lá, o homem-parede tem seu tempo".

A melhor forma de quebrar com o Homem-Parede externo foi descobrir o que há dentro de mim. Abrir uma brecha para "que homem quero para mim" e isso foi fundamental. As vigas vão se enferrujando por dentro, porque a realidade é exposta ao ar, oxigena e corrói e assim as pilastras, os muros vão se derrubando. Descobri o caminho e não a resposta.

Diferente do texto que eu possa produzir a caricatura não existe o tempo todo e nem toda ação, personagens, cenários desfechos serão definidos por mim. O que há são possibilidade e consciente estou de que para elas seguirem, a minha decisão é necessária.

Descanse em paz, Homem-Parede.

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