sábado, 15 de setembro de 2012

O palácio que não é


No reino do rei dos espelhos há um lugar especial...um palácio muito bonito por fora, mas cheio de caminhos tortuosos.

Não me lembro ao certo quando eu o visitei pela primeira vez, me disse uma vez um poeta.  Parece que ele foi chamado pelo próprio rei dos espelhos e aquele lugar era, talvez, a única herança de seu pai. Uma pessoa que não era refletida nos espelhos dos aposentos reais oficiais do dito rei. Mesmo em períodos que todos os palácios do reino estivessem abertos. Havia sempre algo escondido.

Mas voltando ao palácio das mentiras. Ele é guardado na entrada por três homens. Todos eles possuem profunda admiração pelo rei, que inclusive manipula seus próprios decretos para conceder-lhes privilégios. Dizem que estão ali por ordem de alguém, para proteger um nobre de um reino vizinho de riquezas enferrujadas por uma certa maresia que sempre sopra do mesmo jeito. O rei dos espelhos por vezes tem que limpar em seus aposentos com alguns restos dessa ferrugem. 

Parece que na mesa dos banquetes há uma grande torta de chocolate com queijo algo assim. Em uma mesa magnífica que o pai do rei construiu. E dizem que o rei sabia exatamente de cabeça como era a receita servida em certos finais de semana que ele recebia conselheiros que toda semana ele mandava para a guilhotina, mas sempre voltavam.

Algumas cantoras cantam em italiano uma música que me é conhecida, mas resolvo ignorar. Não traz nenhuma emoção em especial. Só surpreende mesmo a presença das cantoras ali, já que o rei tinha decretos  que proibiam tal tipo de música por ali, pois aquela é "arte que não condiz com as coisas desse reino".

No pátio do palácio há uma festa. Um príncipe de quem nunca se ouvira nada veio de longe. Trazia consigo as melhores vestes e adornado pelas melhores joias. E tinha uma beleza magnífica. Só alertara ao príncipe de que não poderia ficar muito tempo ali porque tinha outros compromissos em suas terras. Seus súditos o amavam e exigiam a sua presença lá ineditamente. De qualquer forma havia ali num fim de semana desses encontro com diversos reis, príncipes, rainhas e outros nobres de terras igualmente desconhecidas naquele pátio.

Enquanto isso passam funcionários correndo no meio do salão principal. Era hora do turno de sábado, oito da noite. E na cozinha próxima um homem oferece um drink, mas manda avisar que está ali escondido do pai do rei, que não pode sequer notar sua presença ali. E tem planos de ir para outras terras e deixa para o rei um maço de folhas, envelopes e selos para manterem a comunicação.

Uma águia pousa na parte mais alta do palácio. Ela aparece ali de vez em quando, em épocas que não há presença de tantas pessoas. Só que dessa vez, assim, do nada, ela surgiu.

Trancado na parte de trás do pátio encontro um morador de lá Amuado, triste ele chora quando olha para tudo aquilo. Quando lhe pergunto o motivo para tanta tristeza, ele me diz me conta a sua saga. Fala de que cumpria uma pena ali estabelecida pelo rei que inclusive forjara provas contra ele. Mesmo sendo senhor absoluto das suas terras e de seu povo, havia ali uma corte para julgar os atos do cidadão, já que incomodava ao rei ter que ele mesmo fazer julgamentos. 

Em um certo momento o condenado me diz: esqueça, nada disso aqui existe. E ao olhar percebo que enquanto os 3 guardiões se transformam em areia, todo o palácio desaparece. E todos os espelhos do rei, um a um, se quebram... nada mais fazia sentido.


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