terça-feira, 23 de julho de 2013

Protesto

Faz um bom tempo que isso aqui tá abandonado, meio que pegando carona nos protestos que estão rolando no Brasil e tudo e tal. E em terras fluminenses a coisa continua com prisões arbitrárias, tiro, porrada e bomba. Algo que os moradores das periferias e favelas conhece há muito tempo... Mas antes que me taquem pedras, não justifico nenhuma forma de violência, seja na Vieira Souto ou na Passarela 9 da Avenida Brasil.

Os ânimos estava acirrados a ponto de eu ser questionado no facebook por conta de uma charge do Latuff - criticando os coxinhas - de ser um extremista de esquerda sem visão política da realidade ou algo do tipo. Claro que não preciso ficar dando satisfação pra a, b ou c sobre os meus pensamentos desde o momento em que eles não interferem no direito de ninguém, mas é um tanto quanto ilustrativo de como estavam os ânimos.

Sim, teve uma galera que preferiu ficar resmungando e dizer "ah é coisa de coxinha e vla bla bla". Isso pra mim é uma atitude conservadora pra quem se acha libertário. Se você ao menos é contra ao que está sendo dito, faça você mesmo então seu protesto, se organizando, militando, consultando as lideranças e fique pronto(a) para o tiro, porrada e bomba.

Claro, tem o coxinhismo do "sem violência" ou do mandar sentar. Tem aqueles ativistas de facebook que acham ruim porque o trãnsito fica uma merda pra chegar em casa e depois quer pagar de iconoclasta falando mal do Papa. Se você é contra manifestação por direitos legítimos você tão babaca quanto à ICAR pelo conjunto da obra e a tal da cartilha nefasta e preconceituosa que ela anda distribuindo. Enfim, esse é outro assunto. Deixa eu sair da teoria e contar a minha experiência pessoal em relação a isso.

Fui para o protesto em Cabo Frio, maior cidade das Baixadas Litorâneas Fluminenses, me encontrar com um amigo lá. O ônibus parou na entrada para o Centro da cidade e uma mulher com medo - justificável- de levar tirou ou algo do tipo.

Ao chegar encontrei muita gente jovem, muitos estudantes. Mensagens inócuas sim, vazias como "contra a corrupção" e coisas do tipo, mas outras bem direcionadas. O alvo era a empresa Salineira, que detém o monopólio do transporte na região e conta como um de seus acionistas o onipresente Jacob Barata, aquele mesmo que manda e desmanda no transporte rodoviário da capital.

Boa parte dos ônibus é intermunicipal. Até porque a região não ficou imune à praga da criação de trocentos municípios. Assim sendo, se você vai de Araruama a Cabo Frio (40km) você paga os mesmos R$ 4,00 que alguém saindo de São Pedro da Aldeia ou Arraial do Cabo até aquela cidade, mesmo distante 10 km (ou menos) de Cabo Frio.

Rolou o barulho, mas as passagens locais não baixaram. Só o intermunicipal de 4 passou para 3,80 por determinação do Governo Estadual.

O legal é que nós temos o desejo neurótico obsessivo de querer determinar tudo (beijos Viviane Mosé) e morremos de medo do incerto. Claro, "é preciso estar atento e forte" com manobras conservadoras do pior tipo em uma situação como essa. Mas isso não é desculpa pra fazer a linha iconoclasta de botequim e ficar apenas pixando de "coxinha" quando você não faz absolutamente nada.

Essas manifestações me lembram, num primeiro momento o objeto "a" criado por Lacan, aquele que não pode ser dito. No entanto vejo as manifestações como um discurso. Tudo bem, é da classe média, ou daqueles que outrora não estavam engajados. Mas isso não desqualifica o movimento. Se há a necessidade de coisas para serem ditas, que sejam. É legítimo. Ao que parece os que criticam a falta de democracia por vezes agem como reais reacionários.

Por outro lado tem aquele discurso mal direcionado e a papagaiada carnavalesca. Faz parte sim. E tem aquela hipocrisia do coxinha que ouve Charlie Brown Jr porque "é contra o sistema" e curte grafite, mas quando o bicho pega e você fala "fulano, você vai no protesto"..."ah não vou nessas paradas não, sabe como é, o bicho pega e bla bla bla"

Menciono tudo isso porque em mim habita o doido revolucionário, o coxinha do face, o medroso que só se revolta ouvindo aquela musiquinha entre tantas coisas e, obviamente, é importante revelar em mim cada um deles, mais que fazer o papel de inquisidor. E participação política é muito mais que uma passeata. E opressão policial é mais que as balas de borracha. Maré e Amarildo não me deixam mentir. 

De qualquer forma foi aberta uma das várias caixas de pandora (algumas já abertas há séculos) que parte da sociedade resolveu mexer e/ou olhar. E isso significa muita coisa, ainda que não se tenha um significado completo dos protestos. 

Ainda bem, porque cabe espaço para mais. Como diria o Basílio, trolando um clichezão ridículos desses, mas bem apropriado pra o momento "definir é limitar"

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