Ainda no tema da
última postagem sobre o “quem eu sou”, talvez a grande pergunta
motivadora da existência, estava imaginando: como deve ser minha
casa? Que coisas eu gostaria de ter nela?
Olho para o meu
quarto e vejo que ainda existem coisas que são da época em que
morava na capital. Objetos que estão ali por uma certa necessidade,
pois sei que ao me desfazer de alguns deles, terei que substituir por
outros, o que inclui gastos. Talvez esteja aí um pouco da minha
resistência em não ter me livrado de alguns deles.
Ontem o Fábio me
lembrou da afirmativa taurina: “sou o que eu tenho”. Sei que há
textos que criticam a questão do ter em detrimento do ser na nossa
sociedade. Até eu mesmo já fiz o texto sobre isso em algum momento.
Mas hoje resolvi pensar nisso com mais profundidade e ir além da
oposição simples entre os dois verbos.
Ao longo da vida
vamos dando valor ao que gostamos, ou ao que nos serve de alguma
forma. Aparentemente é assim. E nesse sentido aquilo que temos
reflete de alguma forma o que somos, pois investimos algo de nós
ali.
Daí penso no
armário gigante (que metáfora! Armário) no quarto. Ele não é
algo que desejei. Mas se eu não o desejei por que motivo ele ainda
permanece lá?
Livrar-se dele vai
implicar movimento, gasto de energia e de dinheiro. Vai ser uma
ruptura que mexe com um certo conforto e comodismo. Agora,
extrapolando para além dos objetos, o que será que todos nós temos
guardado, ou mantido, por puro comodismo? Penso em relações
amorosa, empregos, hábitos ou até mesmo o mesmo sanduíche que se
pede sempre numa rede de fast food.
Perceber o que temos
e o que não queremos pode fazer parte dessa jornada da tal grande
pergunta motivadora: quem sou eu? Tentar responder parte dessa
pergunta – que para mim é incompleta- vai mexer com desejos
escondidos, com coisas que me forçarão a fazer mudanças porque
aquilo é incômodo.
Nesse sentido, mais
que uma mera oposição “ter x ser”, esses dois verbos podem
estar ligados de uma outra maneira. O que temos pode significar parte
de quem somos. Por outro lado, pode ser também parte daquilo que
escondemos, pois “não ter” uma determinada coisa implicará em
uma mudança que, ainda que dolorosa em alguns casos, pode revelar
mais coisas do “quem sou eu”, que ainda estão escondidas.
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