quinta-feira, 1 de abril de 2010

Fetichização da desgraça

Bem, uma adolescente foi estuprada em Londrina e a "culpa" de acordo com os jornais é das "pulserinha do sexo".

http://http//odia.terra.com.br/portal/brasil/html/2010/3/menina_e_estuprada_apos_ter_pulseira_do_sexo_arrebentada_em_londrina_72554.html

Existem representações e afetos. Afetos são o que sentimos e representações são objetos de desejo ou repulsa que aplicamos a este afeto. Explicando essa psicanálise de almanaque que apresento aqui, se alguém tem medo de barata (meu caso), há um afeto: o medo e a representação : a barata.

O "afeto' perverso que se tem é o desejo em estuprar. Se bem que não sei se perverso é a palavra certa. A perversão implica uma negação da norma estabelecida, algo que choca, como é nos dias atuais, de acordo com a brilhante Roudinesco, o terrorista. O estuprador, por mais que nos choque tem a norma machista a seu lado: o cara se sente dono da mulher e pode impor seu poder conforme queira. Eu mesmo já ouvi de homens e de mulheres também a fala " a culpa foi dela que deu mole" ou ainda "bem feito, quem mandou ela usar short curto".

Dessa vez o objeto fetiche para essa representação são essas pulseiras. Elas são o bode expiatório (ou seria espiatório? to sem paciência pro google) da vez. Prefeituras proíbem suas vendas como se isso num passe de mágica evitasse essas barbaridades.

As pessoas tem que parar de negar hipocritamente a existência da sexualidade. Afirma sua existência é o melhor caminho para uma conversar franca com os filhos e colocar que uma vez que somos "sexuados", existem responsabilidades e formas de lidar com o nosso desejo, mesmo que, como diz a música Pecado Original do Caetano, trilha de "A Dama do Lotação" (filme de Neville D'Almeida) "a gente não sabe o luga certo onde coloca o desejo". Ao que parece, tanto os jornais, como os estupradores e alguns legisladores, resolveram colocá-lo nas pulseiras, num belo mecanismo de recalque coletivo, para mascarar o que realmente há por trás disso tudo: a existência e a emergência da sexualidade dos adolescentes e o jogo de poder e violência de uma sociedade machista que trata as mulheres como mero objetos. Se os responsáveis, escolas e demais instituições que lidem com os adolescentes souberem de forma clar, franca e objetiva como lidar com isso, teremos adolescentes menos vulneráveis a situações lamentáveis como essa de Londrina, meninas mais empodeiradas em sua sexualidade e morre a necessidade de atacar pura e simplesmente uma pulseira, quando sabemos que, por trás disso existem questões muito mais sérias.

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