quinta-feira, 1 de abril de 2010

Homens, mulheres e simpatizantes


A foto ao lado é dele mesmo: Marcelo Dourado. Sim, é triste por um lado perceber que só mesmo o BBB é capaz de mobilizar a produção deste texto. Por outro lado aqui não há espaço para a maldita síndrome de underground, mas antes de comentar a respeito do vencedor da décima edição desse reality show vou relatar um fato que ocorreu há algum tempo que percebi.
Estava trabalhando como facilitador em uma série de oficinas com homens jovens em uma comunidade da Zona Oeste do Rio. Junto comigo havia alguns outros, adultos, moradores das comunidades de onde moravam os jovens e que passaram por uma capacitação para trabalhar com eles. Em uma das oficinas tínhamos que decidir junto com eles, qual seria o nome para uma marca de preservativos que seria desenvolvida em um projeto de marketing social. Uma das sugestões apresentadas pelos rapazes foi "o Homem na Hora H". Um dos facilitadores se pronuncia, no melhor estilo politicamente correto e diz: "esse nome é discriminatório, pois a palavra 'homem' exclui os gays na hora de comprar o preservativo".
E o que Dourado tem a ver com esse relato que apresento? Em uma de suas discussões com Dicésar e na qual ele foi apontado como homofóbico ele disse algo como "não é pelo fato de você ser viado que você não é homem". Há um machismo na frase do lutador? Sim, pois sempre acreditamos que "ir pra luta", "ter coragem", "falar na cara" e qualquer coisa que o valha é um atributo masculino. Por outro lado, há algo muito interessante na fala dele pois , diferentemente do facilitador que trabalhou comigo, o Dicesar é sim gay e ao mesmo tempo, homem.
A homossexualidade, ou melhor dizendo, homossexualidades e indo mais além as masculinidades, assim mesmo com "s", mostram que dentro da chamada diversidade há outras diversidades. Ao mesmo tempo há algo que sempre insisto que não dá para discutir sobre qualquer orientação sexual sem antes, sobretudo, não for pensada a questão de gênero, ou seja, os papéis sociais esperados para homens e mulheres. Para os homens é espero que eles sejam "másculos", "viris" , "macheza" ou qualquer outra coisa que o valha. Tomemos por exemplo 3 exemplos da casa, heterossexuais até então, que mostram posturas bem diferentesde como ser homem: Dourado, o machão-chorão, Cadu, o saradão gente boae Michel, o tonto bonzinho. A despeito desses rótulos que apliquei nos 3 participantes o que há é que existem formar diferentes de ser homem e da mesma forma pode se pensar e incluir nessas formas, a homossexualidade.
Era visível por exemplo ver o Michel apontar em seu discurso que Serginho e Dicesar não eram homens. O mesmo dizia Fernanda para Dourado: "Você tem que tratar o Dimmy como uma mulher". Bem, isso veio da moça que disse que o Uilliam "não é tão preto assim", então não vou esperar grandes lances de inteligência e consciência por parte dela. De qualquer forma é Dourado, o machão homofóbico, que coloca as coisas na roda e aponta que a homossexualidade é só mais um detalhe no que significa ser homem.
Ao que parece o ser humano precisa de padrões para lidar com o desconforto do que lhe é estranho. Se um homossexual tem o que se chama de "straight acting" - sim é uma palavrinha muito infeliz - podem acontecer dois movimentos: o primeiro de causar muita estranheza, já que se precisa do gay que desmunheca para se fazer humor e colocar na categoria "não homem" ou "mulher". Por outro lado há o que se chama de "covering", ou seja ele é gay "mas age como homem", mascarando de vez a homossexualidade. A versão gay do "negro de alma branca" por exemplo.
É nessa esquizofrenia de conceitos e de visões que transita os nossos discursos e a visão que temops sobre gênero, sobre o que categorizamos no nosso dia a dia sobre o que é ser homem e ser mulher. E no meio dessa loucura toda é que podemos perceber, tal como no discurso de Dourado, do facilitador ou de outros, que se parecemos homofóbicos muitas vezes, se olharmos mais profundamente, pode-se confrontar e se mostrar mais além do que visões politicamente corretas que no fundo aprisionam as pessoas nas velhas categorias de sempre só que com uma "roupagem" nova.

2 comentários:

Querendo Mudar disse...

Sabe qual é o lado mais triste? Na final, havia dois modelos de "hetero macho" que as pessoas poderiam escolher. Um, grosseiro, embrutecido, até com algumas sacadas boas, mas representando o lado mais conservador e desnecessário do universo masculino. Outro, fisicamente "padrão", marombeiro, mas tranquilo, cuca fresca, lidando bem com a diversidade mas tendo certeza do que é. E o público preferiu a versão neandertal. Uma pena.

Suiá Dylan disse...

por essas e outras que eu falo, gay é antes de td homem...