sexta-feira, 3 de junho de 2011

O que carregamos nos bolsos?

"Parte de nossa neurose é o desejo onipotente de ter os nossos bolsos cheios de verdades e certezas".

Essa é a frase de Rubem Alves lá no meu Facebbok. Usualmente as pessoas gostam de colocar frases assim como forma de criticar as outras. A primeira vista, no meu caso, é como se eu fosse o não-neurótico sem certezas no bolsos que colheu a frase por achar que eu poderia criticar aqueles que são assim. Ledo engano, essa frase foi escolhida por pura identificação.

Vejo aqui minha tia acompanhando o culto do pastor lançando não certezas para fazer sua cabeça, mas certezas com as quais ela se identifica. É como aquela que vai na cartomante - Machado de Assis mostra isso com maestria- para ouvir exatamente aquilo que quer ouvir.

Interessante que esse desejo é onipotente. Gosto dessa frase. Me lembrei de Deus, o ser onipotente que tem todas as certezas do mundo porque Ele o criou. Penso que as certezas que carregamos nos bolsos, nos olhos e repetimos com a língua é uma maneira de sermos o centro de tudo, de sermos o próprio mundo. Por isso quiseram queimar Galuleu quando ele resolveu contrariar que o nosso mundo não era o centro das coisas. Tudo isso em nome de certezas que queimaram, mataram e torturaram.

Será que as certezas servem para só sustentar nosso desamparo? Ou terá nela uma desculpa para exercemos nossos atos mais perversos com chancela de "normalidade"? Em outras palavras, certezas para podermos ser cruéis com os outros.

A vida tem sempre me mostrado o meu próprio desejo obsessivo. De certa forma é isso que ele quer, a possibilidade de ter um conforto aparente e a justificativa para ser cruel. Por isso sempre digo que é bom conversar com o monstro que habita dentro de mim, falar diretamente com ele ao invés de escondê-lo. É bom tirá-lo de dentro do bolso e mostrar que ele não pode absolutamente nada diante da realidade.

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