Les Demoiselles D'Avignon, Pablo Picasso, quem me mostrou as múltiplas faces na pintura |
Aquela velha pergunta: quem sou eu?
Clarice, em "A Hora da Estrela" fornece uma ideia:
Quero afiançar que não me conheço senão através de ir vivendo...
Se tivesse a tolice de me perguntar "Quem Sou Eu?" certamente cairia estatelada e em cheio no chão.
É que "Quem sou eu?" provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade?
-Quem se indaga é incompleto!
Hoje ela surge através do que muitas vezes penso sobre mim mesmo. Eu, incompleto que sou.
E a bendita/maldita alteridade. O que os outros veem em você?
Há aquele discurso prático de auto-ajuda aparentemente rebelde "seja você mesmo, não ligue para o que os outros pensam". Claro que viver em função do pensamento ou da opinião dos outros é horrível. Por outro lado cabe a pergunta: será que estou imune a isso?
Na minha vida convivo com certos paradoxos. Nada mais humano que eles...
Para alguns eu tenho um lado forte, combativo que me leva à intolerância. A uma incapacidade de ouvir o outro e de ser crítico 24 horas por dia. Uma pessoa teimosa que não abre mão daquilo que pensa.
Para outros sou o eterno diplomático. Aquele que tenta contornar as relações e que não arruma inimizades. Que não é maldito na boca dos outros e sempre tenta ficar bem com todo mundo. O famoso "em cima do muro".
Ironicamente, o sonho desta noite me mostrou esse paradoxo: nele eu tentava ficar em um muro com vigas expostas (ah, os símbolos fálicos) só que não tinha espaço suficiente para eu me sentar. Engraçado ver como o sentar pode levar a uma associação interessante: bunda, passividade, acomodação. E no isso tudo era impossível. Há algo no desejo, esse que me mostra incompleto, que impede isso.
O que tem essa acomodação com o "quem sou eu?" e o "olhar do outro"?
No muro, sentado eu poderia estar ao mesmo tempo exposto (nele eu ficaria ao lado do meu namorado) e ao mesmo tempo observando. Sujeito ao olhar do outro. Sujeito, o ser da fala, o praticante da ação contida no enunciado verbal que ao mesmo tempo sofre a ação, se sujeita.
E junto com isso vem os incômodos: será eu o intolerante que não se permite ao que os outros pensam? será eu o covarde que tem medo de se colocar diante de certas situações?
No fim, ao invés de pensar no "quem sou eu", vem o "o que eu faço"? E como faço? Por que faço? E se eu puder colocar todas as perguntas, mesmo sabendo que elas não serão totalmente respondidas. Pela falta.
Aí me vem um conselho: não racionalize. Pode ser...Mas sou incapaz É aquele momento que parafraseando uma música do Serguei "eu volto pro interno". Nele, mais que racionalizar, é importante sentir também. Perceber as multiplicidades que há em mim na forma como eu me construo a cada dia. Reconhecer o paradoxo tolo do "quem sou eu", mas se permitir ir além dele.
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