sexta-feira, 21 de abril de 2017

Psicologia e relações raciais

Essa semana, o Waltinho compartilhou esse texto comigo sobre Virgínia Bicudo (1915-2003). Socióloga de formação e uma das primeiras psicanalistas, ela é referência nas questões de relações raciais no Brasil. Daí, na nossa conversa, a ausência do nome dela na minha formação me fez pensar no quanto as questões raciais foram negligenciadas na minha graduação em psicologia. E daí no quanto é importante refletir sobre essas questões em termos de saúde mental, o que engloba também psicologia e psicanálise.

Na minha adolescência eu cogitei em seguir o curso de Ciências Sociais, mas daí pensei: vou ser o negão clichê que, por ser preto, vai obrigatoriamente pensar sobre o racismo. Por várias outras razões acabei me interessando por psicologia. Só que com o tempo eu pude desmontar essa ideia de clichê e perceber o quanto essas questões precisam ser pensadas. E não apenas no campo das Ciências Sociais.

No meu curso eu enveredei pelo campo da Psicologia Social e, obviamente, pensar sobre várias questões e contribuições de outros campos do conhecimento. Acabei direcionando meu trabalho para pesquisa em temas como gênero (masculinidades), prevenção de violência, sexualidade e adolescência. E isso no campo prático também, no trabalho e não apenas na parte acadêmica. No entanto, nesses campos, a questão racial sempre foi colocada de forma muito superficial, isso quando aparecia.

Tive alguns contatos e experiências que foram positivas durante esse tempo. Tive uma colega de trabalho, assistente social de formação, também negra, que sempre apontava pra mim a necessidade de pensar sobre tais questões. E nos congressos que participei me lembro de apenas um trabalho sobre, e de forma muito voltada pra clínica, sobre a questão do racismo e as implicações da psicologia.

Entre as várias leituras possíveis que faço da psicologia duas delas me ajudam a refletir sobre questões raciais. A primeira é que ela pode tratar do desenvolvimento das potencialidades individuais de cada pessoa e a segunda é que ela lida com o sofrimento psíquico. Neste sentido a questão negra está muito focada nos seus aspectos sociais, mas pouco é pensado em como o racismo age individualmente, no desenvolvimento das pessoas. Por outro lado, uma visão do negro como forte, "aquele que aguenta tudo" traz uma ideia que, discutir saúde mental, é coisa pra gente branca, rica e "fresca", anulando essa possibilidade para as outras pessoas.

Ao longo desse tempo tenho aprendido um pouco mais sobre esse tema. Entre eles penso muito no trabalho do Valter DaMata neste campo e que merece ser lido. Sendo que eu sinto a necessidade de ir mais além, tanto no campo teórico como da atuação profissional.

Há muito tempo tenho refletido sobre a minha formação como psicólogo. Eticamente, ela deve servir para contribuir de alguma forma para a sociedade. Em um país em que o racismo é estrutural e institucionalizado, eis aí um campo para que eu não apenas atue ou pesquise, mas que fundamentalmente sirva para aprendizado e desenvolvimento, tanto em relação às minha questões como a das demais pessoas pretas.

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