quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Se joga

Uma das minhas grandes dificuldades: iniciar as coisas.

Vou usar a metalinguagem para ilustrar isso. Na página 58 do meu Bullet Journal, feito em julho deste ano, há uma lista de temas que servirão de textp para esse blog. Porém, o combo preguiça e procastinação fizeram com que esse texto, sobre a necessidade de se arriscar e se jogar, só fosse feito agora.

Chega o fim de ano e vem à cabeça aquela velha reflexão: lições aprendidas. E ei-la: se jogar na água fria,

No inverno desse ano -- ok, inverno no litoral do RJ não existe-- por conta da resistência do chuveiro quebrada e a demora em trocá-la por conta da procastinação  me fez encarar a água fria por alguns dias. Lembro-me de ter pego o "The Fat of the Land" do Prodigy pra tocar e a partir do ritmo da música tomar o banho sob a água gelada. A estratégia deu certo e no fim, serviu até para a economia de energia. O corpo se sacudindo produz calor e é uma beleza nesses momentos.

Esses dias meu namorado conversava comigo sobre o que eu quero fazer profissionalmente: terminar minha formação em psicologia, seguir pra uma pós ou fazer outro curso. E daí fiquei em n reflexões sobre como pode ser o futuro, esses eternos adiamentos e a dificuldade em iniciar as coisas. Me veio a mente a ideia principal deste livro (que baixei, mas não o li por inteiro) que fala sobre auto ilusão. Como a clássica "segunda começo a dieta".

A despeito de qualquer amontoado de pesquisas que eu desconheço a sua validade científica, uma coisa legal que fazer o Bullet Journal me mostrou ao ensinar a fazer a lista de coisas foi: passado o dia, aquela tarefa que não foi feita merece ser adiada pra outro dia ou ser descartada de vez? Se não for realmente necessária ou válida, basta riscar. Isso evita a tensão de ter que ver aquela coisa por terminar o tempo todo enchendo o saco ali. Mas essa ideia só tive recentemente ao rever o vídeo do pessoal que criou o conceito dessa agenda.

E voltando a conversa com o namorado. Ele me disse "se quiser fazer algo, inicie". Parece uma mensagem positiva por um lado. Por outro lado, nós dois ponderamos que, embora seja uma mensagem encorajadora por um lado, por outro ela pode ser muito inconveniente. Especialmente quando está lidando com alguém que não está bem com sua saúde mental. Por isso é mega insensível, por exemplo, chegar pra uma pessoa com depressão e dizer: olha pra sair dessa basta você dar o pontapé inicial. Tá, mas com que recursos? Por isso existe a necessidade de ajuda profissional. E eis o grande dilema, respeitar a saúde mental, mas ao mesmo tempo não deixar que a paralisia em não iniciar as coisas piore ainda mais a situação.

Sendo assim há dois processos importantes. Um que permita a se arriscar e poder fazer coisas novas ou retomar aquilo que ficou pra trás e que por uma série de inseguranças, ficaram guardadas. Outra é ver se, com o tempo e a devida reflexão, aquilo é realmente importante e não ver problema nenhum em descartar aquilo, que no fim das contas só servirá para alimentar uma neurose do tipo: preciso fazer tal coisa. A auto-ilusão do livro que citei.

Tão importante quanto se sentir vivo e capaz de se jogar na água fria, ao som da música que se gosta e sair com a pele maravilhosa é pensar no que realmente importante. Esse processo implica num exercício de auto conhecimento que na maioria das vezes surpreende. Especialmente porque aquela procastinação, aquele adiamento pode estar mascarando algum desejo que ainda não foi colocado pra fora e aquele "preciso fazer isso" e que nunca é feito funciona como uma represa pra esses desejos.

 Volta e meia cito nos meus textos e penso no processo de "cortar as inutilidades" dos poetas neoclássicos, a necessidade de um bom acabamento. Um caminho bom no processo de auto conhecimento é reconhecer onde é preciso fazer esses acabamentos, riscando aquilo que for inútil. E poder dar início, se jogar, nas coisas que realmente importam.

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