quinta-feira, 19 de abril de 2018

Voo de planador



Eu tenho acompanhado essa última edição do BBB, que termina hoje. Uma das coisas que gosto de fazer é ver os comentários do pessoal da WebTVBrasileira, que tem como apresentadores Tati Martins e seu marido, Marcelo Carlos. Uma das várias atividades deste canal, são os comentários de realities shows e, obviamente, o BBB. Descobri o canal no ano passado, ainda que a 17ª fosse uma edição que mal acompanhei.

Eu não estou bem lembrado do dia, mas Tati comentou sobre a forma como ela passou a observar o jogo. Ela observa e lida com comentários em redes sociais de fandoms de participantes fazendo a defesa inflamada dos seus preferidos e pichando os adversários. Tati afrirma que prefere uma relação mais distanciada. E então ela diz algo que ficou martelando na minha cabeça "a gente aprende a não esperar das das pessoas e isso não só no BBB, mas na vida". Isso traria uma visão mais tranquila e menos inflamada, diferente daquela dos fandoms.

Achei essa observação genial. Isso mexeu comigo porque, desde o começo do ano, tenho pensado sobre essa questão de não gastar energias de forma desnecessária, inclusive nas minhas relações. E para isso lembrei dos motivos que levam a esse gasto de energia.

De um lado tem algo na gente em esperar que as outras pessoas sejam iguais a gente. Ou melhor dizendo, que sejam iguais ao que desejamos. Porque é fato que muitas das nossas expectativas estão mais ligadas a modelos que nós criamos em nossas cabeças e consideramos perfeitos que, necessariamente a uma visão "real" de quem realmente somos, pois isso incluiria as nossas falhas, geralmente varridas para debaixo do tapete.

Um exemplo bem clichezão barato do que mencionei antes é aquele da pessoa que fala que sempre foi boa, linda e maravilhosa e não entende porque o universo se volta contra ela. Porque as pessoas sempre lhe fazem mal e tudo o mais. Estou, obviamente, descartando as relações onde há de fato um abuso de poder. Não é o tema aqui.

Por outro lado lembrei do quanto nós resistimos ás diferenças que as outras pessoas nos trazem. Sejam por quem elas são (ou como a vemos) ou pelas coisas que elas fazem. Por vezes essas diferenças são vistas como uma ameaça ao que nós acreditamos. Um furo naquele modelo ideal que criamos, seja esse o modelo que inventamos para nós mesmos ou aquele que criamos em relação ao outro. E daí a gente cria um gasto de energia absurdo para não lidar com essa frustração que esses furos trazem. E diante dessa tarefa inglória, dada a sua impossibilidade, ou ignoramos a situação, ou reagimos de forma agressiva. Não muito diferente dos fandoms, torcidas de futebol ou mesmo na política.

Quando era criança, vi uma vez em uma matéria na TV em que mostrava um avião planador. Ele era  levantado por um Fusca. O carro corria na pista e o avião levantava voo como uma pipa. E ele ia indo pelo céu sem o uso de motor. Ou seja, ele voava ao sabor do vendo, sem a necessidade de um motor que o deixe em funcionamento. A energia vem do ambiente, sem a necessidade de um gasto interno.

Então usei essa metáfora do avião --pode ser barco a vela tb-- em reflexões pessoais nos úlltmos meses, em especial no trato com as outras pessoas. Percebo que não é interessante fazer um gasto desnecessário de energia em determinadas situações. Voltando à visão da Tati, aproveitar melhor o jogo, sem necessidade de cair em uma certa passionalidade com o que estamos vendo.

Por outro lado o avião não voa sem direção. Ele tem um ponto de partida e um lugar para retornar após um tempo. E o piloto tem que saber muito bem manejá-lo. Assim como o canal da Tati, assim como as nossas relações. Temos nossas intenções e propósitos. Não tem como colocar aqui que somos neutros: nossa visão não afeta aquilo que vemos. Ainda que com intenções menos fechadas em função daquilo que achamos como ideal.

Nesse sentido é importante perceber o quanto somos influenciados pelo o que está ao nosso redor, bem como o quanto influenciamos também o nosso ambiente. Nem sempre numa relação simétrica. Aliás, tanto o lidar com a alteridade, como a natureza, nos lembram das nossas limitações.

O importante aqui no caso e permitir-se surpreender com aquilo que aprendemos com essas experiências com menores expectativas. E também vermos que as expectativas não param de vez, elas estão ali. O reconhecimento disso é muito importante. E, aos trancos e barrancos, tentar lidar com essa estranha ecologia entre os nossos desejos e o mundo que nos rodeia.

Ainda estou aprendendo a levantar o voo desse planador, que está bem longe do céu.


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