quarta-feira, 2 de maio de 2007

Sobre o amor e a fé

Aniversário do feriadão tem alguns lances engraçados e, ao mesmo tempo, a abundância de dias livres dá uma forte dose de preguiça. Em função disso optei por uma comemoração simples, a de sempre, o bolo da minha mãe, a presença de alguns primos e o inevitavel "parabéns pra você". De qualquer forma eu gosto de comemorar até porque é uma forma de marcar o ritual.

Pensei em fazer algo no sábado mas desisti na última hora. Algo me disse que era para ser assim e assim foi. Preferi ir domingo nas "toiças" com a Fabiana e o Bruno e foi bem divertido, pela companhia deles. Está certo que em plena véspera de feriado o evento terminou lá pela uma da manhã e a música tava um saco. Mas a presença deles e de um povo maluco de Sampa no fim da festa foi fundamental para garantir boas risadas. Aliás é interessante passar esse "pós" aniversário com uma das minhas amigas (se não a mais) antigas e com um amigo novo que foi uma das benesses, um dos meus motivos de agradecimento de 2006. Isso em um dia que tinha começado por um certo baixo astral em função da morte do meu melhor professor de história no Pedro II.

E não falo isso como aquelas homenagens póstumas clichezentas que santificam o morto. Até porque ele sempre foi querido pelos alunos, os mesmos que lotaram em número de 300 o cemitério do Caju na última quarta-feira.

Fiquei me lembrando de coisas engraçadas que ele dizia como por exemplo, chegar na cadeira do dentista que o ouvia aos prantos "pelo amor de Exu, o senhor não pode arrancar o meu dente." Até que um dia quando perguntaram sobre a religião dele ele dizia ser agnóstico. Aliás foi a primeira vez que ouvi essa palavra na minha vida.

E ontem na missa de sétimo dia foi inevitável pensar nisso...uma missa para alguém com tal postura diante de Deus. Talvez é uma forma de reconforto para família, um ritual, tal como o aniversário.

Durante a homilia o padre falava de que assim como a fé o amor era algo difícil...pensei na semelhança entre os dois. Amor, assim como a fé, é narcísico. Assim como a fé, muitas vezes deixamos por conta do outro. Amor-próprio não depende da fé em si mesmo? E cada um, ou cada grupo não apresenta a sua própria versão para os dois? E os dois não são manipuláveis de acordo com os caprichos humanos? E mais ainda, não são duas invenções criadas por uma coisa fundamental que é o nosso desemparo...desamparo neste universo e necessidade de se ligar a um ser maior ou a uma idéia maior (para as fés sem deuses). O desamparo do útero e a necessidade de se ligar ao outro....tesão, paixão. amor e todas essas coisas.

Enfim, dois rituais, um de vida, outro de morte, as duas grandes questões nossas passando pelo começo desse meu ano novo. Que isso me gere frutos tão bons quanto a minha família, os amigos que estiveram comigo, o professor que tive e tantas outras coisas.

2 comentários:

Querendo Mudar disse...

Adorei a parte que me toca.
Sobre a melancolia: qualquer evento cíclico costuma gerar reflexões (natal, ano novo, aniversário). E, via de regra, os não-empolgados com o mundo sentem aquela melancolia de quem fez ou poderia ter feito algo..bem-vindo ao clube, sr blogueiro.

Keid disse...

Did's. Morte e vida, paisagens e miragens, não sei: só o tempo pra nos ajudar a discernir. Agora, que fiquei com inveja da saída de vocês, isso eu fiquei.