segunda-feira, 21 de maio de 2007

Tudo é número

Ontem eu abro o jornal e vejo as dietas, ou melhor, as medidas dos médicos da moda especializados em dieta. Seus hábitos, seus defeitos..e claro, tudo devidamente convertido em números: idade, altura, peso, cintura, porcentagem de gordura no corpo...aquele amontoado de dados que, para quem é gordo, é um desespero completo. Foi a hora de lembrar da máxima atribuída a Pitágoras que diz "tudo é número".

Tudo é convertido em número desde o dia que algum pastor perdido no Crescente Fértil - eu acho - resolveu usar as tais pedrinhas para contar ovelhas e daí a palavra: cálculo. Era a necessidade de sobrevivência do homem aprendendo a poucos passos a se fixar na terra... e para facilitar, um sistema decimal, graças ao fato de termos dez dedos nas mãos.

Dizem que a escrita é a passagem da pré-história para a história. Eu incluiria, talvez, o termo, linguagem. Números são linguagem e desde então são tão onipresentes quanto as palavras. Número de dias para criar o mundo, número de apóstolos, número da besta, o ano da Diáspora, o ano da Hégira, os Sete Pecados Capitais, o número de sacramentos - 7 no catolicismo, 2 no protestantismo- a vela de sete dias, "trago a pessoa amada em 3 dias" (adaptado aos tempos modernos da compensação do cheque).

Números, senhas de banco, cartão de crédito, identidade, CPF, "digite sua senha, senhor! ...o sistema caiu." Números e mais números por todos os lados. Nem mesmo a psicanálise ficou longe disso, pois via Lacan, estabeleceu-se um código binário 1 e 0. A impossibilidade de dois se tornarem um, como no mito do Banquete platônico (quem ignora isso recomendo ver Hedwig and the Angry inch) e por isso "a relação sexual não existe".

E inevitavelmente estão eles ai de novo, os números, alimentando a neurose nossa de cada dia. Dos números dos jornais, das medidas, o número de calorias, a porcentagem de carboidratos - na boca de gente que sequer se lembra da existência da tabela periódica, outro amontoado de números - as medidas, a cintura, o busto, a milimetragem de silicone. E para não deixar o texto tão sexista, o número fundamental da existência masculina - hetero e exacerbada na homo - o tamanho do pau- aquele camarada que de vez em quando cai, tal como o sistema da caixa no mercado - e seus substitutos: o preço do carro, o preço do óculos da marca tal, da blusa x, do casaco y. Blusas e casacos pude colocar em forma algébrica, por variáveis, mas os seus preços jamais. Tem que ser precisos e redondos.

...e assim caminha a humanidade! Talvez para o 0...o 0 uterino, o 0 nada de antes da criação, o 0 da morte. Enquanto isso não ocorre, vivamos na incerteza do infinito, um oito deitado matematicamente representado.

Nenhum comentário: