segunda-feira, 7 de março de 2011

Dimanche Gras

Existe aquela ideia de que coisas que te dão medo podem esconder desejos. Andar pela noite, no meu caso, é uma delas. Preciso da companhia de amigos para que isso aconteça e, assim, dar um descanso para o meu supereu e deixar na conta deles a coragem de fazer o que eu não admiti em fazer. Tudo bem, é carnaval e, como dizem os evangélicos ex-macumbeiros "é do diabo e ele tá solto".

Ando com o Osmar na noite passada. Não sei se é o tempo nublado que me passa a impressão de que o carnaval está mais xoxo que os outros anos. Pode ser implicância minha que acabo por assumir a frase da música cantada por Adriana Calcanhoto na qual "cariocas não gostam de dias nublados".

Para seguir a sequência cronológica dos fatos: tentamos mais uma vez em vão pegar um ônibus em direção ao Centro do rio. Inútil mais uma vez pois as linhas que queremos estão com os carros lotados, já que tem a volta do pessoal do Simpatia. Outra noite em que temos que apelar para o Metrô, aquele latão de sardinha - depois dessa ligação Pavuna/Botafogo está mais sardinha ainda, dado a forma como se trata o povão nesse país - claustrofóbico.

Muitos adolescentes gritando e agora tenho a impressão que os que não são funkeiros são membros do Restart. Um deles, cansado, tenta sentar no chão do vagão pegando um saco igualmente sujo. Eu observo já contaminado pelo TOC de Osmar. E lá na frente um "gladiador romano" parece estar muito próximo de seu amigo e eu, libidinoso que sou, fico observando. pena que as outras duas estações de Copa me impediram de ver o desenrolar do processo. Parte ocultado por um grupo de turistas tolos, um deles com certo "ponto de interesse geológico".

Depois aparece uma tiazinha com a fantasia dela de soldado do Darth Vader na mão - descobriríamos depois que seria da Unidos da Tijuca - que fica ali rodeando Osmar enquanto uma guria do meu lado fica roçando o braço dela no meu. E mal se pode escutar a voz da locução informando as estações fechadas no esquema de carnaval. Sorte que a Cinelãndia, nosso destino, não está entre elas.

Passamos pela Cinelãndia e em seguida vamos para o Passeio. Nada demais acontece e ao andarmos pela Lapa - exceto por algumas breves visões próximas á Fundição Progresso - parece que seria uma noite chatinha e sem graça.

O jeito é andar e ir na direção próxima ao Sambódromo. No caminho constatamos que o RH da PM e dos Bombeiros está de parabéns. Depois entramos em uma rua já na Praça XI que sempre me lembra dos meus 11, 12 anos que foi quando conheci Fabi e ela morava ali. Algumas pessoas passam e um coroa gordo encostado em um carro faz aquela famosa "pegadinha" e depois encosta no carro de novo.

E parece que a noite era dos gordos. Ao nos aproximarmos do balança sai um baixinho nitidamente bêbado com uma marca enorme na bermuda. Ele não sabe para onde vai, mas tem ainda vergonha, pois tenta esconder com uma necessaire o que está evidente ali. Resta saber o que o fez ficar naquele estado. Enfim, coisas do carnaval enquanto o pessoal da Vila isabel parece querer o quarteirão inteiro entre a General Caldwell e a Rua de Santana para trocarem de roupa e se fantasiarem.

Vamos andando próximo a concentração já no intuito de voltar para casa, até porque Osmar não estava muito bem. Encontro um conhecido, trocamos algumas palavras e sigo. No caminho, percebo que alguma escola de samba (Tijuca?) terá uma bela ala com Charadas. Um deles me faz ganhar em parte a noite. E ainda vejo minha prima passando rapidamente, só que desconfio que ela não me viu. A não ser que depois lá no orkut ela venha com a frase "ah, Junior eu vi você perto da Central" e eu responder "por que não falou comigo? não mordo!".

Depois de muita indecisão, dada a confusão dos ônibus na Central do Brasil no carnaval, pegamos o 175 - sim aquele da música do Gabriel, o pensador - que agora mudou de número por conta desse novo esquema BRS de Copacabana. Entramos nele e em seguida aparece uma "sistah" querendo fomentar novos "caminhos geológicos".

Já próximo ao começo da Avenida Rio Branco entra um grupo de (outros) viados, montados - não eram travestis - dando muita pinta e bêbados. Eu que não tinha bebido nada fiquei na minha tímido quando um deles sentou do meu lado e encostava a perna em mim. Estava com medo de socializar e, na minha paranoia, vai que a bicha pergunta "você é das ursas? é uma delas?" hahaha E como se isso não bastasse a figura ficava olhando para a minha bermuda para confirmar o mito reservado a nós negros nesse assunto. Ontem o Justin me disse que nos EUA o mito não é diferente por lá hahahaha

Enfim, Osmar quieto sentado no banco atrás de mim consegue observar melhor o que se passa. Até quando um amigo das montadas - estava no bando, eu acho, só Ozzy pra me confirmar isso depois - estava com o namorado e metendo a mão sob a bermuda quando uma delas diz "Isso aqui não é a Farme!". Depois a maluca do meu lado vai para outro banco e um baixinho que acabara de pegar o õnibus vai relutante sentar do meu lado com medo delas. Sorte a dele que logo vagou um banco mais à frente, próximo a um baixinho gordinho bonitinho que pegara o ônibus na Praia do Flamengo.

Papo vai, papo vem e chega uma menina bêbada e senta do meu lado, enquanto o amigo dela senta do lado de Osmar. Ela pede desculpa por esbarrar em mim e já começa a ferver com as outras bichas. Me lembrei do Basilio que se estivesse ali iria dizer "essa menina é bafo!" e provavelmente já estaria fritando com o povo também.

Depois um dos lugares fica vago e a menina se senta do lado do Osmar para fica próxima do amigo dela. Aí eu olho de relance para Ozzy porque sei o quanto ele fica vexado nessas situações e eu fecho a cara, mesmo com a consciência de que estava me divertindo muito e que, diferente do prognóstico inicial de Oz, a noite sim estava, do jeito doido dela, rendendo.

Ai a garota pergunta se Oz é o João Gordo, diz que ele parece. Ser gordo no Brasil é como ser negro. Se você é preto e magro te chamam de Pelé. Se é preto e gordo, de Tim Maia. E se você for gordo de outra cor logo te chamam de todos os nomes de gordos famosos: João Gordo, Tim Maia, Jô Soares. Sobrou para o meu amigo-irmão desta noite. Daí ela pergunta se a comparação é ruim e o Osmar prontamente diz "sim, é" "ah me desculpa, responde a menina". E como se não bastasse , a montada que estava do meu lado chama-o de "gordinho bonitinho". Definitivamente ela era chaser e era bonito. Sei lá, eu tenho um certo tesão andrógino.

Enfim, pode ser dizer que este foi um domingo gordo.

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