quarta-feira, 21 de março de 2012

O essencial

Naqueles insights de fim de tarde e aí me lembro da frase do "Paçaro da Dislexia". Deve ser o fato de agora estar lidando com um adolescente disléxico de 15 anos. Ele troca a ordem das palavras e os cálculos são difíceis para ele. Ainda assim ele encontra uma saída própria, quando a oportunidade lhe é dada e está  longe da superproteção da mãe que insiste em vê-lo como um incapaz. Esses amores estranhos que nos rebaixam...

"O essencial é invisível aos olhos" é uma daquelas frases infames, tipo um Pour Elise literário ou algo do tipo. Bem, daí tentei, por cisma mesmo e criar uma outra frase infame óbvia: "O essencial é visível aos olhos". Os empiristas e os céticos iriam ficar felizes com isso. Aliás considero São Tomé um grande injustiçado...

A psicanálise trouxe o conceito de inconsciente. Lá estariam os nossos desejos "invisíveis aos olhos'? Será? Lembro-me de rir com um amigo nos tempos de faculdade de um mantra que todos os professores freudianos repetiam "o inconsciente não é algo profundo, escondido, ele está ali junto com o consciente".  Frustração para o modelo do "iceberg" no qual seus dois terços submersos sustentam o terço emerso.

Me lembrei da noção de "sujeito". O sujeito na análise é aquele que fala, que dá sentido ao seu enunciado. Nessa fala escapam coisas sem sentido, sem um significado aparente. E é ele, o sujeito, em sua combalida ação se defronta com o desejo que estava mascarado e precisa dar um sentido a ele, ou transformar em outro "sintoma": uma mania, uma fobia ou outra coisa. Eu no meu processo de análise quantas vezes não saía deprimido, arrasado. O Sujeito, ser da fala, aquele que em sintaxe pratica ou sofre a ação do verbo, dava uma marretada no ego que tinha operado mil truques para camuflar o desejo.

Mas os desejos camuflados, o escondido, o que é inconsciente está tudo ali. O que acontece que o essencial é visível, ou seja, só é possível ter sentido e poder nos deparar com o que nos incomoda quando nos deparamos com ele e não escondendo.

Pensei em algo mais simples, como por exemplo: para onde eu viajaria. Se eu tivesse superpoderes conheceria o mundo inteiro. No entanto a minha mortalidade e necessidades materiais me impedem essa façanha. Mas também isso não é motivo para ficar parado. Basta fazer a árdua- sim para um neurótico a dúvida é fundamental para sustentá-lo - de selecionar para onde se quer ir e a partir daí fazer os planos, levantar o que precisa e colocar em prática o desejo. Ok, a vida nem sempre é tão simples assim, mas o enunciado é esse. Mais fácil para uns, mais difícil para outros. De qualquer forma o que se escolhe é o que se torna visível.

Claro que no mundo "invisível" há um mar de possibilidades, essas que nos impele a mudarmos. Ainda assim elas só terão sentido quando quando se tornarem visíveis. Ainda que a caverna platônica fala se uma saída externa onde há uma Verdade absoluta, de certa forma tem sentido do quanto é importante o que está visível.

No frigir dos ovos não há Deus, ideias, instituições ou outras coisas que nos sustente de todo. Nossa psiquê não é bem um iceberg. Está mais para um campo aberto e árido, onde há sim obstáculos e a convivência com os outros, mas no fim das contas cabe a cada um seguir seu caminho.


Nenhum comentário: