quinta-feira, 19 de julho de 2012

Dos ideais


Se é um tema recorrente na minha (psico)análise é a questão da idealização. Ela também apareceu forte em um caderno que escrevi sugerido por um amigo quando eu não estava muito bem há um tempo atrás.


No meu caso ela se relaciona com a minha própria ansiedade. De repente a crença em um Absoluto (e não me refiro a Deus somente) pode dar conta de tudo isso.


Só que junto com esse investimento (eros) vem também um desejo de destruição, em especial quando o ser idealizado não corresponde ao próprio ideal.


A dicotomia Deus e Diabo mostra isso. Nessa construção mitológica judaico-cristã, o mal é encarnado por um anjo "caído" que ao ser impedido de ser igual ao seu ideal, se opõe a ele.


Traduzindo em miúdos para o dia-a-dia, como pode isso funcionar?


Pensemos em alguém que eu ame muito. Junto com esse investimento amoroso vem uma carga forte de idealização sobre quem ela é. Só que, diante de sua humanidade e imperfeição, eu me voltaria contra ela justamente por perceber que ela está longe desse ideal.


Posso extrapolar isso para a relação pais e filhos entre tantas outras. Os lacanianos gostam muito de fazer a analogia disso com a castração, a percepção de que o ser é incompleto.


A questão da completude, desse ideal (de fazer o 1 com o a mamãe , como os lacanianos dizem) e da impossibilidade da relação sexual é bem interessante. Penso no rito da missa, no qual os fieis incorporam o corpo e o sangue de um ser que eles julgam perfeito. Uma união narcísica com um Absoluto capaz de aliviar de todas as nossas ansiedades e tensões.


E o que não seriam as guerras e a intolerância religiosa uma resposta de tanatos (pulsão de morte) a essa não realização de um desejo... questões, questões...


Saindo do escopo religioso e voltando ao campo amoroso mais uma vez. Por que há essa necessidade de enxergar no outro a possibilidade de se unir a esse absoluto e, uma vez que ele não atende a isso, afloram os desejos de destruição: acusações, brigas, ressentimentos entre outras coisas?


Um passo para sair desse esquema é assumir algumas coisas. Que esse outro ideal não está no outro, mas é uma criação de si mesmo. Uma criação narcísica. Uma invenção sua... nessas horas me lembro de filmes como O Clube da Luta e Os Outros que de alguma maneira fala dessas criações. 


Outro passo é admitir que por ser criação, invenção ela não dará conta de todas as suas frustrações. Ao mesmo tempo, ao invés de ver a idealização como algo obrigatoriamente negativo, penso na possibilidade criadora que ela pode representar. Como fez a doutora Nise da Silveira no Engenho de Dentro que estimulou os pacientes a representarem artisticamente a sua "loucura". 


E você, Odilon, como representa a sua loucura?

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