quarta-feira, 18 de julho de 2012

Odisseia no abismo


Durante a faculdade havia uma matéria que a professora usava técnicas de teatro para trabalharmos corpo e discussões, fossem elas familiares ou políticas.


Dentre os vários exercícios tinha um clássico no qual eu tinha que jogar meu corpo para que a pessoa que fizesse dupla comigo pudesse segurá-lo.


Eu tinha medo de me jogar, acho que na verdade nunca me joguei. Achava me o mais pesado e impossível de ser sustentado depois.


Outra anedota daqueles tempos era o medo que eu tinha de me embriagar. Uma das desculpas era: se eu cair, não terá ninguém para me segurar depois. Sou pesado.


Talvez com sentimentos também ocorra a mesma coisa. O medo de se atirar e lá ninguém poder carregar.


Imagino uma nova versão de Ulisses: ele escuta o canto da sereia no abismo e depois se joga. Só que nenhuma delas se interessa a levá-lo para seu mundo e ele cai morto.


Meu Ulisses deixa de ser herói, fica mais parecido com meus sentimentos, em especial alguns que cultivo em relação a mim mesmo.


Me jogo e ao não me sentir acolhido, o chão do meu abismo se abre na forma de ressentimento...


De repente eu poderia pensar: por que não descer por mim mesmo? E se eu cair? Que eu me levante, terei sentido a queda sem ter que responsabilizar a, b, c ou d por isso. 


A grande lição para um coração ressentido pode ser essa: saber criar suas próprias asas. E ter em conta que  elas podem falhar.


Um passo para sair da torre de marfim...e também de humanamente responder ao "Odilon, por que você não se abre?" Abrirei minhas asas...se quiser, me acompanhe.

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