quinta-feira, 7 de março de 2013

Enquanto eu puder cantar...


Hoje eu estava para fazer um texto sobre temas mais amenos aqui nesse blog. Mas as manobras em nosso Congresso apoiada em especial na omissão do Partido dos Trabalhadores, que historicamente abrigou as lutas da minorias de poder neste país, me fizeram mudar o tom. Este tom é de indignação e tristeza, ao saber que um pastor racista e homofóbico de uma legenda de aluguel evangélica consegue a liderança da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Acho importante saber as suas atribuições aqui.

Diz o texto que  " O poder exercido pela CDHM advém da representação intrínseca dos mandatos " e fico pensando nesse poder dado a alguém que afirma que africanos apresentam uma maldição, bem como suas práticas religiosas, além de declarações homofóbicas. Mais que uma lástima, é triste saber como o jogo político funciona quando uma força com a história do partido dos trabalhadores rifa os direitos dessa maneira e entrega ao fundamentalismo de ocasião mais nojento um cargo dessa natureza.

Mas Odilon, isso não é democrático, ele tem o direito constitucional de exercer o cargo. Ok, se as leis garantem isso, faz parte. No entanto da forma como essa "força resultante" se colocou a partir de uma política que acende uma vela para Deus e outra para o Diabo e que se reflete em diversas áreas em nosso país, uma prática chamada por alguns de "lulopragmatismo". E o pragmatismo se converteu em uma negligência espúria com um representante da maior denominação evangélica do país.

Em tempos de ditadura Nelson Carneiro lutou contra o conservadorismo da Igreja Católica para que a lei do divórcio fosse aprovada em 1977. Hoje, em 2013 a luta não cessa, apesar do mesmo conservadorismo estar em outras mãos. É luta que permanece.

Sendo negro e homossexual sei que a vida vem no modo "hard" tal como uma comparação nerd que vi certa vez nas redes sociais. E nesse modo há de se enfrentar de cabeça em pé essas e outras manifestações do pior tipo de conservadorismo. Não nos esqueçamos que Marco Feliciano foi eleito pelo voto. Ele representa uma série de eleitores que compactuam dessa mentalidade conservadora. E essa por sua vez em muito se alimenta na cultura autoritária que engessa esta terra desde 26 de abril 1500, o dia da primeira missa, combinada com a omissão do Estado em pontos cruciais como sa´de e educação. A omissão do PT na comissão se assemelha a do Estado que ao não cumprir seu papel dá espaço (e por vezes apoia) a essas diversas seitas de pura lavagem cerebral que servem de consolo e garantia de prosperidade aos pobres. Nesta história toda, não há santos.

Com lágrimas nos olhos eu termino o texto cantando essa que considero uma das mais maravilhosas canções do Chico. Não sei como vai ficar o meu cordão. Sei que diferente do desejo de alguns que falam em pedir green card para outros países . Negligenciando o fato de que os direitos conquistados em locais onde os direitos LGBT e outro avançaram não foram por benesses dos governante e parlamentares, mas foi a custa de muita luta. Não há no caso uma "cultura naturalmente avançada" como faz supor nosso complexo de vira-latas no estilo "classe média sofre". 

No frigir dos ovos, ninguém vai me acorrentar, enquanto eu puder cantar, enquanto eu puder sorrir...




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