quarta-feira, 22 de junho de 2016

Sobre a Lua

- Um texto sobre os impossíveis da ansiedade

"Sozinho no escuro 
          qual bicho-do-mato, 
          sem teogonia, 
          sem parede nua 
          para se encostar, 
          sem cavalo preto 
          que fuja a galope, 
          você marcha, José! 
          José, para onde?" ( E agora José, Carlos Drummond de Andrade)

Anteontem,

Era o dia da magnitude máxima da Lua. Mas dessa vez queria a foto dela na versão amarela, logo que ela aparece no nascente. Pensei em estar na outra cidade, na pedra, beira da praia. Não tinha tempo, não tinha me dado conta que a hora tinha passado. Até que

ontem,

Fui tentar os 99%, mas aí o céu encoberto jogou o impossível na minha cara. Vento e tudo gelado. Era hora de se conformar. Era hora da voz no ouvido que diz:

calma!

Sempre ela, assim como hoje. Não via a hora de terminar o dia de trabalho. Vem tudo de uma vez: a pilha de livros, a pilha de músicas, a pilha de fotos, a pilha em mim mesmo. Calma é a senha que faz de repente o tempo ficar devagar, como as nuvens que passavam em torno da Lua que eu não vi. E estando tudo mais lento, as coisas pareciam possíveis. E o que era impossível era só impossível, uma desobrigação, uma pilha, sem energia. Não há nada demais nisso. E hoje ela aparece mais tarde e o que resta então é só a espera no céu, com as mesmas luzes, postes e casas a compor a imagem de hoje.



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