quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Da auto crítica à gratidão

In my waking life, in the waking life
In the painful now, in the painful now
I wish for such a visit in the light of day
The light of the truth
I wish for such a visit, I need to know
In the light of day, I need to know
( Andy Butler, Roberto Gallegos, Answers come in dreams )


Por vezes existem coisas que nos incomodam e não sabemos bem explicar sua razão. Comigo não é diferente e daí percebi que essa semana meu comportamento estava estranho: exagerado e por vezes agressivo. E tem-se aí uma forte manifestação do eu.

Eu que ultimamente tenho evitado paju em redes resolvi criticar um amigo meu. Depois me dei conta que, por mais que do ponto de vista racional, eu estivesse com argumentos racionais a favor, fui de certa maneira agressivo com ele. E ainda essa semana, no twitter, um conhecido resolveu questionar uma postagem minha e lá fui eu dar uma patada arrogante no moço de cara. No momento, por mais que eu soubesse que o importante era justamente me ater as ideias, fui movido mais pelo ego e a necessidade de "sair vencedor". Enfim, uma babaquice.

Aí há duas formas do eu se manifestar. No momento em que fui arrumar cotenda, foi uma maneira de me mostrar "olha como sou maravilhoso e sei das coisas". Nesse momento passo a criticar tudo e a todos a minha volta, eu certo, eles errados. E depois, no momento de auto crítica, o ego tb fica tentado a se punir , de querer se isolar diante de um comportamento percebido como errado. Esses dois comportamentos são duas faces de uma mesma moeda: o impedimento do que vem do outro.

Então, como diz a música: respostas vêm nos sonhos. Essa noite sonhei que estava na praia e de repente era a varanda da minha casa. Meu pai conversava comigo e me avisava que um amigo meu muito querido estava chegando. Ele estava lindo, com um chapéu na cabeça e me avisava sobre o encontro que teríamos com outros amigos no fim de semana. E aí meu celular com várias mensagens de supostos peguetes querendo sexo naquele fim de semana e eu no dilema entre ter que dar atenção pr'os meus amigos ou ir pra gandaia. Até por um momento cogitei pro meu pai fazer sala pra eles, enquanto respondia as mensagens. Então decido que ficarei com eles, conversando, trocando ideias.

Não cabe aqui uma ideia moralista do tipo "sexo é ruim, valorize as amizades". Os dois são ótimo. Porém no contexto do sonho o sexo simbolizava exatamente esse investimento no eu, que por muitas vezes pra se defender é agressivo. E penso que negligenciar (a si e ao outro) é uma forma de violência, negligência essa que aparece nos amigos que chegam e eu querendo sair. A minha decisão ali simboliza uma outra medida, para além das tais duas faces anteriormente mencionadas: se permitir às ideias dos outros e ao mesmo tempo me expor, sem me isolar deles.

Então me lembrei da gratidão. Agradeci às pessoas que de alguma forma tiveram contato comigo esses dias e a agressividade foi percebida, entendida e arrefecida. E me senti bem melhor. Não por um capricho do eu, até porque essa não é uma decisão fácil pra um narcisista, mas por saber que outras formas de se relacionar com si e com os outros também é possível.

Não sou lá fã dessa coisa cirandeira "mais amor por favor", mas bem sei que se bem colocado, ele, junto com tantos outros sentimentos, pode sim trazer mudanças importantes. Ainda que as respostas dele precisem ser decifradas pela interpretação de respostas oníricas.


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