segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Medo de escrever

Sempre gostei de escrever. Há 35 anos faço isso.

De uns tempos pra cá não tenho gostado do que escrevo. Parece que com o tempo parece que meus textos têm dois caminhos: ou parecem muito rasos ou herméticos, sem sentido até para mim. E talvez isso tenha me frustrado. Esse blog é uma prova disso.

Ás vezes me pego pensando, ou como dizia um behaviorista, na fala sem voz comigo mesmo e gosto do que sai. E aí vai pro papel (ou pra tela) e parece que algo ali se perdeu. Ficou resumido demais, palavras poucas demais e, pior, poucas ideias.

Em parte devo isso a uma certa postura que tive de uns tempos pra cá em meio a essa avalanche de ego nas redes sociais. Tenho preferido observar e compartilhar mais bobagens e as minhas fotos (que para mim não são bobagens) e assim ir evitando a fadiga.

Jung -sim, ele mesmo, não o Freud- disse que a psicanálise deveria ser a análise do introvertido. Por ela se basear na fala e na associação livre faz com que ele se pronuncie. E na minha época de análise não foi diferente. Disse à analista que pretendia escrever livros, mas que tinha lido que para escrever  eu precisaria ler mais. Ela discordou e disse que isso não era necessário.

E agora me pego nessa onda rogeriana que diz que quando prestamos atenção ao outro, fazemos uma modificação em nós mesmos. E aí está esse embate: a introversão para evitar a fadiga e poder se permitir ao outro ou expor, falar, ou como diz aquele meme: colocar a cara no sol?

Queria textos estruturados, com boas ideias e principalmente, não tão grandes. E talvez o passo na afirmação de quem sou, sem descartar essa transformação que o outro causa, é justamente poder afirmar isso. E tá aqui o liquidificador. Ele é esse espaço.

E vem o jogo, poder observar, aprender com aquilo que é externo a mim. E a partir desse aprendizado,  o que pode ser dito. Porque posso ficar completamente calado e aí não aprender nada. Fico parecido com um amigo que, diante das discordâncias, diz que prefere ficar calado e é uma pessoa extremamente fechada com grande dificuldade em lidar com emoções que vem dos outros, além de uma cabecinha conservadora pra muita coisa.

Enfim cá estou. Com o texto exposto. Com a cara do Sol. Mas um sol de fim de tarde, trazendo belas cores, mas mostando que aquele momento é efêmero e que logo logo vem a noite para cobrir tudo. Uma bela metáfora da vida que traduzi em muitas fotos minhas e que cá aparece na hora de refletir sobre esse meu medo de escrever.

Que tenha luz, que tenha sombra, que tenha escuridão!

2 comentários:

Garoto no coreto disse...

Bom, em primeiro lugar eu gostaria de dizer que leio seu blog todos os dias, e gosto muito. To dizendo isso pra vc saber que pelo menos aqui em sao jose dos campos tem alguem que te le todos os dias, ou melhor, q entra no seu blog todos os dias pra ver se tem novidade.
Em segundo lugar , cara, uma vez eu li um outro blogueiro falando que escrever um livro é dificil pq é dificil vc dizer algo que nunca ninguem disse, nao to dizendo em relacao a ser um livro diferente, mas o assunto sobre o qual vc fala, entende?. Exemplo: a hora da estrela da clarice falando a respeito da estranheza de uma imigrante num lugar diferente, nunca ninguem tinha falado sobre isso de forma tao diferente. Mas eu acho tb, q a vida a todo minuto tem estranhezas. Ao ler o que vc escreveu por exemplo, eu fiquei imaginando o seu "mundo interior" , o q tava rolando na sua cabeça enquanto vc escrevia. Eu acho q vc nao deveria se preocupar com o fato dos textos estarem ficando hermeticos ou muito simples. Simplesmente deixe fluir o que passa na sua mente. E outra, eu imagino que quanto mais a gente se permite sentir, e reconhece esses sentimentos , mais facil fica por isso no papel.
Ta vendo? fui falando o que veio na cabeça e tb nao sei se ficou claro o que escrevi, rsrsrsrs
Bj pra vc e keep writing!

Robson

Didi disse...

Olá Robson. Em primeiro lugar eu gostaria muito de agradecer o seu comentário. Eu acho que esse blog vive tão às moscas que penso que é raro alguém parar para lê-lo e mais ainda enviar suas impressões a respeito dele. Então fico muito feliz por você ter registrado as suas impressões.

Sobre a liberdade na hora de escrever você está certíssimo. Pensei na Clarice, porque a Macabeia tinha, em princípio, questões que poderiam torná-la caricatural como uma retirante nordestina. No entanto ela traz questões que são de certa forma universais, como o questionamento da própria existência. Clarice, tal como Graciliano em São Bernardo, consegue unir - cada um em seu tempo e contexto - o que há de específico na trama da personagem e ao mesmo tempo universal.

Talvez por trás desse medo do olhar do outro há o medo do nosso próprio olhar que pode enxergar com estranheza aquilo mesmo que escrevemos e dizemos. Isso acontece quando observo algumas fotografias minhas depois de um tempo, releio textos ou ouço minha própria voz num áudio perdido do whatsapp ou telegram.

O negócio é deixar fluir...

Grato mais uma vez por suas palavras motivadoras,

Didi.