segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Bilingual, 20 anos

Um dos meus álbuns favoritos. Bilingual, dos Pet Shop Boys foi lançado há 20 anos, em 2 de setembro de 1996. Até fui dar uma conferida na página oficial deles no facebook, mas não tinha nenhuma informação sobre essa efeméride.

Fiquei pensando que grandes álbuns por vezes tem significado extremamente subjetivo. E pensar em Bilingual é me fazer voltar aos 18 anos e o que as músicas dele têm significado para mim desde então.

Sei que assim que soube eu fui comprá-lo. Achei a capa interessante, pois assim como eles fizeram em Very três anos antes, era possível fazer uma capa criativa em CD, coisa que os defensores dos LPs sempre reclamavam.

Eu tinha alguma coisa para fazer na casa de um amigo, mas não via a hora para chegar em casa e poder ouví-lo. Mas como a irmã dele era fã dos PSB acabamos escutando o álbum lá mesmo e pela primeira vez eu via um encarte com as letras e ali eu ia acompanhando.

Havia duas músicas que eu já conhecia, pois já havia clipes para elas: "Se a vida é" e "Before". A primeira com batuques e sendo uma versão de música gravada pelo Olodum rendeu críticas preconceituosas na imprensa local dizendo que os PSB tinham "dançado na boquinha da garrafa". É aquilo, onde já se viu usar música feita por gente preta da Bahia? Nosso país jurando que não é racista.

E aí eu me lembro que a música que mais me marcou de forma imediata foi "Metamorphosis" e por razões claras. Naquele ano, com 18 anos, foi quando parei para pensar e admitir a minha própria homossexualdade.

Naquela época também me lembro de ir às festas do Maxims no alto da torre do Rio Sul. Já tinha 18 anos e poderia ir aos aniversários das meninas que nem tinham tanto contato comigo assim. Mas aquele ambiente me deixava deslocado de certa forma. E daí ia pro lado de fora, onde havia o fumódromo, creio eu e ficava olhando o Pão-de-Açúcar e o Corcovado e na minha mente vinha "It always comes as a surprise" com sample de Corcovado de Stan Getz e João Gilberto e foi a partir dali que comecei a prestar mais atenção na bossa-nova.

Aliás é um álbum com grande influência latina, até porque eles tinham passado pelo Brasil dois anos antes. E fui no show no antigo Metropolitan em 1994 e isso renderia outro texto. E no fim daquele ano estaríamos dançando Ricky Martin no baile de formatura e depois viria a onda latina. Segundo dados, eles usaram a música latina como reação ao Britpop da época. E daí também a razão do so do nome: Bilingual.

O interessante é que o que me faz gostar deste álbum não é só a relação nostálgica que traz no momento em que ouvi pela primeira vez. É o fato de ouví-lo até hoje e sempre vendo as conexões que ele faz pensar em "Step Aside" nos momentos de crise economica, de vencer a timidez quando penso em "If you see someone gorgeous then you think, Am I in, with a chance, should I try, buy a drink?" de Saturday Night Forever, de quando viajei para outro país e me senti "Single, bilingual" ou ainda ver o leão na Praça Trafalgar e pensar em "Back to Trafalgar one kiss, then I'll go" de Up Against It com a participação maravilhosa do Johnny Maar. Enfim ao longo desses vinte anos esse álbum tem me dito muita coisa.

Um hábito que mantenho desde então é pular "Se a Vida é" - tenho implicância com a direção do Bruce Weber, com rapazes jovens demais, magros demais, numa estética gay muito "asséptica" na qual eu nunca me senti representado ou, ainda que eu não me visse ali, não tinha também nada a me dizer. Mas a música é bonita sim e esses dias tenho escutado todas as músicas sem pular. O mesmo com Electricity, que acho chatinha, apesar da ótima ironia presente na letra.

Enfim, o que eu ouvia em CD (que deve estar guardado em alguma gaveta de casa) agora se faz pelo Spotify. Se eu estiver vivo aos 58 anos, veremos em que midia e que sensações eu terei ainda com essa obra.






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