domingo, 28 de maio de 2017

Internação Compulsória

Vi esse texto no feed do meu Facebook e quem compartilhou me disse que ele merecia ser lido. Li e reli várias vezes, até porque e me chamou a atenção por ser algo relacionado à saúde mental, tema do meu interesse.



Daí resolvi fazer esse texto.


A autora traz a experiência em um atendimento a uma pessoa envolvida com drogadição e como a pessoa tinha vários problemas, incluindo exploração sexual, AIDS , tuberculose e sífilis.A partir dessa experiência ela faz a defesa da internação compulsória, por pensar que é uma forma de salvar vidas para quem está em uma situação grave e, por isso entende como um ato de caridade. Quem é contra a internação, segundo o texto, são pessoas más e que buscam ganhos políticos que tem apoio de uma claque imbecil de esquerda.

É fundamental ouvir tanto as pessoas que passam por essa situação como as pessoas que trabalham com elas para que entendamos a situação não como caso de polícia, mas que tem a ver com saúde pública. Adriana nesse sentido traz a questão para esse campo a partir da sua experiência e pauta a questão no campo da saúde mental e não no policial.

Quem está em uma situação grave como a vivida na cracolândia, de fato, não é algo como "protesto". Existem inúmeras variáveis e uma questão como uso abusivo e dependência química devem ser vistsa por um ângulo mais abrangente, que leve em consideração também  questões sociais e econômicas, dada a situação de vulnerabilidade.

Ela aponta que existem pessoas que defendem a existência da cracolândia. Entre os críticos da internação compulsória não vi quem defendesse essa existência, mas se a autora o viu cabe realmente a crítica. Nenhuma pessoa sã pode dizer que a cracolândia é um lugar legal.

Vejo falhas no texto ao defender a pura internação compulsória sem um viés crítico a ela. Especialmente  vindo de quem atende pacientes com esses problemas. Há pesquisas tanto no Brasil (você pode ler esses texto aqui e aqui,como exemplos)  como eu em outros países que mostram que essa questão é muito controversa, pois não há resultados que afirmem que a internação compulsória é eficaz.  Aliás é bom lembras que existe em alguns países a ideia de internação "semi-compulsória" como substituição a uma pena em casos de crimes de delitos não graves com relação a dependência. Políticas Públicas devem sempre observar esses dados e não apenas relatos de casos pontuais, ainda que eles também tenham sua importância.

Outro erro e apontar que as pessoas que são contrárias à internação o fazem por não conhecer a cracolândia ou por não ter um familiar nessa situação. Essa afirmação é tão falaciosa quanto se eu aqui apontasse que todas as pessoas a favor da internação compulsória são malvadas que querem apenas tirar as pessoas de circulação prendendo-as.

Existindo a internação compulsória não podem ser negligenciadas as questões éticas envolvidas, especialmente no que diz respeito ao poder de decisão das pessoas, entendo que existem casos extremos que esse poder não existe. De qualquer forma para haver o tratamento, que não é apenas a internação em si, mas envolve mais coisas que não são pontuais, é necessário o envolvimento e a participação dos pacientes.

Outras implicações tanto do ponto de vista da saúde e o Direito, através de leis entende isso é a participação e envolvimento das redes que cercas as pessoas com esses problemas. Nesse sentudo cabe ao Estado oferecer condições para isso. No entanto não há esse aprofundamento no texto da autora, que prefere trazer uma visão sociológica do século XIX na qual se pensa uma sociedade em ordem e com pessoas desajustadas a essa ordem, pessoas que são chamadas de farrapos humanos que abrem mão de suas vidas sem fazer uma  crítica necessária sobre de que maneira o nosso modelo de sociedade cria as cracolândias.

Eu gostaria muito que ela, como profissional, relatasse além dos casos, quais as condições de trabalho e do tratamento oferecidos pelos agentes públicos, a forma como as famílias são envolvidas e em que sentido ela e seus colegas tem se mobilizado e cobrado dos governos para que a situação melhore.
Sendo assim, não cabe apenas afirmar que as pessoas contra a internação compulsória fazem uma claque de esquerda demagógica.

O que há é o questionamento necessário de como essa política tem falhas. E por se tratar de política pública de saúde isso deve ser levado em consideração. A pura retirada das pessoas das ruas e jogadas em clínicas. Muitas dessas clínicas, aliás, estão envolvidas no fundamentalismo cristão, que tem ganhado força no Brasil e o que se tem é o favorecimento desses setores ao invés de um tratamento devido Não é a toa que membros da chamada bancada religiosa tem interesse nessa forma de internação.

A partir do momento em que possa se fazer uma discussão mais ampla, a partir de descobertas que os pesquisadores de diversas áreas tem feito e trazido para o tratamento das pessoas envolvidas na dependência do crack (entre outras drogas) pode-se formular políticas que garantam que tanto o paciente tenha bons resultados e que pessoas como a Adriana possam realizar de forma plena e segura o seu trabalho.

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