quinta-feira, 25 de maio de 2017

O alienígena que habita em mim

Esses dias me deparei com duas situações de amigos que me fizeram pensar sobre procastinações e conflitos. Na primeira, um amigo me dizia das investidas que recebia de um cara, mesmo ele estando em relacionamento monogâmico com seu namorado. Na segunda, a pessoa me dizia que estava pra baixo e que se encontra em conflito entre a sua bissexualidade e o fato de querer uma família nos moldes tradicionais.

Não dei palpite, mas pensei: por que essas pessoas não liquidam logo de uma vez? Por que essa necessidade de deixar pra resolver depois, ou de manter esses conflitos ao invés de resolverem logo isso de uma vez. Daí vem a voz do meu pai na minha cabeça com o velho ditado: você já olhou para o próprio rabo?

Pois então, olhei. Pensei na ruma de textos que queria colocar aqui. Nas caminhadas que eu queria fazer. No eu rumo profissional. Nas condições para ir a um encontro em uma cidade próxima. De reduzir a quantidade de comida. De ler mais. Escrever mais.

Existe uma parte de nós que é nossa, mas a enxergamos como algo de Outro. O meu exemplo mais simples está num sonho de uma invasão alienígena - logo, algo externo- e eu muito puto, vou falar com o chefe da invasão que me diz que quem comandou aquilo fui eu mesmo. Obviamente, aquele foi o ponto chave para eu acordar.

Crio então esses ritos: para caminhar, preciso de um dia tal, de uma playlist tão. Olha o trabalho! Pra o rumo profissional tenho medo de encarar as minhas próprias potencialidades por não querer encarar de frente certas coisas. No encontro, eu já tinha visto os horários dos ônibus e se não soubesse, tem como ficar sabendo. Em relação a escrever, ler e reduzir a comida, só começar. Só começar?

O fundamental nesse sentido é admitir que existe essa parte alienada. O alienígena que comanda essa invasão que parece alheia, mas é minha mesmo. Tal como existe o jogo erótico entre aquelas duas pessoas mesmo uma estando em relacionamento monogâmico ou como o aquele que deseja a sua liberdade pra ser quem é, viver de forma plena sua sexualidade mas ainda se prende a certos moldes que parecem mais aceitáveis socialmente.

Aliás, digo que as conversas que aconteceram esses dias com esses dois amigos, mais que me dar um estalo para pensar sobre esses moldes que criamos e nos prendemos, serviu para pensar "oi, o que eu também faço comigo mesmo nesse sentido?"

Até chegar o momento de admitir que há uma escolha sim que pode me fazer mais feliz, ainda que ela implique na quebra de um estado outro que mantém um certo comodismo, que me faz apontar para o chefe da invasão e querer satisfação. Admitir que o enredo, sou eu mesmo que crio. E que sim, ele é possível de contradições, dificuldades e não é algo pronto e linear. E não há nada de errado nisso.

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