quarta-feira, 28 de março de 2007

O PAC na "cidade de cidades misturadas"

Hoje foi dia de ver RJTV e a Leilane com o seu tradicional "boa noite e muita paz" como se pedisse a todos os santos, orixás e espíritos de luz para que nenhuma bala perdida venha da favela pra casa dela.

Ah sim, a tal verba do PAC- Programa de Aceleração do Crescimento- que o Luis Inácio está liberando para o Rio, dizem, será destinada para favelas, incluindo a Rocinha, que avança sobre a Mata Atlântica tão cantada em verso e em prosa. Bacana? Vejamos:

O Rio de Janeiro é uma cidade montada em uma política higienista que começou na virada dos séculos XIX / XX. É sabida as grandes obras do Prefeito Pereira Passos, entre elas a Avenida Central - hoje Rio Branco - e a transformação do Rio em uma "Paris tropical". Sou morador da Glória, bairro que testemunha bem essa fase do Rio.

Também nesta época teve o famoso "bota abaixo" com a remoção dos cortiços do Centro, para livrar "daquela gente suja e que transmitia febre amarela". O momento mais dramático desta parte de nossa história foi a chamada "Revolta da Vacina".

O século ia correndo e a capital federal ia removendo os moradores de vilas operárias, a exemplo do que ocorreu no Jardim Botânico e em Laranjeiras, para áreas mais distantes e criando esse conceito fetichista nosso chamado "Zona Sul".

Nos anos 60 a capital mudou-se para o Planalto Central e o Rio também já não era mais a maior cidade brasileira. Criou-se uma cidade-estado,a Guanabara e o governador Carlos Lacerda promoveu a remoção de algumas favelas - agora já crescidas e mais numerosas- em áreas nobres da cidade, como em Botafogo, Humaitá e Lagoa. As pessoas eram removidas e mandadas para partes distantes da cidade. Foi aí que surgiu a famosa Cidade de Deus, em Jacarepaguá e a menos famosa Vila Aliança, em Bangu, onde já trabalhei.

O plano de Lacerda ainda incluia a criação de linhas expressas, provavelmente para atender ao "povo pobre que estava longe" mas que precisava servir como força de trabalho no Centro e na Zona Sul. Tem-se então, além de obras como o Túnel Rebouças - hoje marco da divisão da cidade entre zona sul e zona norte - o projeto das linhas expressas "coloridas" só prontas 30 anos depois: a Vermelha e a Amarela, tendo esta última uma estranha cobrança de pedágio. Ainda tem-se a inacabada Linha Verde - que alguns dizem ser a auto-estrada Lagoa Barra, outros falam na ligação Gavea-Via Dutra incluindo a avenida Automóvel Clube e o túnel Noel Rosa - e a marrom, que eu nem faço idéia de sua ligação.

Hoje temos o prefeito do "favela bairro" e que acusa migrantes nordestinos- como seus pais- de trazerem a dengue pro Rio de Janeiro. Além disso ao que parece querem pegar as verbas do PAC para construirem prédios na Rocinha, mas ao que parece nenhum morador ou associação foi consultado a respeito e já é alvo de críticas.

A favela avança para a mata e já teve idéias como fazer um muro de contenção das favelas, o mesmo não valendo para as casas grã-finas do Joá que fazem o mesmo. E tenho a sensação que estamos ainda na época do "bota abaixo" e as seringas ao invés de vacinas injetam drogas e dinheiro numa guerra com tiros a esmo, sem escolher em que lado da cidade fará vítimas.

Um comentário:

Adriano Marcato disse...

Nada pessoal contra a Leilane, mas a situação da cidade fez com que o RJ Tv tenha ficado tão deprê quanto o Linha Direta... Podiam botar uma música do Nick Cave ou do Roger Waters na abertura...