quarta-feira, 12 de maio de 2010

Igreja e pedofilia

Pensei no tema desse texto antes das declarações dadas por Bento XVI em Portugal. Muitos críticos ainda podem torcer o nariz, e com o razão, para a falta de postura da Igreja em relação aos padres pedófilos e a grande falácia que muitos fundamentalistas aproveitam para crucificar – sim, o termo é irônico- os homossexuais. De qualquer forma, em se tratando de catolicismo, já é um avanço.

O fato do Papa ter colocado em pauta a necessidade da Justiça julgar os pedófilos e não a Igreja é uma mudança se considerarmos que até os fins do feudalismo – isso sem considerar a Península Ibérica da Contrarreforma- ela era soberana absoluta e não reconhecia poderes locais. Como próprio nome sugere, herança do Império Romano de outrora, ela era “universal”. Precisou Lutero e seus seguidores, para favorecer os poderes nacionais locais, mudar isso no plano político-religioso, mas isso já é outro assunto.

Pedofilia não é privilégio da Igreja. No seu excelente livro sobre os perversos, Elisabeth Roudinesco elenca os 3 perversos na sociedade atual: o transexual, o terrorista e o pedófilo. Esse último representa vários desafios: é um prazer que vem da relação de poder – ai cabe a distinção de Jung que coloca a teoria de Adler como primado do poder, ao contrário de Freud que privilegia o prazer – e vamos ter em mente que estamos em uma sociedade que valoriza a juventude, modelos de 13 anos só que sem a imagem já característica de homens ou mulheres recebendo suas primeiras doses mais fortes de hormônios sexuais, mas uma imagem pálida, esquálida, pré-púbere, praticamente e paradoxalmente dessexualizada. Talvez a imagem de alguém com traços das suas características sexuais secundárias já represente uma ameaça a imagem infantil construída dessa perversão coletiva/consumista em que se soma o desejo de ser (jovem) e ter (consumo, moda). E daí tem se a morte do perverso, outrora um pária da sociedade que em nossa versão do Alienista de Machado de Assis a sociedade como um todo não é lá diferente daquilo que ela considera doente, o que ela rejeita.

E tome escândalo com os padres enquanto por fora tem-se casos de pedofilia com professores, instrutores que lidam com jovens, os famosos estranhos tarados que nossas mães mandam evitar – o caso de Luiziânia ilustra com um perverso desses que nossos pais tanto temiam - representantes de outras religiões e, no caso que a imprensa custa em admitir e que é onde ocorrem a maior parte dos abusos, porque além do poder tem o afeto envolvido, a mais sacralizada das instituições: a família.

Os padres estão corretíssimos ao afirmarem que pedofilia não ocorre dentro somente no âmbito do catolicismo. Todavia, isso não deve ser desculpa para que a Igreja tome as suas providências, já que ela como Instituição deve sim dar satisfações a seus fiéis e ás comunidades que ela atende, seja por coerência com o princípio cristão, seja por respeito às leis seculares, como o próprio Mestre disse “dai a César o que é de César”.

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