sexta-feira, 25 de junho de 2010

Andar Noturno

A lua encontra-se embaçada, não identifico. É meia noite e há algum movimento em certas partes da cidade em que nasci. Quarta-feira, meio de semana sem jogos locais. A Copa do Mundo suprimiu essa parte da rotina.

Depois eu saio dali, com gosto de vodka na boca, atenuado pelo excesso de gelo. Ainda consigo sentir o cheiro daquele perfume misturado a incenso e talvez maconha, sei lá, no fundo aquele outro tem razão ao me chamar de caretão e por isso sou incapaz de reconhecer estas coisas. Não por puritanismo, mas por opção.

As ruas vazias e os sinais piscam no amarelo. Mais adiante um grupo não se dá conta da quarta feira sem jogo e está num botequim escondido, uma espécide de oásis de uma noite surda. E é ali, perto de onde os surdos estudam, da casa de uma festa chatinha de anos atrás e daquelas outas belas, coloridas, que a lua minguante se revela. Um alento para prosseguir a caminhada pela grande reta em que um gato, sorrateiro, pula para o adro da igreja.

Quando penso que a jornada poderia chegar ao fim e finalmente, interromper a caminhada, passa um ônibus de forma rápida. Ele tem um número que conheço, mas de intinerário diferente. Sempre fui orgulhoso de reconhecer certos números, mas a mudança de destino escrita no luminoso interrompeu a minha rapidez em pegá-lo. Ou, talvez, no fundo, aquela caminhada tinha que continuar.

E continua por uma rua pequena quem em seu meio aparece uma outra com muro velho, pichado e deserto. Despertam-me desejos e fetiches, talvez pela segurança de não ter absolutamente ninguém ali. E também há marca de um símbolo antigo, que me lembra meus 4, 5 anos que a empresa mantém até hoje na porta de entrada de seu terreno, mesmo sabendo que hoje ela adota outro logotipo. Essa caminhada sugere algo parecido, velhos conceitos, mas o caminhos novos.

No fim há um homem a enxergar a autoridade com ar libidinoso. Aquele lugar é proprício a esse tipo de coisa, apesar de continuar mesmo disposto a seguir meu caminho de volta com as sensações da vodka, do incenso e do brilho da lua.

Tomo a condução. Vejo que o prédio da minha infância vai tomar um ar novo, diferente do que sempre me acompanhou. E sua reforma é exatamente para ficar como era em 1922. Mais uma vez algo antigo parecerá novo e o que estava ali, firma, mingua, como a lua a esperar um novo ciclo. E estou tão envolvido nessas sensações que sequer me dá vontade de investir o olhar para o que está atrás de mim e é muito interessante.

A última voz que ouço antes de chegar é da travesti pedir ao rapaz que está na minha frente um cigarro, e ele diz que aquele está a varejo.

Nenhum comentário: