sábado, 18 de setembro de 2010

Possibilidades


Estes foram dias de se lembrar dos tempos do colégio de freira. Aqueles livros que eram adotados na aula de religião eram carregados de Teologia da Libertação. Bem, já era final dos anos 80 a as freiras não corriam mais risco de serem presas por serem comunistas. Elas teriam que se ligar em Karol Woltyja que era o chefe delas na época e procurou minar a T.L na América Latina. No entanto, não foi em religião que pensei. Foi no fato de ser um católico com uma visão mais questionadora da Igreja e, de certa forma, aquele período no referido colégio foi bom para isso.

Tinha uma ideia no livro da diferença do homem para as formigas. Tais insetos, por mais laboriosos que fossem e vivessem em sociedade, eram sempre formigas como eram há milênios (não joguei no google há quanto tempo surgiram as primeiras formigas na Terra). O ser humano mudava com o decorrere da história, não era o mesmo. Pitadas de marxismo? Deixei a filosofia de lado e pensei em outras coisas.

Há vezes que optamos --- eu não fujo à regra-- pela lei do menor esforço. Mesmo quando criamos redes complexas para sustentar certos comportamentos e garantir a presença de certos desejos dos quais não queremos abrir mão. Escolher implica renúncia.

O filme Shirley Valentine (1989), dirigido por Lewis Gilbert é uma adaptação de peça homônima inglesa escrita por Willy Russell e estrelada por Pauline Collins, que também fez a personagem título no teatro inglês. No Brasil a peça teve montagens com Renata Sorrah (1991) e Betty Faria (2009) no monólogo.

A ideia do filme e a "lição" que se pode ter dele é simples e direta: dona de casa de meia idade com filhos adultos e criados resolve deixar a casa em que mora e o marido e vai viajar com a melhor amiga para as ilhas gregas. Essa ideia da dona-de-casa-de-saco-cheio-encontra-vida-nova também aparece em outros filmes como "Pão e Tulipas" (2000).

Anos e vidas depois após ter visto o filme da vida de Valentine, o que me mais chama a atenção não é o simples fato dela se encher de tudo e trazer outras possibilidades para sua vida. A situação em que Shirley encontra Costas - seu amante e guia turístico na Grécia- tem tudo a ver com essa lei do menor esforço em nome de certas situações. Um guia, como já mostra o trabalho da personagem.

Neste sentido Shirley Valentine é um filme feminista sem afetações e, ao mesmo tempo, humanista. Ela passa por uma transformação absurda em sua vida, uma transformação que talvez Costas não tenha. Ele será o mesmo de sempre para as turistas estrangeiras de meia-idade a fim de novas aventuras, assim como Shirley, ainda que tenha todo um texto decorado na ponta da língua e crie várias situações românticas.

Essa semana alguém me disse que gostava do ser humano e fazia uma comparação com alguns animais de estimação que, assim como as formigas, repetem os seus comportamentos, já que eles precisam de água, comida, abrigo e atenção de seus donos. Nós temos a possibilidade de mudar. Não importa se somos mulheres, ingleses, casados ou de maia idade. Temos a possibilidade de mudar. Que fique claro. POSSIBILIDADE. Se isso se tornará fato, cabe a nós mesmos decidirmos e fazermos as renúncias cabíveis, já que muitas vezes preferimos a imutabilidade das formigas.


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