Vamos à celeuma. A dita instituição fez um edital e aceitou fazer a exposição da fotógrafa estadunidense que ocorreria a partir de janeiro de 2012. No dia 20 de dezembro ela estaria no Rio para ver os últimos detalhes e fazer fotos na minha querida Cidade Maravilhosa. Terra do samba, do carnaval, dos corpos malhados em sungas e biquínis nas praias. Do carioca manemolente cheio de gingado e descontração receptivo a tudo que vem de fora. Das muscas siliconadas e nuas nos carros alegóricos da Sapucaí e dos machos de pintos a mostra mijando na rua nos blocos de carnaval, apesar do choque de ordem. Terra das popuzudas do funk, atualmente alçadas à categoria de mulheres-fruta.
Dita essa ironia essencialista, o pessoal do Oi Futuro resolveu de última hora dizendo que a exposição não corresponde à missão da organização que é promover educação e cidadania a crianças e adolescentes. E segue se comentários, a partir da própria organizadora, sobre censura à arte e tudo o mais e claro, momento de criticarmos a terra brasilis. A crítica é válida.
No entanto deixo essa tradução minha de um artigo publicado pela própria Goldin em 8 de julho de 2008. Ela comenta sobre essa polêmica em torno de suas obras no jornal britânico "The Independent". A tradução não tá lá essas coisas, mas é o que temos pra hoje:
" Perversão está nos olhos de quem vê. As crianças nascem sem medo da sexualidade ou de seus próprios corpos. Esse medo é imposto a elas. Crianças são seres sensuais, elas se tocam e gostam de serem tocadas. É o adulto que às vezes tira vantagem desta situação.
Isso
não é sobre o que as crianças estão fazendo em uma imagem e não há nada doentio
no que diz respeito a uma criança nua. É tão ridículo que nós tratemos isso
como um problema na sociedade. Esta é uma
das alegrias da vida, o corpo humano.
Meu pequeno sobrinho cresceu na Escócia e quando ele visitasse a
América com seus pais, ele correria pela praia nu e as pessoas ficariam
irritadas. Quanto mais estamos cercados de nudez, mais ela pode ser
desmistificada e mais percebemos que o corpo é belo.
Pornografia
já é outra questão. Eu costumo trabalhar em Times Square e muitas pessoas que
trabalharam em um bar lá foram profissionais do sexo que ganharam dinheiro em
revistas pornográficas. Eu diria que a diferença entre pornografia e arte é
essa (em um primeiro momento), crianças são abusadas para agirem na versão dos
adultos de suas fantasias sexuais. Abuso de crianças está totalmente
relacionado a poder e eu não estou estimulando ninguém a ter relações com
alguém menor de idade.
Mas agora até editores respeitáveis estão com medo de usar esta imagem em um livro do meu trabalho porque eles acham que isso poderia deter a sua distribuição pelos Estados Unidos.
Arte não pode e nem deve ser regulada pelo Estado. Políticos não tem nada a ver com arte ou artistas em qualquer situação exceto caso queiram se tornar colecionadores anônimos."
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