sábado, 19 de novembro de 2011

O prazer que habita em mim ou uma ursa nada carinhosa

Estou numa fase forte de pensar em uma série de coisas sobre a minha própria sexualidade. Sobre como quero e gosto de sentir prazer.

Quando se está na década de vinte, vamos dizer assim,  muita coisa parece novidade e tem-se a impressão de que está pronto para qualquer coisa. Depois dos trinta, como diz aquela piada infame, se está na idade do gavião, em que você olha bem o que vai comer antes. A despeito dessa metáfora machista posso dizer que ela tem muito a ensinar a todos, eu incluído.

Hoje foi mais ou menos assim: aparece uma figura no msn e marca encontro para aquela noite, assim de supetão. Eu naquela coisa de "tenho que ir para não perder a viagem e nem parecer bobo" me arrumei e fui.

Bem, ai chego e encontro a figura. Um cara de 40 anos, aparentando menos, careca, da minha altura,, gordo daquele tipo parrudão, cavanhaque, enfiim, muito bonito e dentro, para os parcos leitores desse blog, daquilo que chamo de "norte de desejo", isto é, fisicamente está "perfeito" para mim.

Trocamos poucas palavras e vamos em direção a um quartinho miúdo e acanhado que ele aluga em um lugar que me parece ter sido uma pousada nos áureos tempos de Araruama no turismo pré-via Lagos e que hoje me parece ser algo como uma pensão. O quarto está uma zona e ele solta o famoso "não repara na bagunça".

Tiramos as roupas pois uma ideia nossa antes era tomarmos um banho juntos. Naquele momento de ansiedade vou passando o sabonete no ursão. Estranhamente ele não me toca e nem me beija. Daí compreende-se bem o sentido mais extremo do termo "passivo": não é aquele que simplesmente quer ser penetrado, é simplesmente o fato de querer ser apenas tocado, sem te tocar.

Fomos percebendo que a coisa não estava andando e disse-lhe que comigo as coisas não funcionavam daquela forma. Me lembrei do Preto Velho que me afirmou que sou de Oxum, que dentre tantas coisas - meus conhecimentos sobre as divindades afro-brasileiras são parcos- representa o prazer. na minha referência intelectual greco-romana.

Nessa relação aconteceu algo que difere do que a maioria de nós pensamos sobre os papéis sexuais. de modo estanque pensamos: homens são os ativos que chegam metem sem perder muito tempo. As mulheres seriam aquelas que recebem, que precisam de carinho, atenção e afeto. Um binarismo ultrapassado, claro, porém existente e nessa noite me dei com ele de forma invertida: um passivo querendo um cara que não beija, de pau grande e duro ali pra chegar direto e meter nele, ainda que no começo ele tenha gostado do carinho durante o banho, apesar da sua visível insegurança ali naquele momento.

Outro dia conversava com amigos sobre pegação por exemplo e como - sem querer fazer papel de santo- minha sexualidade nesse exemplo só funciona basicamente de forma voyerística e não de chegar ali de pau duro e pá, "mandar ver". Esses papos me permitiram olhar mais para mim mesmo e ver como sinto prazer. E assim como eu disse ao urso dessa noite quando ele soltava o famoso e falso "não vamos perder contato, me desculpe acho que estou cansado e não estou bem", eu disse-lhe que cada um sentia prazer da forma que lhe convia e que comigo não era assim. Não quis perder tempo e fazer uma oficina de sexualidade com ele, já estava tarde e ele mesmo devia estar louco para me ver pelas costas assim como eu a ele.

Pensei em outro cara, da faixa etária deste araruamense, com quem tive encontros no Rio. Ele dizia que não gostava da penetração e que durante suas sessões de análise junguiana ele é "como as mulheres", pois precisa de beijos e carinhos. Tudo bem, beijos e carinhos não são exclusividade das mulheres, há homens hetero e homossexuais que gostam disso, assim como há mulheres que gostam de ir "direto ao ponto". Mas entendi o que esse carioca quis me dizer.

Hoje tive que lidar com isso. Na verdade com todo meu eu, meu prazer e ao mesmo tempo reafirmá-lo. A afirmação do seu prazer é mais do que dizer como você sente ou goza. Diz parte importante da famosa pergunta "quem sou eu". Diferente dos 20 anos, em que me sentiria naquela famosa "obrigação" de tudo dar certo, pude perceber com maior maturidade isso e dizer "maluca é essa ursa", que como parafraseou o Jonas, não é nada carinhosa. E a vida segue.

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